sexta-feira, 31 de julho de 2020

Tempo


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Quatro anos.

Este foi o tempo que o treinador Jürgen Klopp demorou para conquistar seu primeiro título pelo Liverpool. O alemão chegou pouco depois do início da temporada 2015-16 após a demissão do antecessor Brendan Rodgers. Klopp, que havia acabado de deixar o Borussia Dortmund após sete anos de trabalho, pretendia dar uma pausa na carreira, mas prontamente mudou de ideia para assumir os Reds.

A primeira temporada do alemão esteve longe de justificar o investimento no treinador. O Liverpool não conseguiu retornar à Champions League (terminou em oitavo na Premier League) e os Reds tiveram de se contentar com o vice na Europa League diante do Sevilla, clube com orçamento e elenco bem mais modestos se comparados ao dos ingleses. Se fosse no Brasil, Klopp provavelmente já estaria no olho da rua.

Vieram as temporadas 2016-17 e 2017-18. Novas decepções incluindo a dramática derrota na final da Champions diante do Real Madrid em 2018. O Liverpool ofereceu a Klopp nesse período autonomia quase total sobre o elenco, incluindo contratações e dispensas, mas os títulos não vieram. Por que, então, o clube inglês deveria insistir no alemão se os troféus não voltavam ao Anfield?

Klopp daria sua resposta na temporada seguinte, 2018-19. E em grande estilo com a conquista do hexa na Champions tirando o Liverpool de uma longa fila de 14 anos.



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Muitos treinadores aqui do Brasil têm inveja de Klopp sem nenhuma dúvida. O alemão fracassou em suas três primeiras temporadas e, mesmo assim, o Liverpool deu todo o tempo necessário para que o técnico pudesse se aperfeiçoar no exigente futebol inglês e implantasse a sua filosofia de jogo. E o treinador também teve toda a liberdade para dispensar medalhões (Lucas Leiva e Kolo Touré, por exemplo) ou fazer apostas em jovens (Alexander-Arnold e Robertson).

Nem a surpreendente eliminação diante do Atlético de Madrid na Champions desta temporada foi suficiente para abalar o prestígio de Klopp. O treinador continuou sendo exaltado e adorado em Anfield, tanto pelo torcedor quanto pelos dirigentes. E o alemão ainda conseguiria tirar o Liverpool de outra fila, a do Campeonato Inglês cujo título não era conquistado desde 1990 -e o peso da conquista foi ainda maior visto que os Reds jamais haviam erguido o troféu na era da Premier League.

A lição que o Liverpool nos ensina atinge os times brasileiros justamente onde eles falham. Nós só enxergamos resultados a curto prazo e não hesitamos em buscar atalhos para tal. Nunca há paciência para esperar um treinador implantar suas ideias: se os resultados aparecem, o técnico é bom; caso contrário, ele já merece ser demitido.

A nossa falta de visão a longo prazo e de paciência (sim, nós torcedores também temos muita responsabilidade com essa cultura do "tudo pra ontem") impede que grandes trabalhos possam ser desenvolvidos e realizados aqui no Brasil. Treinadores e jogadores de potencial acabam queimados em seus clubes por pura falta de perspectiva de fãs e dirigentes. Planejamentos inteiros acabam rasgados pela nossa pressa.

Por que o nosso futebol está cada vez mais atrasado com relação ao europeu? O Liverpool nos deu uma pista ao manter Klopp apesar de todos os fracassos iniciais. Será que nossos dirigentes e torcedores seriam capazes de decifrar esse enigma?



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quinta-feira, 30 de julho de 2020

E Agora, Tricolor?


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Acabou o sonho do torcedor são-paulino de ver o fim do jejum de títulos, pelo menos em 2020. A eliminação em pleno Morumbi diante do esforçado Mirassol foi um golpe duro, ainda mais levando-se em conta que o Tricolor vivia um excelente momento antes do futebol ser interrompido por causa da pandemia -o Soberano havia acabado de golear a LDU na Libertadores e de vencer o Santos antes da pausa.

A eliminação ilustra a situação atual do clube. Justamente o São Paulo que se orgulhava em ser um ícone de democracia e modernidade, e que hoje representa a soberba pelas conquistas passadas e do retrocesso com ideias que deveriam ter ficado nos anos 90.

