sábado, 31 de outubro de 2020

Arrependimento?

Rogério Ceni é pretendido pelos dois candidatos à presidência
 do São Paulo (imagem extraída de www.facebook.com/FortalezaEC)



A primeira passagem de Rogério Ceni no banco de reservas do São Paulo esteve longe de ser memorável. O ex-goleiro quis assumir a equipe principal do clube mesmo sem experiência. O início foi bastante festejado com o Tricolor faturando o título de pré-temporada na Florida Cup nos pênaltis diante do Corinthians.

O chamado à realidade, porém, veio já no Campeonato Paulista com o São Paulo sendo goleado logo no primeiro jogo da temporada pelo Audax que, ironicamente, era comandado por Fernando Diniz, atual técnico Tricolor. Vieram as eliminações do Campeonato Paulista, na Copa do Brasil e na Sulamericana. Pesaram a inexperiência de Ceni, o seu estilo de jogo ousado demais (beirava à imprudência em alguns momentos) e a falta de tato com os jogadores (notícias afirmam que o ex-goleiro teria arremessado uma prancheta contra seus atletas após uma derrota).

O São Paulo, paralelamente à temporada, passava por eleições gerais e o treinador foi utilizado como cabo eleitoral por ambas as chapas concorrentes. Os situacionistas liderados por Leco venceram e o presidente "retribuiu" ao ex-goleiro negociando vários atletas titulares. O Tricolor, enfraquecido, despencou na tabela do Brasileirão e Ceni foi demitido sem dó pela diretoria. O técnico não deixou por menos e postou indiretas contra o mandatário nas redes sociais.

Três anos se passaram. Rogério se reergueu no Fortaleza onde já conquistou quatro títulos (dois estaduais, uma Copa do Nordeste e a Série B) além de manter o Leão do Pici vivo na primeira divisão apesar das limitações financeiras e técnicas do clube em relação aos concorrentes. O ex-goleiro é bastante elogiado pelos comentaristas -com exagero- devido ao futebol moderno e ao desempenho de seu time.

O São Paulo, enquanto isso, sofre com o jejum de títulos desde 2012, quando conquistou a Copa Sulamericana. A equipe ainda oscila bastante e parece faltar força mental ou poder de decisão ao time. Já foram realizadas muitas de trocas na diretoria de futebol, no comando técnico e no elenco, mas nada parece surtir efeito para a equipe voltar a brigar por títulos.

Haverá novas eleições no clube e Ceni virou uma espécie de "messias" para as chapas concorrentes. Dirigentes de ambos os grupos políticos abrem as portas para o ex-goleiro e também para Muricy Ramalho. Competência, méritos, identificação com o São Paulo, memória afetiva ou meros escudos. Não importa o argumento. Os cartolas desejam trazer os dois vencedores de volta ao Morumbi.



Rogério é idolatrado no Fortaleza, além de ter o elenco em suas
mãos (imagem extraída de www.facebook.com/FortalezaEC)



Rogério Ceni, justiça seja feita, foi bastante sabotado no São Paulo. Seu trabalho ainda não estava pleno devido à falta de experiência mas os dirigentes prejudicaram a evolução da equipe ao colocar o treinador em meio a uma disputa política para depois desmontar o grupo e jogar toda a culpa no técnico pela má fase.

Cabe, porém, ressaltar que o estilo de Ceni não é muito diferente do atual treinador do São Paulo, Fernando Diniz. O Fortaleza de Rogério joga um futebol intenso, ofensivo e vistoso, mas a defesa paga o preço. Os espaços cedidos para contra-ataques e a saída de bola curta com a zaga ou com o goleiro continuariam com o "Mito". Tecnicamente falando, trocar o comandante mineiro pelo paranaense seria trocar seis por meia dúzia.

A personalidade seria outro problema a ser trabalhado pelo treinador. Ao contrário do maleável Diniz, Ceni ainda bate muito de frente com o elenco. Se por um lado isto poderia tirar os atletas do comodismo, por outro poderia custar o emprego do técnico, algo que aconteceu no Cruzeiro em 2019. Diferente dos anos 90, peitar os jogadores é algo que pode resultar na demissão do técnico. Aliás, o ex-goleiro já viveu o outro lado da história quando Rogério foi acusado por Ney Franco de tê-lo derrubado em 2013.

Há, por fim, o fator "zona de conforto". Ceni tem o Fortaleza a seus pés: ele mantêm o elenco sob controle, é amado pelos torcedores e conta com o respaldo dos dirigentes. Caso aceite retornar ao São Paulo, a pressão por resultados será muito maior e nem mesmo sua história no clube poderia salvá-lo da ira dos fãs em caso de fracassos. Rogério já sentiu isto na pele quando os próprios são-paulinos apoiaram sua demissão em 2017. O ex-goleiro deixou subentendido várias vezes que busca por desafios maiores para 2021 mas sempre agiu de maneira política quando questionado a respeito de um possível retorno ao Morumbi.

Ceni foi, é e sempre será muito bem-vindo ao Morumbi. Nada apaga sua história no São Paulo mas mesmo ele pode não ser o suficiente para recolocar o Tricolor na briga por títulos. Isto só seria possível com tempo e com respaldo, algo que ele não teve durante sua primeira passagem no banco de reservas.

Rogério é um ídolo no São Paulo mas um possível retorno do "Mito" ao Morumbi precisa ser discutido com profissionalismo e racionalidade, e não com fanatismo ou passionalidade.



Imagem extraída de www.facebook.com/FortalezaEC




sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Foco

Abel Ferreira deve ser anunciado a qualquer momento pelo Palmeiras
(imagem extraída de www.facebook.com/PAOKFOOTBALL)



O Palmeiras, após mais de duas semanas sem treinador efetivo, está prestes a anunciar seu desejado técnico estrangeiro, o português Abel Ferreira. Foram dias de sondagens, especulações e frustrações. Diversos nomes foram ventilados no período, todos nascidos fora do Brasil sendo muitos com perfis totalmente diferentes entre si.

Miguel Ángel Ramírez, Ariel Holan, Gabriel Heinze, Guillermo Schelotto, Quique Setién, Sebastián Beccacece e Diego Aguirre foram alguns dos muitos nomes que, segundo jornalistas, estariam em pauta para assumir a vaga de Vanderlei Luxemburgo, demitido no dia 14 de outubro.

Matérias afirmam que dirigentes alviverdes tentaram contato com Ramírez (que está no Independiente Del Valle, do Equador), Ariel Holan (da Universidad Católica, do Chile) e Beccacece (do Racing de Avellaneda, da Argentina). Não houve, contudo, acerto entre o trio de estrangeiros e o Palmeiras pelos mais variados motivos.



O argentino Gabriel Heinze era o sonho de alguns torcedores
palmeirenses (imagem extraída de www.facebook.com/velezsarsfield)



Matérias e dirigentes divergiram em muitos pontos sobre os alvos do Palmeiras mas algo ficou evidente: o Verdão não apresentou algum critério para a escolha de seu próximo treinador. O desejo apenas era um treinador estrangeiro "de grife" e que pudesse alcançar resultados o quanto antes.

