segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Um Crédito Para Abel?

Imagem extraída de www.facebook.com/Palmeiras



Abel Ferreira deixou de ser unanimidade do Palmeiras há algum tempo. O treinador realizou o feito inédito de se conquistar a Libertadores e a Copa do Brasil durante a mesma temporada. O português, porém, passou a ser contestado com a fraca campanha no Mundial de Clubes (foi apenas o quarto colocado), as eliminações na temporada 2021 (caiu no Paulista e na Copa do Brasil, além de perder os dois títulos das recopas) e a campanha abaixo do esperado no Brasileirão (está em 2º, oito pontos atrás do líder Atlético Mineiro).

O treinador chegou ao Palmeiras em novembro de 2020 após uma busca desenfreada por um técnico estrangeiro. Os dirigentes palestrinos sondaram comandantes das mais diversas nacionalidades e perfis durante a ocasião até que o português aceitou comandar o Alviverde.

O começo foi muito bom, com Abel conseguindo recuperar jogadores que estavam em baixa no elenco como Raphael Veiga, Scarpa e Rony. O treinador, com pouco menos de seis meses de trabalho, conseguiu acertar o time (apesar de alguns tropeços) e conquistou a Libertadores, repetindo o feito do compatriota Jorge Jesus pelo Flamengo durante o ano anterior.

Abel, porém, ainda é um treinador jovem, com menos experiência e "casca" que o seu compatriota. Isto ficou evidente durante o Mundial de Clubes quando o português foi visto ajoelhado e cabisbaixo enquanto seu time perdia para o Tigres. Ademais, o técnico esbarrou em sua própria falta de criatividade visto que sua equipe foi se tornando previsível e com poucas variações táticas.

Parte dos problemas apresentados, porém, poderiam ser evitados (ou atenuados) com a vinda de reforços. Abel cansou de pedir contratações durante as entrevistas coletivas mas nunca foi atendido e, em dado momento, conformou-se com a situação ao declarar que o "elenco estava bom". É provável que os situacionistas, preocupados com o ano eleitoral no clube, estejam evitando ao máximo fazer novas dívidas para não comprometer o pleito.



Imagem extraída de www.facebook.com/Palmeiras



Reconheço que o Palmeiras faz uma campanha abaixo das expectativas. O elenco está no mesmo patamar que seus concorrentes milionários, Flamengo e Atlético Mineiro. Abel realmente poderia extrair mais do grupo. Ou, então, poderia efetivar mais garotos da base visto que o Verdão vem revelando muitos talentos durante os últimos anos.

Abel, porém, merece crédito por tudo o que fez até aqui. A campanha abaixo das expectativas em 2021 não pode invalidar suas conquistas. Foi muito difícil encontrar um treinador capaz de levar o Palmeiras novamente ao título da Libertadores, algo que não ocorria desde 1999.

O português, como explicado, ainda é jovem e ainda carece de "casca". Ele precisa ter a oportunidade de aprender com os erros e corrigí-los. Canso de explicar que treinadores precisam de estabilidade para desenvolver seus trabalhos. E, sobretudo, necessitam de apoio nos momentos de crise, algo que raramente existe no futebol brasileiro.

Abel, portanto, merece um voto de confiança de seus dirigentes e também de seu torcedor. Ele não é perfeito e comete erros, assim como todo ser humano. O português merece uma nova chance no Palmeiras mesmo que, eventualmente, o time seja eliminado amanhã para o Galo.

O Palmeiras terá oportunidades para disputar novos títulos em todos os anos, mas nem sempre terá bons treinadores à disposição. O Verdão levou anos para encontrar um técnico com a competência necessária para liderar seu elenco milionário até o troféu da Libertadores. Demitir Abel neste momento seria retornar à estaca zero.



Imagem extraída de www.facebook.com/Palmeiras




domingo, 26 de setembro de 2021

Pés Descalços

Vocês não imaginam a cara que eu fiz quando vi calçados como estes expostos
em uma loja (imagem extraída de www.facebook.com/VibramFiveFingers)...



Olá, leitoras e leitores! Voltei a escrever aqui após quase dois meses de ausência. Peço desculpas pelo período sem atualização mas está muito difícil manter a regularidade do blog. Meus projetos estão demandando muita dedicação e estou com pouco tempo para escrever ou acompanhar as partidas de futebol. Tentarei postar mais textos durante esta semana mas não garanto, OK?

Estava me lembrando no dia em que conheci a esposa do meu ex-chefe. Ela é formada em educação física e é docente em uma universidade particular. Isto aconteceu por volta de abril de 2008 e ela havia acabado de voltar de um congresso científico realizado nos Estados Unidos.

Eu estava ajudando a arrumar o laboratório quando ela chegou bastante empolgada com o que havia sido apresentado no evento. Chamou-lhe a atenção um trabalho que demonstrava as vantagens de se praticar exercícios físicos com os pés descalços. Segundo ela, isto diminuiria a incidência de lesões.

Eu fiquei incrédulo com o que eu acabara de ouvir. Não conseguia imaginar um Usain Bolt correndo descalço em uma pista. Ou os nossos jogadores indo a campo sem chuteiras. Tudo aquilo soava estranho demais para mim a despeito de ser algo cientificamente comprovado. E aquele trabalho gerou muitos frutos como vocês verão a seguir.



Imagem extraída de www.facebook.com/VibramFiveFingers



Um ano se passou desde que eu tomei conhecimento daquela pesquisa (que, aliás, nunca me dei ao trabalho de procurar no Pubmed) e fui dar uma volta em um shopping da Zona Sul de São Paulo. Vi em uma vitrine um estranho calçado que mais parecia uma pantufa de silicone com o formato exato de um pé descalço (veja nas ilustrações acima). Imediatamente me lembrei daquela pesquisa que tanto empolgou a esposa do meu ex-chefe. As empresas de material esportivo, baseando-se naquele estudo, trataram de lançar produtos que simulassem/reproduzissem as condições apresentadas pelos cientistas. Nunca observei, contudo, algum atleta de alto nível se utilizar de tais acessórios.

As empresas de material esportivo mais tradicionais (Nike, Adidas, Puma, ...) também haviam se atentado aos resultados daquela pesquisa. Lembro que eu estava acompanhando à Euro 2020 quando o ex-jogador e comentarista Pedrinho chamou a atenção das chuteiras atuais. Segundo o ex-atacante, os calçados atuais são muito mais leves que os de antigamente e conferem mais conforto para os atletas, mas protegem menos contra acidentes como pisões.

As palavras de Pedrinho, novamente, invocaram lembranças daquele trabalho que a esposa do meu ex-chefe mencionou. Mesmo que a ideia de se praticar esportes com os pés descalços não tenha sido aplicada, os resultados daquele estudo influenciaram drasticamente a indústria de calçados como podemos observar.

Jamais poderia imaginar que um estudo que não pertence à minha área de atuação pudesse marcar tanto a minha vida. Pena que nunca conversei com a esposa do meu ex-chefe a respeito tais fatos. Foi divertido e surpreendente ao mesmo tempo! E mais uma demonstração do quanto a ciência é importante mesmo em áreas onde ela, aparentemente, não tenha aplicação.



As chuteiras atuais são muito mais leves do que as dos anos 90 e 2000 por influência
de estudos científicos (imagem extraída de www.facebook.com/adidasfootball).