Muitos apontam o atual presidente, Leco, como o grande responsável pela situação mas, a meu ver, os problemas começaram já no fim da década de 2000 com então presidente Juvenal Juvêncio. O finado mandatário instituiu a reeleição na entidade (algo que não havia no São Paulo), afastou aliados importantes, arranjou inimigos poderosos (Globo e CBF, entre eles) e indicou os dois últimos presidentes à sua sucessão, Carlos Miguel Aidar (que foi afastado em 2015, acusado de corrupção) e o atual, Leco.

O resultado foi que o São Paulo fez o caminho inverso de seus rivais. Os problemas que assolavam Corinthians e Palmeiras durante a década de 2000 foram observados no Morumbi, enquanto os rivais caminhavam rumo à modernidade. E tudo isso repercutiu em campo.



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A solução, porém, não passa por mudanças na comissão técnica ou nos jogadores, afinal o Tricolor já utilizou mais de dez treinadores nos últimos anos -quase todos renomados e de diferentes estilos de jogo- e bons atletas nunca faltaram no Morumbi. Não adiantaria, portanto, demitir Fernando Diniz e tampouco promover uma "caça às bruxas" no elenco.

Algo que falta ao São Paulo é blindar o elenco dos problemas políticos (isso quase rebaixou o clube em 2013) e também das interferências da torcida na administração -vários jogadores bons foram "expulsos" do clube por pressão do torcedor incluindo Maicon (volante que hoje faz sucesso no Grêmio), Casemiro (que era chamado de "Casemarra" pelos detratores), entre outros. Na situação atual, o Tricolor poderia até contar com Cristiano Ronaldo, Messi e Guardiola e, mesmo assim, não conseguiria resultados pela pressão exagerada que recai sobre o time.

Falta também paciência e visão a longo prazo ao clube. O São Paulo, a meu ver, não cumpre um planejamento há muito tempo e demite treinador ao primeiro sinal de crise. Nunca há tempo ao comandante para ajustar o time ou implantar uma filosofia de trabalho, algo que os comentaristas esportivos sempre mencionam. Montar uma equipe vencedora leva tempo e muitas batalhas são perdidas no processo antes de se chegar ao troféu.

Vale também recorrer ao ano de 2004, quando o Tricolor se reerguia de uma crise e conseguiu pavimentar o caminho para o tricampeonato da Libertadores no ano seguinte. Na ocasião, o clube soube criar um equilíbrio entre vendas e contratações, além de manter uma "regularidade" nas competições. O time não brigava por títulos, mas não criava expectativas exageradas e nem tomava decisões precipitadas.

A derrota de ontem para o Mirassol, a meu ver, foi mais pela quebra de ritmo (algo que já mencionei aqui no blog) do que por deficiências no elenco. Mas a eliminação pesou pela expectativa criada antes da paralisação somada à impaciência de dirigentes e torcedores por um troféu. Cabe também mencionar que os atrasos nos vencimentos e os cortes nos salários promovidos de maneira unilateral (sem consultar os jogadores) podem ter influenciado na queda de desempenho.




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quarta-feira, 29 de julho de 2020

Seguindo em Frente


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Cássio, Alessandro, Chicão, Ralf, Danilo, ... Toda geração que realiza grandes conquistas acaba ganhando um lugar no coração do torcedor e também na história do clube.

Aquela geração que venceu Libertadores e Mundial em 2012 -e que teve uma "continuidade" com a conquista do Brasileirão de 2015- estará eternizada para sempre no coração do torcedor corinthiano.

O tempo, no entanto, passa. Os jogadores vão envelhecendo, os esquemas táticos vão ficando manjados e o futebol vai evoluindo. Isso ficou evidente nos últimos anos quando os remanescentes daquela geração já não conseguiam manter o desempenho de outrora.

Foi pensando nisso, provavelmente, que os dirigentes do Corinthians decidiram abandonar o defensivismo de Tite e Fábio Carille para apostar em Tiago Nunes, treinador jovem que se consagrou no Athletico Paranaense e que adota um futebol mais ofensivo.

A mudança, porém, ocorreu em um momento não muito oportuno. O Corinthians já contava com uma base formada para a Libertadores e o "choque de gestão" somado ao pouco tempo de pré-temporada acabou tento efeitos negativos. O resultado foi a eliminação precoce da Libertadores 2020, além de alguns supostas intrigas no vestiário -o treinador Tiago Nunes e os jogadores não estariam se entendendo segundo muitas reportagens.