O Palmeiras não parece ter considerado os problemas do passado na escolha do treinador. O Verdão teve dois treinadores jovens (Roger Machado e Eduardo Baptista) que não tiveram pulso para lidar com tantos medalhões no grupo. Houve ainda o argentino Ricardo Gareca que já chegou pressionado pelo mau momento do Palestra (que lutava contra o rebaixamento em 2014) e não teve tempo para se adaptar ou obter resultados a curto prazo. Vale ainda citar Cuca, cuja personalidade forte gerou atrito com os líderes do elenco em 2017.

Abel Ferreira é jovem (está com apenas 41 anos), tem personalidade forte e terá pouco tempo para se adaptar ao Brasil. O português já chegará com a responsabilidade de classificar o Verdão para as quartas-de-final da Libertadores e também da Copa do Brasil, além de fazer o time reagir no Brasileirão. E ele já foi avisado pelo compatriota Jesualdo Ferreira a respeito do imediatismo em nosso futebol. Isto não significa que o lusitano fracassará no Palmeiras mas ele reúne características que custaram o emprego de outros treinadores no passado.

Enquanto Abel Ferreira não é oficializado, os torcedores palmeirenses vão se deleitando com o bom trabalho do interino Andrey Lopes, o "Cebola". O treinador fez o Verdão jogar um futebol de encher os olhos (chamado de "Carrossel do Cebola" ou "Cebolismo") e obter a boa marca de três vitórias consecutivas por placares bastante convincentes.

Cebola tem o apoio dos jogadores e já encantou os torcedores. Há até dirigentes que gostariam de efetivar o interino mas a a vinda de Abel já está encaminhada.



O interino Cebola tem a simpatia de jogadores, torcedores e conselheiros
(imagem extraída de www.facebook.com/esporteinterativo)




quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Pia Entre Nós

Imagem extraída de www.facebook.com/CBF



A treinadora da Seleção Brasileira Feminina, Pia Sundhage, virou sensação nas redes sociais durante os últimos meses. Foram postados vídeos com a sueca arriscando algumas músicas em português e também alguns passinhos de samba. Algumas das filmagens, inclusive, foram publicadas pela própria técnica em seus perfis.

Pia, aos 60 anos, já está com a vida resolvida. A técnica já conquistou dezenas de títulos, tanto como jogadora, quanto como treinadora. A sueca, porém, aceitou o desafio de comandar a Seleção Brasileira Feminina após o fracasso de nossas meninas no mundial de 2019.

A presença de Pia em nossa Seleção é repleta de simbolismos afinal a sueca é a primeira estrangeira a comandar as nossas meninas e também a segunda mulher a assumir o cargo -a primeira havia sido Emily Lima que durou apenas dez meses na função.

Já mencionei em vários textos anteriores que estrangeiros quase sempre encontram dificuldades fora de seus países de origem. Da mesma forma que nossos jogadores e treinadores nem sempre conseguem se firmar fora do Brasil, atletas e técnicos vindos de fora também encontram empecilhos quando vêm se aventurar em nossas terras.



Imagem extraída de www.facebook.com/CBF



As atitudes de Pia demonstram o respeito que a sueca tem por nossa cultura e também seu esforço em se inserir em nossa sociedade. Não existe uma lei que obrigue um estrangeiro a aprender o idioma do país onde esteja residindo mas pessoas assim costumam ser mal vistas. Neymar, por exemplo, é frequentemente criticado pelo seu torcedor por não saber falar francês.

O sucesso que Pia vem fazendo nas redes sociais demonstra como os fãs brasileiros apreciam e retribuem às atitudes da treinadora. A sueca se mostra bastante à vontade diante o carinho do público e nos diverte com novos vídeos em suas redes sociais. A técnica até aceitou participar de um programa do canal humorístico Desimpedidos.

A expectativa agora é que Pia consiga repetir o sucesso que teve nos Estados Unidos e na Suécia à frente de nossa Seleção. O Brasil busca os títulos inéditos das Olimpíadas (previstas para serem realizadas em julho de 2021) e da Copa do Mundo (prevista para julho de 2023). A adaptação da treinadora ao nosso país está indo muito bem como ela mesma demonstra nas redes sociais, mas é necessário avaliar se nossas atletas se adaptarão à metodologia da técnica. A paralisação dos esportes devido à pandemia, infelizmente, impediu a realização de jogos que permitiriam a evolução da Seleção Brasileira de Sundhage.

Ainda não sabemos se Pia conseguirá levar a nossa Seleção aos títulos inéditos mas o currículo vitorioso da treinadora já nos traz alguma esperança. E, com a simpatia demonstrada nas redes sociais, não faltará apoio dos torcedores brasileiros.



Imagem extraída de www.facebook.com/CBF



VEJA MAIS:

Pia cantando "Alceu Valencia" (Twitter): twitter.com/PiaSundhage/status/1307740749463773185

Pia dançando ao som de "Raça Negra" (Twitter): twitter.com/PiaSundhage/status/1319986728376074241




quarta-feira, 28 de outubro de 2020

O Dia que a Catalunha Tremeu

Encurralado, Bartomeu renunciou à presidência do Barcelona
(imagem extraída de www.facebook.com/fcbarcelona)



Josep Maria Bartomeu renunciou à presidência do Barcelona ontem à tarde (noite no horário local). O dirigente já vinha sendo bastante criticado por inúmeros problemas apresentados no futebol -contratações mais baseadas em renome do que necessidades técnicas, falta de critério na escolha de treinadores, as frequentes demonstrações de apatia na Champions League, entre outros.

Quando Lionel Messi ameaçou deixar o clube revoltado com os rumos da gestão Bartomeu, houve uma grande comoção na Catalunha. A província, que anseia há anos por independência da Espanha, tem no futebol uma de suas armas políticas e perder o astro argentino seria enfraquecer o movimento. Populares se juntaram aos torcedores blaugranas exigindo a saída do presidente. Até mesmo os governantes locais demonstraram apoio aos protestos.

A situação de Bartomeu tornou-se insustentável quando sócios do clube iniciaram um processo de "moção de censura", ato que poderia destituir o mandatário legalmente. O dirigente já havia antecipado as eleições gerais para março de 2021 (seu mandato iria até julho) visando acalmar a situação mas, sem alternativas, optou pela renúncia.



Com a saída de Bartomeu, Messi pode permanecer no Camp Nou
(imagem extraída de www.facebook.com/fcbarcelona)



A renúncia de Bartomeu deve trazer muitas consequências para o futebol. A começar por Lionel Messi, afinal o argentino sempre deixou evidente que pretendia deixar o Barcelona por desavenças com o mandatário. O contrato do atacante ira até a metade de 2021 mas a saída do cartola pode motivar o jogador a estender seu vínculo.