A pausa devido à pandemia do coronavírus, porém, acabou beneficiando o Corinthians que conseguiu esfriar um pouco o clima tenso no elenco, além de se aproveitar da quebra de ritmo de rivais que estavam em melhor fase. Assim, o clube alvinegro ganhou algum fôlego ao vencer o arquirrival Palmeiras e conseguir a vaga nas quartas-de-final do Paulistão com o tropeço do Guarani (ou ajuda do São Paulo, como queiram).



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A classificação e um eventual título do Paulistão, porém, não podem iludir o corinthiano. Se a ideia dos dirigentes é promover uma reformulação no futebol, que ela tenha continuidade.

A crise no vestiário que estava acontecendo antes da paralisação quase causou a demissão do treinador Tiago Nunes. Se o Corinthians ainda estivesse na Libertadores, eu concordaria e sugeriria que o clube buscasse um técnico com mais experiencia (Tite, que vem sendo muito contestado na Seleção, ou Mano Menezes, sem clube) para atuar como "bombeiro" e evitar que o semestre fosse perdido.

Na situação atual, contudo, seria melhor o Timão manter Tiago Nunes e reformular o time visando resultados a longo prazo, assim como aconteceu com o próprio Tite em 2011 -argumento defendido pelo jornalista André Rocha.

Discordei das saídas de Ralf e Jádson no começo do ano porque acreditava que a experiência e a identificação da dupla com o clube ajudaria muito o time nos jogos da Libertadores, sobretudo com tantos jovens contratados. Mas sem a competição continental, acredito que seria melhor promover a saída de mais medalhões e rejuvenescer o elenco, o que tornaria o time mais compatível com o estilo jogo proposto por Tiago Nunes.

Um último problema seriam as eleições no Corinthians a serem realizadas no final do ano. O atual presidente, Andrés Sanchez, não irá concorrer e o treinador Tiago Nunes dificilmente permaneceria visto que a próxima gestão provavelmente irá atrás de algum técnico alinhado com as ideias da chapa vencedora. Se o comandante obtiver resultados, por outro lado, as chances de sua permanência aumentariam bastante.

O mais importante, independente do cenário, é que o clube solte as amarras do passado e comece a pensar mais no futuro. O Mundial de 2012 e o Brasileirão de 2015 foram ótimos, mas há mais títulos para se conquistar adiante.



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terça-feira, 28 de julho de 2020

Drogba, meu Herói


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Gostaria de deixar registradas algumas ressalvas antes de começar o texto propriamente dito afinal a palavra"herói" é sempre utilizada de maneira muito vulgar, principalmente no meio esportivo.

"Heróis" de verdade, para mim, são pessoas que salvam vidas mesmo que isso coloque em risco a própria. Se encaixariam nesse perfil médicos, bombeiros e os pais e mães que trabalham duro em troca de parcos salários para colocarem comida na mesa de suas famílias. Poderia citar mais exemplos, mas a lista ficaria extensa demais.

Drogba não é inquestionável (ele tomou algumas decisões controversas na carreira) e nem arriscou sua vida propriamente dita para salvar outras. Ele não tem super poderes e é um ser humano como todos nós. Mas, para mim, o marfinense é um dos poucos esportistas que merecem ser chamados de "herói", algo que Messi e Cristiano Ronaldo ainda não são para este autor.

O ex-atacante até poderia ser considerado um "herói" pelo fato dele ter ajudado a classificar a sua seleção de forma inédita para uma Copa do Mundo ou pela dezena de títulos que conquistou ao longo de sua carreira. Mas seu grande feito ocorreu justamente em meio às Eliminatórias para a Copa 2006: o seu país foi assolado por uma violenta guerra civil na ocasião e o jogador pediu a palavra implorando paz entre os beligerantes. O discurso do jogador teve papel fundamental na pacificação da Costa do Marfim.

As atitudes do africano não pararam por aí: Drogba ainda utilizou o futebol para impedir o surgimento novos focos de rebelião (a pedido do jogador, uma partida de sua seleção foi realizada em Bouaké, cidade considerada capital dos rebeldes na guerra civil) e o atleta ainda fez muitas doações ao seu país visando a constrição de hospitais.



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Conhecemos Drogba apenas pelo que vemos através da mídia. Apenas quem teve proximidade com o jogador poderia dizer com certeza o quão nobre (ou não) é o marfinense.

Os atos heroicos de Drogba, no entanto, o colocam em um patamar que nem mesmo Messi ou Cristiano Ronaldo alcançaram até o momento, o de salvar (literalmente) um país inteiro jogando futebol e, com isso, merecer ser chamado de herói, sem aspas.

Nunca havia sido fã do futebol de Drogba apesar de seu talento incontestável -eu sempre o considerei um jogador muito mais físico do que técnico. Mas pesquisar seus feitos fora das quatro linhas mudou totalmente a minha opinião sobre o africano.

O ex-atacante ganhou muitos troféus (nenhum pelo selecionado de seu país, infelizmente) mas nenhuma dessas conquistas teve o peso da maior delas realizada em 2005 quando seu discurso de apenas 76 segundos foi suficiente para que governo e rebeldes da Costa do Marfim encaminhassem um cessar-fogo e poupassem milhares de vidas no país.

Drogba, ainda que tenha seus defeitos e controvérsias, é um herói. Um dos poucos atletas que merecem ser chamados assim. E sem aspas.



Imagem extraída de www.facebook.com/didier.drogba.71216141



BASEADO EM:

ESPN- "Lado B da Copa: Drogba, o craque que mudou um país com um discurso de 76 segundos": www.espn.com.br/noticia/408379_lado-b-da-copa-drogba-o-craque-que-mudou-um-pais-com-um-discurso-de-76-segundos

 


Rivalidade Tem Limite


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O que é mais importante para você, caro torcedor e torcedora? Ver o seu time vencer ou prejudicar um rival de qualquer maneira?

Este questionamento se aplicou perfeitamente à última rodada da extensa e desnecessária primeira fase do Campeonato Paulista. Na ocasião, o instável Corinthians tinha chances de classificação ao mata-mata do Paulistão mas dependia que o rival São Paulo, já classificado e apenas cumprindo tabela, ao menos empatasse com o Guarani.

As redes sociais do São Paulo foram inundadas por pedidos dos próprios torcedores pedindo para que o time entregasse o jogo contra o Guarani. O treinador Fernando Diniz até escalou o time reserva contra o Bugre mas o que se viu em campo foi um grupo empenhado e disposto a aproveitar a oportunidade recebida ainda que isto beneficiasse um grande rival.

O placar de 3x1 para o Tricolor gerou muitas reações negativas dos próprios torcedores. O ex-zagueiro e dirigente Diego Lugano respondeu duramente às criticas com as seguintes palavras:

"Grandeza não se mede apenas pelas conquistas e pelo patrimônio. Se mede também pela forma como se comporta. Pela conduta. Não poderia ser diferente. Temos história e essência para honrar. Valores necessários para jogar aqui. Valores que vão além do esporte".



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Sempre houve e sempre haverá rivalidade no esporte, um ambiente extremamente competitivo onde o objetivo é a vitória.

Há, no entanto, quem confunda "rivalidade" com "inimizade". E o limiar entre as duas palavras é muito tênue.

O esporte é competição mas, sobretudo, é respeitar limites da rivalidade, duelar sem transgredir as normas da categoria, entender que do outro lado também há um adversário que luta pelo mesmo objetivo que você.

Há torcedores que transforam os times em religião e futebol em guerra. Esporte não é e nunca foi uma batalha literalmente falando. Há, inclusive, registros históricos de que as primeiras olimpíadas ocorriam entre cidades inimigas mas que deixavam as diferenças de lado em prol da competição, da honra e do respeito mútuo.

Não seria ilegal se o São Paulo entregasse o jogo contra o Guarani mas seria algo imoral sob o ponto de vista esportivo. E, acima de tudo, seria compactuar com torcedores que se esquecem dos limites da rivalidade.



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domingo, 26 de julho de 2020

Por Que Nunca Fui ao Interusp






Quando eu entrei na faculdade, minha prioridade era pegar o meu diploma o quanto antes e tocar a minha vida. Eu não estava nem aí para atividades extracurriculares ou para outras possibilidades que a universidade tinha a oferecer.

Participar de festas ou praticar alguma modalidade esportiva muito menos. Para mim aquilo era um desperdício de tempo e de energia. Isso sem falar que eu não tinha o hábito de beber e eu era incapaz até de chutar uma bola.

Faculdade, para mim, era só para estudar mesmo.