Algumas das contratações promovidas por Bartomeu, por outro lado, podem perder espaço ou mesmo deixar o clube. O treinador Ronald Koeman, trazido pelo mandatário, pode ser um dos afetados. O holandês é considerado "rígido demais" e o fato dele ter dispensado vários jogadores (Suárez, Vidal, Rakitić, ...) desagradou boa parte da equipe, principalmente Messi. Ademais, a nova diretoria deve contratar um técnico alinhado com seus interesses.

O mandatário cometeu uma série de equívocos que tiverem influência direta no desempenho do futebol nos últimos anos. Bartomeu, no entanto, não contava que suas atitudes atingiriam Messi. E que a possível saída do argentino poderia ser o golpe fatal em sua administração.

A revolta de torcedores uniu em um só protesto a paixão pelo futebol e o nacionalismo. Atingiu até mesmo autoridades catalãs.

Bartomeu, com suas decisões equivocadas, fez muito mais do que prejudicar o Barcelona. Feriu o orgulho catalão e colocou toda uma nação contra ele.

Que os próximos dirigentes tenham noção da real grandeza do Barcelona, aquele que se auto-intitula més que un club ("mais que um clube", em catalão).



Ronald Koeman pode ter sua passagem encurtada no clube com a saída
de Bartomeu (imagem extraída de www.facebook.com/fcbarcelona)



LEIA MAIS:

Globoesporte- "Josep Bartomeu pede renúncia do cargo de presidente do Barcelona: 'Ameaçaram minha família'": globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/futebol-espanhol/noticia/josep-bartomeu-pede-renuncia-do-cargo-de-presidente-do-barcelona.ghtml

Cosme Rímoli- "Messi, fracassos, Neymar. Bartomeu não servia para o Barcelona": esportes.r7.com/prisma/cosme-rimoli/messi-fracassos-neymar-bartomeu-nao-servia-para-o-barcelona-27102020

Canal do VSR (vídeo)- "Bartomeu fora: dá para Messi mudar de ideia?": youtu.be/V6_vvWbBeuo




terça-feira, 27 de outubro de 2020

Teu Passado te Condena

Imagem extraída de www.facebook.com/scinternacional



O Internacional vive um excelente momento. O Colorado divide a liderança com o Flamengo no Brasileirão (fica na frente pelos critérios de desempate) e está vivo nas outras duas competições, a Copa do Brasil e a Libertadores. Tais feitos são ainda mais admiráveis diante das limitações financeiras do clube e do elenco curto. Méritos do treinador Eduardo Coudet e da união do grupo.

Há um ano atrás o Inter vivia uma situação bastante semelhante: praticamente o mesmo elenco curto mantinha-se brigando por uma vaga no G-6 do Brasileirão, estava vivo na Libertadores e também na Copa do Brasil. A pausa para a Copa América, porém, quebrou o ritmo da equipe e as eliminações vieram junto com a queda de rendimento no Campeonato Brasileiro. A falta de opções no banco também cobrou o seu preço na reta final da temporada e o treinador Odair Hellmann acabou demitido -de forma injusta em minha opinião.

Vale também resgatar o ano de 2015, quando o Inter chegou às semifinais da Libertadores mas caiu diante do Tigres, quando times mexicanos ainda participavam da competição. Dias depois, o treinador Diego Aguirre foi dispensado -também injustamente em minha opinião. O capitão D'Alessandro declarou em entrevistas posteriores que a demissão do uruguaio foi um erro durante aquela temporada.

Eduardo Coudet, apesar da boa fase, passou por uma jornada nada tranquila até chegar aqui. O argentino foi pesadamente criticado pelas oscilações da equipe ao longo da temporada e também pelos desempenhos ruins diante do arquirrival Grêmio -o Inter não venceu nenhum Gre-Nal em 2020. Torcedores e comentaristas chegaram a pedir a cabeça do comandante em virtude dos ocorridos.



Imagem extraída de www.facebook.com/scinternacional



O jornalista André Rocha escreveu um texto há algumas semanas explicando o "erro" que o treinador Ramon Menezes cometeu à frente do Vasco. Segundo o articulista, o bom início de Ramon aumentou, e muito, as expectativas com relação ao cruz-maltino. O elenco curto, porém, cobrou seu preço. Não havia muitas opções no banco para criar variações de jogadas e o binômio Benítez-Cano logo se tornou manjado pelos adversários. A decepção devido à queda de rendimento foi tão profunda que causou a demissão do comandante.

O Inter, tanto na temporada de 2015 quanto na de 2019, não tinha tantas ambições com relação a títulos mas o bom momento do time em ambas as ocasiões deixou o torcedor eufórico e criou-se a expectativa de que seria possível conquistar algo mais do que o estadual. As frustrações com Aguirre e Odair, contudo, foram duras chamadas à realidade. A decepção com as eliminações somada à queda de rendimento custaram o emprego dos treinadores.

O Inter, cabe também mencionar, sofre do mesmo mal que o São Paulo, conforme expliquei em texto recente: muitos fãs colorados se acostumaram às grandes conquistas da década passada. A queda de rendimento com relação àquele período não foi bem aceita pelos torcedores "modinhas" e a tolerância com fracassos passou a ser menor.

A decepção nas temporadas de 2015 e 2019 foram grandes mas não justificavam a demissão dos treinadores que entregaram resultados muito acima dos esperados. Os dois técnicos mereciam mais tempo no comando pelo que apresentaram. O Inter agiu como um time desesperado, brigando contra o rebaixamento, e não por títulos, quando apresentou o bilhete azul aos dois comandantes.

O Inter de 2020 não conta com um grupo muito melhor que o da temporada anterior. O elenco permanece curto apesar dos reforços e provavelmente o time terá de priorizar alguma das competições se quiser brigar por algum título. E o calendário está mais apertado do que nunca em virtude dos jogos adiados devido à pandemia obrigando o treinador a poupar ainda mais os jogadores em muitas partidas.

Eduardo Coudet faz um trabalho excelente, digno de aplausos e elogios. Mas o treinador também criou uma armadilha para si próprio ao elevar as expectativas para o seu grupo. E o Inter já demitiu dois técnicos em situações muito semelhantes à do argentino. Que os dirigentes colorados tenham bom senso e não repitam com Coudet a injustiça que cometeram com Aguirre e Odair no caso de um eventual fracasso.



Imagem extraída de www.facebook.com/scinternacional




segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Tem Conserto?

Felipe em ação pelo Atlético de Madrid (imagem extraída de www.facebook.com/AtleticodeMadrid)



O zagueiro Felipe chegou ao Corinthians na metade de 2012, pouco após a conquista da Libertadores. O defensor, em princípio, viria apenas para compor elenco e preencher o espaço deixado por Leandro Castán, negociado com a Roma.