Eu jamais me interessei em ir ao InterUSP pelos mesmos motivos já citados. Para quem não sabe, o InterUSP é um encontro promovido pelas atléticas de algumas faculdades da Universidade de São Paulo. É realizado uma vez por ano durante o feriado de Corpus Christi e sediado em alguma cidade do interior do Estado de São Paulo.

No InterUSP são realizados campeonatos esportivos entre as equipes que representam as faculdades e também festas para promover a integração entre os alunos dos diferentes cursos. Obviamente, eu não tinha o menor interesse por estes assuntos na faculdade. Então, por que eu "desperdiçaria" o meu feriado com algo que jamais havia sido da minha alçada?







O tempo passou e me graduei. Eu permaneci algum tempo afastado da faculdade até que eu me inscrevi em um programa de monitoria de alunos. E fiz questão de supervisionar os graduandos da farmácia. Seria praticamente um retorno ao meu curso de graduação.

Conversando com os alunos, pude trocar muitas experiências e também pude ver coisas que não enxergava enquanto eu estava na graduação. Pude compreender melhor a importância das festas, dos esportes, das viagens, ...

Compreendi que a universidade é mais do que excelência em ensino ou pesquisa. A "universidade" é, na verdade, um vasto "universo" de coisas que permitiria ao aluno crescer em todos os âmbitos. A instituição poderia fornecer meios para que o graduando pudesse realizar praticamente qualquer objetivo, de maneira direta ou indireta.

Os tais esportes que seriam um "desperdício de energia", por exemplo. Você pode aprender coisas muito importantes como trabalhar em equipe, manter uma disciplina de treinos, descarregar o estresse das aulas ou do trabalho, trazer à tona possíveis talentos adormecidos e, com sorte, pode até se profissionalizar no meio -é algo muito difícil de acontecer no Brasil mas possível.

As festas que eram uma "perda de tempo"? Organizá-las é algo muito mais complexo do que parece e aprender a lidar com isso acrescenta, sim, qualidades na sua vida pessoal e também na profissional. Além disso, é muito diferente você conviver com as pessoas fora da sala de aula. Isso explica por que empresar promovem tantos eventos e happy hours para a integração de seus funcionários. Posso dizer que alguns dos meus melhores amigos eu conheci através das festas da faculdade.

E o tal InterUSP que era um "desperdício do feriado"? Bem, ainda não fui e provavelmente nunca irei mas hoje compreendo sua importância e eu encorajo os alunos a darem uma chance ao evento por menos que gostem de jogos ou de festas.








sábado, 25 de julho de 2020

Só Jesus Salva?


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O que o flamenguista mais temia se concretizou na semana passada. O treinador Jorge Jesus aceitou o convite de retornar ao Benfica (e, por tabela, ao seu país) e anunciou sua saída do Flamengo após conquistar o Campeonato Carioca 2020.

A passagem do português pelo rubro-negro durou pouco menos de um ano mas o desempenho apresentado justificou cada minuto ou centavo investido no treinador: foram 57 partidas disputadas (43 vitórias, 9 empates e apenas 4 derrotas) e cinco títulos conquistados (Brasileirão, Libertadores, Supercopa do Brasil, Recopa Sul-Americana e Campeonato Carioca) -os números foram obtidos no site do jornal "Lance".

Mais do que números ou troféus, Jesus trouxe ao Brasil um pouco da "modernidade europeia" ao nosso futebol visto que estamos ficando cada vez mais atrasados nos gramados com relação ao Velho Continente. O treinador enfrentou muita resistência por parte de seus colegas brasileiros mas seu time respondia na bola, e muito bem.

O treinador que estava em baixa na Europa (ele dirigia o Al-Hilal da Arábia Saudita) aceitou a proposta do Flamengo para tentar renascer no mercado. Se vencesse o Mundial de Clubes, as portas do futebol europeu lhe estariam abertas novamente.

O sonho de ganhar o mundial acabou esbarrando no Liverpool mas o esperado convite para voltar à Europa apareceu e de maneira inesperada: o Benfica, em crise, abriu as portas a Jesus novamente (será a segunda passagem do treinador pelos Encarnados) para que o Mister possa reformular todo o elenco e reaver o troféu da Primeira Liga -e, quem sabe, beliscar algum título internacional.



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O Flamengo que "não se preparou para perder Jesus" agora corre atrás do prejuízo em busca de outro treinador para substituir o Mister. A prioridade é um treinador europeu -o português Carlos Carvalhal (atualmente no Rio Ave de Portugal) e o catalão Domènec Torrent (ex-auxiliar de Guardiola) são os mais cotados.