Felipe passou a ganhar chances efetivas com o tempo e chegou à titularidade em 2014 após as saídas de Chicão e Paulo André. O zagueiro, porém, fez uma temporada muito ruim com muitas falhas e demonstrando muita insegurança em campo. A fase do Timão não ajudava, mas o defensor conseguia se destacar negativamente mesmo em um grupo instável e sem confiança.

A sorte do zagueiro, porém, mudou em 2015 com o retorno de Tite. O treinador gaúcho conseguiu melhorar o futebol de Felipe e o defensor retribuiu formando uma grande dupla com Gil. O atleta foi fundamental para a conquista do Brasileirão daquele ano e foi eleito por este blogueiro como um dos melhores de sua posição na época.

As boas atuações de Felipe levaram o zagueiro ao Porto em 2016 onde continuou evoluindo e realizando mais exibições elogiadas, tanto pela crítica quanto pelos torcedores. Hoje o defensor está no Atlético de Madrid vivendo o apogeu de sua carreira, além de receber chances esporádicas de Tite na Seleção Brasileira. Cabe mencionar que o jogador merecia ser convocado para a Copa 2018 mas não consigo entender por que o treinador gaúcho não levou o atleta para a Rússia.



Willian Arão em ação pelo Flamengo (imagem extraída de www.facebook.com/FlamengoOficial)



Willian Arão chegou ao Flamengo em 2016. O volante disputava posição com o colombiano Gustavo Cuéllar na maioria das ocasiões. O cabeça-de-área teve muitas chances em 2018 mas fez uma temporada desastrosa, sendo hostilizado até pelo próprio torcedor enquanto seu concorrente estava bastante valorizado. O São Paulo fez uma proposta pelo meio-campista no começo 2019 mas o então treinador Abel Braga vetou a transferência.

O que deveria ser mais um ano de sofrimento, contudo, acabou se tornando uma temporada repleta de glórias. A chegada do treinador Jorge Jesus permitiu que Arão evoluísse ao ponto de se tornar titular absoluto, ofuscando até mesmo seu concorrente Cuéllar, que deixou a Gávea na metade daquele ano.

Arão teve muitas atuações destacadas ao longo da temporada 2019 fazendo o torcedor se esquecer completamente daquele ano ruim. Os jogadores de ataque estiveram mais em evidência nas vitórias e na conquista dos troféus, mas mídia e fãs reconheceram a evolução do volante que sempre estava lá para realizar o "trabalho sujo" no meio-de-campo quando necessário.



Imagem extraída de www.facebook.com/AtleticodeMadrid



Felipe e Arão foram dois jogadores que chegaram a ser pesadamente criticados pelo próprio torcedor. E motivos não faltaram dadas as suas péssimas atuações no passado.

A evolução da dupla, contudo, demonstrou que talvez valha a pena insistir em jogadores considerados "ruins" ou que estejam atravessando um mau momento. Ademais, fases ruins vêm e vão embora.

Felipe e Arão, cabe mencionar, foram beneficiados com as mudanças de treinadores. Os novos comandantes souberam motivar os jogadores, aproveitar suas características em campo e permitiram que os atletas evoluíssem ao ponto de se tornarem "indispensáveis".

Se o seu jogador não está rendendo, talvez ainda seja possível recuperá-lo. Talvez ele precise de tempo, motivação, mudança no posicionamento, algum estilo de jogo que aproveite melhor suas características, ...

Felipe e Arão estão aí para provar que é possível dar a volta por cima.



Imagem extraída de www.facebook.com/FlamengoOficial




domingo, 25 de outubro de 2020

Unidos pelo Azar

Churrascos em dias de jogos podem terminar com gosto amargo...



Era 2006. Um colega de faculdade iria completar trinta anos de idade. Um amigo nosso preparou um churrasco surpresa para celebrar esta ocasião tão especial. Comemoraríamos em um sábado após a última prova do semestre.

Coincidência ou não, dois jogos válidos pelas quartas-de-final da Copa 2006 seriam realizados no dia do aniversário, incluindo a fatídica partida entre França e Brasil.

Pretendíamos comemorar o aniversário do meu amigo e a classificação do Brasil às semifinais, mas o atacante Thierry Henry colocou água em nosso chope ao anotar o gol que eliminou nossa Seleção. O que era alegria se tornou uma sinfonia de palavrões e insultos direcionadas ao escrete canarinho.

Eu estava me divertindo muito naquele momento, mas tenho de admitir que o gol de Henry deixou o gosto da cerveja um pouco mais amargo. Havia um certo clima de velório, típico quando o Brasil é obrigado a voltar para casa mais cedo.



Quatro anos depois, um novo aniversário. E, dessa vez, Sneijder molhou meu chope!



Passaram-se quatro anos e um outro colega de classe me chamou para um aniversário, desta vez em um bar na Vila Madalena. Novamente, a data coincidiu com o dia de um jogo do Brasil, também válido pelas quartas-de-final. Como a festa seria realizada apenas à noite e, fui assistir à partida pela manhã com alguns amigos do laboratório onde eu trabalhava.

Wesley Sneijder tratou de amargar meu clima festivo desta vez. O genial meia holandês fez dois gols em lances de bola parada e eliminou o Brasil naquela sexta-feira de inverno. Eu não estava abalado com o resultado mas sentia novamente aquele clima fúnebre nas ruas em decorrência pela queda na África do Sul.

Encontrei meus amigos de faculdade pela noite. O colega que havia completado 30 anos em 2006 também estava lá -ele faz aniversário no mesmo dia que o anfitrião- e fiz questão de chamar os dois aniversariantes de "pés-frios". Em tom de brincadeira, pedi para que nunca mais agendassem suas festas em dias de jogo do Brasil.

Os meus dois amigos, coincidência ou não, nunca mais agendaram nenhuma comemoração em dias de jogos envolvendo a Seleção Brasileira. Nunca mais as festas de aniversário, quando houveram, coincidiram com as datas das partidas.

Às vezes eu fico pensando se o que eu falei para eles naquele dia pesou em suas respectivas decisões...



Festas de aniversário em dias de jogos do Brasil me renderam más lembranças...




sábado, 24 de outubro de 2020

A Rota das Américas

 

Imagem extraída de www.facebook.com/CopaLibertadores



A CONMEBOL realizou ontem os sorteios que definiram os confrontos válidos para as oitavas-de-final da Libertadores e também para a fase de 16-avos da Sulamericana.

As equipes brasileiras, de modo geral, pegaram pedreiras e terão de se esforçar para avançar à próxima fase. Nossos times precisarão não apenas jogar bem mas também necessitarão de muito preparo psicológico para lidar com a pressão pelo resultado e também para não se perderem diante de eventuais provocações adversárias.

Os jogos, em princípio, não terão público em decorrência da pandemia de COVID-19. A vantagem de se atuar em casa, portanto, não será tão grande devido a ausência da torcida mas ela ainda será significativa para as equipes que se valem da altitude andina.

Faremos, como sempre, uma análise dos confrontos. Os times à direita mandarão o jogo de volta em casa e os meus palpites estão marcados em negrito no texto.



Imagem extraída de www.facebook.com/CopaLibertadores



GUARANÍ (Paraguai) X GRÊMIO (Brasil): o Grêmio deve passar por ter um elenco melhor mas é preciso ter cuidado afinal o Guaraní é uma equipe bastante aguerrida e o Imortal vem oscilando muito.

LDU (Equador) X SANTOS (Brasil): o Santos deve passar mas deve sofrer um bocado na altitude andina, agravado pelo elenco curto. Acredito que o vencedor será conhecido através dos pênaltis.

RACING (Argentina) X FLAMENGO (Brasil): o Flamengo deve avançar mas o Racing, atual campeão argentino, é páreo duríssimo devido ao seu ótimo elenco e ao bom treinador Sebastián Beccacece.

INTERNACIONAL (Brasil) X BOCA JUNIOR (Argentina): o Boca não tem mais a mesma força do passado mas os Xeneizes ainda contam com um elenco melhor que o do irregular Internacional e devem avançar em virtude disto.

INDEPENDIENTE DEL VALLE (Equador) X NACIONAL (Uruguai): o bom time do Independiente, ajudado pela altitude andina, deve triunfar diante do aguerrido Nacional.

ATHLETICO (Brasil) X RIVER PLATE (Argentina): o River, com melhor elenco e passando por um melhor momento, não deve ter dificuldades para se impor diante de um Athletico em crise.

LIBERTAD (Paraguai) X JORGE WILSTERMANN (Bolívia): a altitude na partida de volta deve favorecer o Jorge Wilstermann diante dos paraguaios.

DELFÍN (Equador) X PALMEIRAS (Brasil): o Palmeiras até deve sofrer um pouco na altitude equatoriana mas deve avançar sem problemas diante do fraco Delfín.



Imagem extraída de www.facebook.com/copasudamericana



FÉNIX (Uruguai) X HUACHIPATO (Chile): o Huachipato, em bom momento e com ritmo de jogo, deve levar a melhor sobre o Fénix que não tem jogado devido a paralisação do campeonato uruguaio.

INDEPENDIENTE (Argentina) X ATLÉTICO TUCUMÁN (Argentina): a tradição e o melhor desempenho recente do Independiente deve fazer a diferença neste confronto.

AUDAX ITALIANO (Chile) X BOLÍVAR (Bolívia): a altitude de La Paz no confronto de volta deve ser o grande diferencial para o Bolívar.

LANÚS (Argentina) X SÃO PAULO (Brasil): embora o São Paulo possua um melhor elenco que os argentinos, ainda falta força mental ao Tricolor e isto deve favorecer o Lanús.

ATLÉTICO NACIONAL (Colômbia) X RIVER PLATE (Uruguai): embora o Atlético não tenha a mesma força de 2016, os colombianos ainda têm mais time que o River. E a altitude andina deve ajudar a abrir boa vantagem no jogo de ida.

SOL DE AMERICA (Paraguai) X UNIVERSIDAD CATÓLICA (Chile): a Universidad Católica deve levar a melhor no confronto por contar com um elenco superior em relação ao Sol.

VÉLEZ (Argentina) X PEÑAROL (Uruguai): este duelo deve ser bastante equilibrado mas o Vélez conta com o elenco um pouco melhor que o Peñarol.

MILLONARIOS (Colômbia) X DEPORTIVO CALI (Colômbia): o Deportivo Cali atravessa um momento melhor que o Millonarios e isto deve fazer a diferença neste confronto entre colombianos.

MELGAR (Peru) X BAHIA (Brasil): o Melgar voltou a atuar a pouco tempo devido a paralisação do campeonato peruano, mas deve levar a melhor diante de um Bahia em crise.

UNIÓN (Argentina) X EMELEC (Equador): os argentinos possuem um bom elenco, mas o Emelec deve levar a melhor beneficiado pela altitude na partida de volta.

SPORTIVO LUQUEÑO (Paraguai) X DENFENCIA Y JUSTICIA (Argentina): com melhor desempenho recente, o Defensa y Justicia deve avançar sem problemas diante do Luqueño.

VASCO (Brasil) X CARACAS (Venezuela): o Vasco possui um elenco melhor que os venezuelanos, mas a instabilidade do Cruzmaltino deve favorecer o Caracas.

PLAZA COLONIA (Uruguai) X JUNIOR (Colômbia): com mais tradição na competição, um elenco melhor e beneficiado pela altitude, o Junior Barranquilla deve triunfar sobre o Plaza Colonia.

UNIÓN LA CALERA (Chile) X TOLIMA (Colômbia): este confronto deve ser equilibrado, mas a altitude na partida de volta deve favorecer o Tolima.

COQUIMBO UNIDO (Chile) X ESTUDIANTES DE MÉRIDA (Venezuela): o Coquimbo Unido deve avançar diante do Estudiantes.

SPORT HUANCAYO (Peru) X LIVERPOOL (Uruguai): o Liverpool deve triunfar diante dos peruanos.



Imagem extraída de www.facebook.com/copasudamericana




sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Do Vinho para a Água

A Itália de Cesare Prandelli atacava trocando passes, o que ficou conhecido
como "Tiki-Itália" (imagem extraída de www.facebook.com/FIGC



O futebol italiano quase sempre se notabilizou pelo estilo defensivo. Não a toa, muitas das grandes lendas nascidas país são defensores ou goleiros, como Cannavaro, Maldini, Baresi, Buffon, Pagliuca, Zoff, ...

Muitos dos treinadores mais notórios, da mesma forma, são defensivistas. Foram técnicos italianos que conceituaram estratégias como o catenaccio e o "ônibus", ambas com ênfase na defesa e na eficiência.

O futebol defensivo sempre foi alvo de muitas críticas. Eu mesmo considerava "vulgar" o estilo de jogo adotado por treinadores como Roberto Di Matteo, que superou equipes ofensivas como o Barcelona de Pep Guardiola e o Bayern de Jupp Heynckes com estratégias focadas em anular as jogadas rivais e vencer com o mínimo de posse de bola. Hoje, contudo, enxergo o esporte de outras maneiras e até exalto técnicos considerados "retranqueiros".

Alguns treinadores italianos, porém, passaram a se notabilizar por estratégias mais ousadas em tempos recentes, adotando táticas mais ofensivas e correndo mais riscos em campo, bem diferente da maioria de seus compatriotas.

Cesare Prandelli e Antonio Conte ganharam notoriedade no início desta década. Prandelli na Seleção Italiana e Conte na Juventus mantiveram a solidez defensiva que consagrou o futebol no país. Suas equipes, no entanto, gostavam de ficar com a bola, trocavam passes e até propunham o jogo. Talvez tenham sido influenciados pelo Barcelona de Guardiola ou a Espanha de Aragonés e Del Bosque. A semelhança com o estilo espanhol rendeu o apelido de "Tiki Itália" à estratégia adotada pelos dois treinadores italianos.