O sucessor, independente de quem for, terá uma responsabilidade muito grande afinal Jesus elevou demais o nível de excelência no futebol flamenguista e o torcedor exigirá, no mínimo, que seu próximo treinador mantenha o patamar atingido pelo português, tanto nos títulos quanto no estilo de jogo.

Serão inevitáveis, portanto, comparações do novo treinador com o Mister, algo que Jesualdo Ferreira vem enfrentando no Santos após um grande trabalho do antecessor Jorge Sampaoli. Para que o trabalho do sucessor seja bem executado será necessário, portanto, que o novo comandante seja blindado além de receber tempo suficiente para que possa implantar sua filosofia de jogo. O tempo que, aliás, pode ser escasso visto que o Campeonato Brasileiro está previsto para começar já em agosto.

Ao flamenguista resta torcer para que o sucessor venha o quanto antes para iniciar os trabalhos com o elenco e implantar logo sua filosofia de jogo para que o time esteja afiado para a disputa do Brasileirão e da sequência da Libertadores.



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sexta-feira, 24 de julho de 2020

Reset


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Copa Libertadores 2010, setembro, fase semifinal. 

O São Paulo, após um primeiro semestre convincente na Libertadores, é eliminado pelo Internacional que, durante o mesmo período, vivia uma crise sob o comando de Jorge Fossati e arrancou para o bicampeonato já com o treinador Celso Roth. A competição havia sofrido uma interrupção de seis semanas para a realização da Copa do Mundo.

Campeonato Brasileiro 2019, julho.

O São Paulo, que passava por um jejum de vitórias durante o primeiro semestre (foram mais de seis jogos consecutivos sem um único placar positivo), consegue uma arrancada suficiente para assegurar o sexto lugar na tabela e uma vaga direta para a Libertadores 2020. O Brasileirão havia sofrido uma interrupção de quatro semanas para a realização da Copa América. Na mesma competição, o então líder Palmeiras caiu vertiginosamente de rendimento após a pausa e teve de se contentar com o terceiro lugar.

Os dois exemplos vivenciados pelo São Paulo não deixam dúvidas que a interrupção de um campeonato tem influencias no desempenho das equipes para o bem e também para o mal.

O futebol sofreu uma parada forçada em decorrência da pandemia do coronavírus e a maioria das competições foi suspensa até que a doença estivesse sob controle. Alguns dos campeonatos como o francês e o holandês nem chegaram a terminar com as federações decretando por encerrados os torneios locais.

Nos países em que os campeonatos foram retomados, ficou evidente como certas equipes voltaram diferentes após a pausa. A Lazio, por exemplo, ocupava a vice-liderança do Campeonato Italiano e chagou a ameaçar a líder Juventus mas não conseguiu manter o ritmo após o reinício e agora ocupa apenas a quarta colocação da competição. O Barcelona, que chegou a liderar o Campeonato Espanhol por um bom período, também retornou sem o mesmo ritmo (além dos problemas internos) e permitiu que o arquirrival Real Madrid se sagrasse campeão.



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Eu me lembro quando em 2010 um amigo entusiasta do futebol me explicava o quanto a pausa para a Copa do Mundo seria nociva sobretudo aos times que viviam um bom momento utilizando o próprio São Paulo na época como exemplo.

As interrupções quase sempre quebram o ritmo dos times afetando a sequência do trabalho, a rotina de treinos e a concentração dos profissionais. Como resultado, as equipes raramente conseguem retornar da maneira como estavam até então.

As pausas também roubam o "momento" das equipes, aquela "boa fase" da qual os comentaristas sempre se referem quando os times conseguem muitos resultados bons seguidamente. Como é sabido, o tempo é algo impossível de se recuperar.

Equipes em má fase, por outro lado, acabam beneficiadas porque têm menos a perder com as interrupções e ainda conseguem se valer da quebra de ritmo dos rivais que passavam por um bom momento. Por este motivo, times em crise quase sempre conseguem reagir após uma parada. Na prática é como se a pausa causasse um reset nas agremiações e as obrigasse a começar novamente do zero.

Não estranhe, portanto, se aquele time que estava voando antes da quarentena passar a jogar um futebol ruim e destoante após o retorno, assim como aquelas equipes em crise podem muito bem surpreender agora que seus adversários estão longe do ritmo impresso anteriormente.