Conte, com o seu estilo, conseguiu tirar a Juventus da crise desencadeada após o rebaixamento em 2006. A Vecchia Signora conquistou o tricampeonato da Serie A (2012, 2013 e 2014) além de acabar com a hegemonia dos rivais Milan e Internazionale.

Prandelli não conquistou títulos, mas sua Itália realizou boas exibições na Euro 2012 (foi vice-campeão) e na Copa das Confederações 2013 (terminou em terceiro lugar). A passagem do treinador pela Azzurra, porém, terminou de forma melancólica com  os italianos sendo eliminados da Copa 2014 ainda na fase de grupos.



Maurizio Sarri encantou a Itália e o mundo com seu futebol
vertical (imagem extraída de www.facebook.com/SSCNapoli)



A segunda metade da década consagraria treinadores italianos ainda mais ousados, com equipes velozes, ofensivas e dinâmicas. E adotando conceitos modernos no futebol como compactação, intensidade, pressão na saída de bola, recomposição e tudo mais.

Maurizio Sarri chegou ao Napoli em 2015 e sua passagem pelo clube partenopeo foi um verdadeiro marco para o time mesmo sem títulos. O treinador encantou o mundo com sua equipe vertical, ofensiva e intensa. O grupo esteve muito perto de acabar com a hegemonia da Juventus na Serie A em pelo menos duas ocasiões, durante a temporada 2015-16 e a 2017-18. Os recursos da Vecchia Signora, porém, foram demais até para os ousados napolitanos.

Gian Piero Gasperini ganhou notoriedade quando sua modesta Atalanta terminou a temporada 2018-19 na terceira colocação, classificando a Dea para a Champions League pela primeira vez em sua história. Seu estilo parece bastante influenciado pelo futebol holandês, com jogadores capazes de desempenhar mais de uma função em campo, dinamismo, trocas de posição constantes entre os atletas, posse de bola e recomposição.

Não sou mais um defensor ferrenho do futebol-arte, mas foi um verdadeiro deleite acompanhar o Napoli de Sarri e a Atalanta de Gasperini. Ambas as equipes tiveram atuações de encher os olhos e provaram que o jogo artístico ainda tem espaço nos dias de hoje, mesmo com o esporte priorizando cada vez mais os aspectos físicos e em um país onde o defensivismo é tradição.

O futebol italiano se notabilizou pelo seu defensivismo mas treinadores como Conte, Prandelli, Sarri e Gasperini conseguiram romper com as tradições esportivas do país, proporcionando equipes ofensivas, agradáveis de se assistir e capazes de lutar pelos troféus.



Gian Piero Gasperini, com seu futebol "cruyffista", permitiu que a Atalanta sonhasse
com voos mais altos (imagem extraída de www.facebook.com/atalantabc)




quinta-feira, 22 de outubro de 2020

2004

Imagem extraída de www.facebook.com/saopaulofc



Conheci o São Paulo em 1991, justamente durante sua era de ouro. Não acompanhava futebol naquela época, mas lembro o quanto a imprensa elogiava o clube que conquistou muitos troféus, praticava um jogo de encher os olhos (até o mestre Johan Cruyff demonstrava admiração) e era "exemplo de gestão", algo que quase toda a mídia, exageradamente, escreve quando as equipes estão em boa fase.

Lembro que, durante a segunda metade daquela década, o São Paulo passou a frequentar muito mais a parte de baixo da tabela do que a de cima. Ainda não compreendia como funcionava o futebol e não entendia, portanto, como aquele clube que foi bicampeão da Libertadores e do Mundial de Clubes (Copa Intercontinental, na época) passou a brigar contra o rebaixamento.

Consigo compreender, com base no que vivi durante a minha infância, a intolerância de tantos torcedores do São Paulo contra o próprio time. Muitos desses fãs certamente começaram a acompanhar a equipe em meados de 2005 quando a equipe conquistou o tricampeonato da Libertadores e do Mundial de Clubes. Aquela geração construiu, ainda, uma hegemonia no Campeonato Brasileiro com três títulos consecutivos.

Os títulos, por mais que muitos neguem, ajudam os clubes a conquistar a simpatia de novos torcedores. Equipes que faturam muitos troféus tornam-se o "time da moda", afinal ficam em mais evidência e ganham mais espaço na mídia. Muitos destes novos fãs, contudo, passam a acreditar que vencer é a "rotina" de uma equipe e acabam se decepcionando profundamente quando a boa fase termina. E alguns terminam por extravasar essa decepção de forma violenta.



Imagem extraída de www.facebook.com/saopaulofc



Passei a acompanhar futebol "de verdade" a partir de 2004. O São Paulo, naquela época, não vivia exatamente uma boa fase. A equipe não brigava por títulos, oscilava em campo e sofria algumas derrotas ou eliminações dolorosas, como aquela diante do Once Caldas durante a Libertadores daquele ano. Por outro lado, o Tricolor possuía consistência e conseguia se manter entre os quatro primeiros do Brasileirão, algo que eu e a mídia costumamos chamar de "regularidade".

Vejo o cenário atual um pouco parecido com o de 2004. O São Paulo ainda não demonstra poder de decisão para brigar pelos troféus e ainda oscila em campo, mas tem conseguido se manter entre os primeiros colocados ou próximo a eles. E ainda tem contado com a sorte, afinal o Tricolor não perdeu posições na tabela a despeito de não ter jogado no último final de semana.

Muitos torcedores do São Paulo, porém, tornaram-se mais radicais e agressivos se comparado há dez anos atrás. As cobranças tornaram-se mais violentas e há menos compreensão com o momento do clube. Vencer tornou-se "obrigação", o apego ao passado tornou-se exagerado e são constantes as invocações de figuras que estavam em evidência naquela época -Rogério Ceni, Muricy Ramalho, Marco Aurélio Cunha e até o finado Juvenal Juvêncio.

O São Paulo para retornar às glórias em 2005, porém, precisou enfrentar o inferno da instabilidade após o término da era Telê Santana. Foram anos sem troféus relevantes e até lutas contra o rebaixamento, algo muito semelhante com o que está ocorrendo com o clube neste momento.

Há o direito de protestar e se demonstrar insatisfação, mas é preciso compreender que formar um time vencedor leva tempo e há um processo por trás disso. Ademais, como disse meu amigo Dudu, o futebol é feito de ciclos, em um dado momento a fórmula se esgota e a renovação nem sempre ocorre de maneira tranquila.

O São Paulo está devendo muito em todos os sentidos, mas é importante considerar que entre 1993 e 2005 o clube enfrentou uma situação muito semelhante ao dos dias de hoje. O time instável e "sem raça" dos dias de hoje pode ser o campeão de amanhã.



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quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Instabilidade

Imagem extraída de www.facebook.com/independientedelvalle



Acabou o sonho do palmeirense de contar com o treinador Miguel Ángel Ramírez. O espanhol aceitaria assumir o Verdão apenas após o término da temporada no Equador. Dirigentes palestrinos desejavam contratar o técnico para início imediato mas pesou a lealdade do comandante ao Independiente Del Valle.

Ramírez, segundo jornalistas, receberia um salário muito maior no Palmeiras e ainda teria direito a contratações -o lateral Ángelo Preciado e o meia Moisés Caicedo, ambos do próprio Independiente, seriam algumas das indicações. O espanhol, contudo, sempre demonstrou pouca vontade de deixar o Equador. Uma matéria publicada na ESPN explicava que o técnico aprecia trabalhar em clubes onde há estabilidade no cargo, algo que ele sempre desfrutou na altitude de Sangolquí.

O futebol brasileiro está longe de oferecer a estabilidade desejada por Ramírez. Treinadores são demitidos com apenas três ou quatro jogos disputados ao menor sinal de crise. Mesmo clubes considerados "grandes" trocam de técnico como se estivessem trocando de roupa.



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A negativa de Ramírez nos faz refletir a respeito de algumas das mazelas enraizadas na cultura de nosso futebol. A própria falta de estabilidade dos treinadores é um mal em nossos times mas é algo tão rotineiro que não nos causa indignação alguma. A lealdade do técnico ao Independiente também nos mostra que é preciso enxergar mais do que os lucros ao fechar algum negócio -eu sempre deixo claro que, profissionalmente, não é errado mudar de clube em nome do dinheiro mas é preciso considerar outros aspectos além dos financeiros nas tomadas de decisões.

O espanhol, se aceitasse a proposta do Palmeiras (ou de qualquer outro clube brasileiro), trocaria a estabilidade no Independiente Del Valle pela pressão por resultados imediatos e a falta de planejamento típica de nossas instituições. Uma eventual eliminação ou uma sequência de derrotas certamente custaria a cabeça do técnico.

O futebol brasileiro não irá mudar a curto prazo até porque não há interesse da maior parte dos envolvidos mas a atitude de Ramírez demonstra que precisamos repensar a respeito de nossa cultura futebolística.

Gostaria, para finalizar, de citar uma frase escrita pelo jornalista Leonardo Miranda em seu Twitter e que resume bem a atitude de Ramírez diante de nosso caótico e aleatório futebol:

"A falta de um plano esportivo sério começa a cobrar seu preço".



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terça-feira, 20 de outubro de 2020

Começa a Champions League 2020-21

Imagem extraída de www.facebook.com/ChampionsLeague



Terá início hoje a edição 2020-21 da UEFA Champions League. Os 32 times duelarão em busca da cobiçada "orelhuda".

Esta edição iniciou-se tardiamente em virtude da paralisação do futebol durante a última temporada. As partidas, em princípio, ainda não terão público (está em discussão a possibilidade do retorno dos torcedores aos estádios) e os protocolos de higiene contra a COVID-19 ainda serão adotados.

A final desta edição será realizada em Istambul, Turquia. A cidade turca, cabe mencionar, receberia a decisão da temporada anterior mas a partida foi realocada para Lisboa, Portugal em virtude da COVID-19.

Faremos, como sempre, a análise dos oito grupos e daremos nossos palpites para saber quem avança ao mata-mata. Vale lembrar que os dois primeiros colocados de cada chave seguem para as oitavas-de-final da Champions, os terceiros colocados são realocados para a Europa League e os lanternas são eliminados.

Será que o seu time preferido avança? Confira!



GRUPO A:



Imagem extraída de www.facebook.com/ChampionsLeague



O atual campeão, Bayern, caiu em uma chave relativamente tranquila tendo apenas o emergente Atlético de Madrid como ameaça. Alemães e espanhóis, com melhores elencos, devem disputar as duas primeiras colocações com vantagem para os bávaros. Red Bull e Lokomotiv correm por fora e devem se contentar com a vaga para a Europa League.

Palpites:

1°- Bayern

2°- Atlético

3°- Red Bull

4°- Lokomotiv



GRUPO B: 



Imagem extraída de www.facebook.com/ChampionsLeague



O Real Madrid é disparado a equipe mais forte desta chave e deve terminar na liderança tranquilamente. A Internazionale, que busca retomar seus dias de glória, ainda não tem a mesma força das décadas anteriores mas é mais forte que o Shakhtar ou o Mönchengladbach. Ucranianos e alemães devem se contentar com a Europa League com vantagem para o time do Leste Europeu.

Palpites:

1°- Real

2°- Internazionale

3°- Shakhtar

4°- Mönchengladbach



GRUPO C:



Imagem extraída de www.facebook.com/ChampionsLeague



O caminho está aberto para o City, visto que o elenco dos ingleses é muito superior ao do Porto, Marseille ou Olympiacos. Portugueses e franceses devem disputar a segunda vaga enquanto os gregos devem vir apenas a passeio.

Palpites:

1°- City

2°- Porto

3°- Marseille

4°- Olympiacos



GRUPO D:



Imagem extraída de www.facebook.com/ChampionsLeague



Para quem gosta de futebol bonito, este grupo vai ser um prato cheio com três equipes ofensivas: Liverpool, Ajax e Atalanta. Os ingleses são francos favoritos aqui, seguidos por italianos e holandeses. Os dinamarqueses do Midtjylland são o azarões da chave.

Palpites:

1°- Liverpool

2°- Atalanta

3°- Ajax

4°- Midtjylland



GRUPO E:



Imagem extraída de www.facebook.com/ChampionsLeague



O Chelsea deve avançar em primeiro sem grandes problemas por contar com um elenco mais forte e robusto que os rivais. O Sevilla deve ficar em segundo, o Rennes deve ir a Europa League e, por fim, o Krasnodar deve vir a passeio.

Palpites:

1°- Chelsea

2°- Sevilla

3°- Rennes

4°- Krasnodar



GRUPO F:



Imagem extraída de www.facebook.com/ChampionsLeague



Este possivelmente é o grupo mais equilibrado da Champions visto que qualquer um dos quatro times tem chances reais de avançar. O Borussia Dortmund tem o elenco melhor e, em virtude disto, tem mais chances de terminar na liderança. Lazio e Zenit devem disputar a segunda vaga e o Brugge é o menos provável a conquistar alguma vaga.

Palpites:

1°- Dortmund

2°- Lazio

3°- Zenit

4°- Brugge



GRUPO G:



Imagem extraída de www.facebook.com/ChampionsLeague



Que tal um duelo entre Messi e Ronaldo logo na fase de grupos? O embate entre os dois "rivais", infelizmente, deverá ser adiado em virtude do português testar positivo para COVID-19. Ainda assim, a Juventus deve ficar com a liderança por contar com uma base já estabelecida e estar em melhor momento. O Barcelona, em crise e passando por um período de reconstrução, deve oscilar neste início de competição mas deve avançar em segundo. O Dinamo Kyiv deve ir à Europa League e o Ferencváros deve vir a passeio.

Palpites:

1°- Juventus

2°- Barcelona

3°- Dinamo Kyiv

4°- Ferencváros



GRUPO H:



Imagem extraída de www.facebook.com/ChampionsLeague



Três equipes -PSG, United e Red Bull- têm chances reais de avançar, mas franceses e ingleses contam com elencos melhores que os alemães e saem com vantagem na disputa. O Başakşehir é o azarão do grupo.

Palpites:

1°- PSG

2°- United

3°- Red Bull

4°- Başakşehir




segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Tenha Ciência




Os times precisam lidar com os problemas físicos de seus jogadores a cada temporada. Lesões, cansaço, fraturas e tantos outros. Aqui na América do Sul também são recorrentes os problemas relacionados à altitude quando nossas equipes precisam jogar em países como Colômbia, Peru, Bolívia e Equador.

Boa parte desses problemas poderiam ser amenizados ou mesmo evitados investindo-se em pesquisas científicas. Métodos de preparação física, nutrição/suplementação, prevenção e recuperação podem ser desenvolvidos e aperfeiçoados em laboratórios, hospitais e/ou universidades.

Conversei com um amigo em 2015 e soube que clubes como o Liverpool e o Lille firmam parcerias com universidades ou hospitais e realizam pesquisas científicas em conjunto. Não consegui informações suficientes para comprovar os retornos de tais investimentos, mas assistindo aos jogos dos Reds, pude notar o quanto seus jogadores conseguem manter a intensidade em campo durante os noventa minutos sem se cansarem. Certamente a instituição desenvolveu algum método de preparação física que permitisse aos seus atletas suportar toda a carga exigida pelo estilo de Jürgen Klopp. 

Outro exemplo prático foi explicado por um outro amigo, um fisioterapeuta, durante o ano de 2013. O colega, na ocasião, me contou que um atleta demorava cerca de um ano para se recuperar de uma ruptura do ligamento cruzado anterior, lesão semelhante à sofrida pelo zagueiro Virgil van Dijk. O companheiro demonstrou que pesquisas científicas aprimoraram os tratamentos para tal lesão e jogadores hoje levam cerca de seis meses para voltarem a campo, metade do tempo estimado de outrora.






O investimento em pesquisas científicas, porém, possui três desvantagens que nós brasileiros não costumamos tolerar: os custos são elevados (são necessários infra-estrutura, mão-de-obra qualificada, equipamentos caros e insumos muitas vezes importados), é necessário tempo e os resultados de todo este esforço nem sempre são os esperados. Podemos utilizar como exemplo o desenvolvimento de uma vacina para o coronavírus que está esbarrando justamente neste tipo de situação.

Nossos clubes, que agem muito mais pela pressa do que pelo raciocínio, dificilmente aplicariam recursos em algo tão dispendioso, demorado e sem garantia de retorno. Seria mais fácil importar os métodos prontos no exterior ao invés de se buscar a inovação por conta própria. Ademais, a própria situação deficitária de nosso futebol dificulta os investimentos em pesquisas científicas.

Um olhar a longo prazo, porém, elucida as vantagens de se correr tais riscos. Quando um clube tem em mãos algo inovador, tal instituição obtêm vantagens com relação aos concorrentes. E qualquer vantagem sempre é um diferencial em um meio competitivo como o esporte. No caso de pesquisas, há a possibilidade se se patentear e obter a exclusividade sobre um método, tornando-o inacessível aos rivais. Ou então, pode-se explorar comercialmente a metodologia possibilitando retorno financeiro.

As pesquisas científicas, certamente, são mais um diferencial dos clubes europeus em relação aos nossos.  Se o Liverpool de Jürgen Klopp consegue atuar noventa minutos ou mais em alta intensidade e sem se cansar, certamente há algum método inovador de preparação física por trás disto, devidamente desenvolvido e aprimorado por cientistas.







domingo, 18 de outubro de 2020

Du

Du foi integrante da Farmatuque, a bateria da Farmácia



Conheci Du em 2006 através da Farmatuque, a bateria da Faculdade de Ciências Farmacêuticas. "Du", aliás, era um de seus muitos apelidos. Ele também era conhecido como "Chang", "Korea", "Change" e tantos outros em virtude de sua descendência sul-coreana.

Não éramos exatamente amigos próximos, mas sempre conversávamos muito quando nos encontrávamos. E o repertório de assuntos de Du era muito vasto. Futebol, política, videogames, ... Não havia tema que ele não dominasse. Lembro que um dia falávamos a respeito do Bom Retiro, bairro tecelão da cidade de São Paulo, quando ele emendou: "lá tem um monte de coreano"! E caímos na risada.

Os encontros com Du eram relativamente frequentes. Tínhamos muitos amigos em comum e eu quase sempre o via em churrascos, aniversários ou confraternizações. Mesmo depois que deixei a faculdade, ainda mantivemos contato.

Du também fez parte do time de rúgbi da farmácia, algo que eu soube apenas depois que eu me formei. Como nunca fiz questão de me envolver com atividades extra-classes durante a graduação, eu sequer tinha ideia dos integrantes de cada equipe ou das organizações acadêmicas.

Lembro quando fui ao Interanos de 2018, confraternização entre alunos e ex-alunos da Faculdade de Ciências Farmacêuticas. Foi um dia um tanto maluco com a chuva e o sol forte se alternando, assim como o frio e o calor. Aquela ocasião foi a última vez em que eu estive com Du. Procurei nas fotos daquele churrasco, mas o único registro que eu possuía dele era um vídeo.



Du também atuou pelo time de rúgbi da Farmácia



Semana passada eu estava em casa acompanhando algumas partidas de futebol pela internet quando vieram dezenas de mensagens pelo WhatsApp. Eu levei algum tempo para verificar mas quando eu vi,  havia links para sites de notícias.

Abri o link, vi a imagem de um homem de traços orientais e pensei: "como esse cara se parece com o Du". Comparei as imagens com as fotos do Facebook e fui checar em outros sites de notícias. Eu não queria acreditar no que eu estava vendo mas era a realidade.

A semana se passou e meus feeds das redes sociais estavam repletos de homenagens. A Farmatuque e as equipes de rúgbi da Farmácia também emitiram notas de pesar em solidariedade aos familiares e amigos de seu ex-integrante. Ainda que eu não tivesse tanta proximidade de Du, foram sete dias bastante pesados.

Passei a semana pensando como a vida é aleatória, traiçoeira, surpreendente. Em um piscar de olhos, pessoas podem ir embora sem aviso prévio. Aquela frase pronta da internet, "viva cada dia como se fosse o último", nunca havia feito tanto sentido para mim.

Fico feliz de tê-lo conhecido, Du. Não tínhamos tanta proximidade mas sua partida me impactou profundamente, tanto pela maneira abrupta que ela se deu, quanto pelas lembranças boas que você nos deixou.



O Interanos de 2018 foi a última vez que eu estive com Du.
E, infelizmente, não tirei nenhuma foto com ele neste dia.