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quinta-feira, 23 de julho de 2020

Um Time sem Identidade


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Contratações sem critério, treinadores de filosofias aleatórias e vestiário turbulento. Tudo isso poderia dizer respeito a algum clube brasileiro mas estamos falado do poderoso Barcelona, aquele se auto-intitula més que un club ("mais do que um clube", em catalão).

O clube catalão parece ter ficado órfão do técnico Josep Guardiola e daquela fantástica geração (Xavi, Puyol, Valdés, Iniesta, ...) que, entre outros feitos, conquistaram duas Ligas dos Campeões (2008-09 e 2010-11) e influenciaram todo o futebol através dos ensinamentos de Johan Cruyff (que foi treinador de Guardiola no próprio Barcelona): posse de bola, ofensividade e jogadores versáteis capazes de desempenhar mais de uma função em campo.

O tempo passou e o Barcelona ainda apresentou bons desempenhos apesar da saída do comandante. O clube até conseguiu uma segunda tríplice coroa com Luis Enrique em 2014-15 (a primeira havia sido conquistada com o próprio Guardiola em 2008-09) mas o desempenho da equipe foi ficando cada vez mais fraco a medida que mais jogadores importantes iam embora -saíram Xavi em 2015, Dani Alves em 2016 e Iniesta em 2018.

O Barça, em princípio, continuou apostando em jovens talentos para tapar os buracos no elenco mas a pressa do clube em reaver o título da Champions League (além do fato do arquirrival Real Madrid ter conquistado três "orelhudas" consecutivas nesse período) fez com que o clube catalão realizasse contratações precipitadas, motivadas mais pelo marketing do que pela necessidade ou planejamento a longo prazo. Como resultado, vieram muitos jogadores consagrados mas que visivelmente não se adaptaram ao estilo de jogo no time como Griezmann e Philippe Coutinho. Ademais, as muitas contratações tiraram o espaço dos atletas mais jovens, inclusive das pratas da casa dos quais o Barcelona sempre se orgulhou. Dessa forma, grandes promessas deixaram o Barcelona e hoje brilham em outros times, como Adama Traoré que é ídolo do Wolverhampton e Dani Olmo que foi destaque na Seleção Espanhola Sub-20.

Os treinadores passaram a ser escolhidos sem respeitar uma linha filosófica de trabalho em nome do imediatismo. O Barcelona até tentou manter o estilo de Guardiola com Tito Vilanova e Tata Martino (ambos adeptos do toque curto e da posse de bola) mas como os resultados não vieram a curto prazo, o clube resolveu apostar em outras mentalidades de jogo como Luis Enrique (que adota um futebol mais direto e vertical), Ernesto Valverde (defensivista) e Quique Setién ("cruyffista").

Os jogadores, por fim, foram ficando cada vez mais insatisfeitos com a situação, principalmente os líderes Messi e Suárez o que gerou uma crise no vestiário. Não obstante, há os constantes apelos de parte do elenco para que o Barcelona repatrie Neymar, que deixou o clube pela porta dos fundos em 2017.



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O Barcelona deveria aproveitar o momento de crise e tentar tirar algum aprendizado a partir dos equívocos cometidos nos últimos anos.

É preciso reconhecer que a fantástica geração de Guardiola já está envelhecendo (alguns até já se aposentaram) e pensar efetivamente no futuro, afinal Messi, Piqué e Busquets terão de parar algum dia. E essa data já não está mais tão distante visto que eles já têm mais de trinta anos.

A transição deve ser executada mesclando-se os veteranos com mais atletas jovens, de preferência aqueles revelados pelo próprio Barcelona (Riqui Puig, Carles Aleñá, Ansu Fati, ...) uma vez que esses jogadores já têm assimilada a mentalidade do clube e teriam menos trabalho de se adaptar às rígidas normas da entidade. Progressivamente os atletas mais rodados devem perder o espaço para os mais jovens em uma espécie de "passagem de bastão".

O clube também precisa definir claramente que mentalidade de jogo deseja. Como vemos no futebol brasileiro, alternar treinadores de diferentes filosofias sem necessidade é algo que dificilmente dá resultado e, por acaso, este é mais um erro que o Barcelona vem cometendo nos últimos anos.

Enquanto o Barcelona agir mais pela pressa do que pela racionalidade, o time só conseguirá reaver o título da Champions League se tiver muita sorte. E o pior: a agremiação deixará de ser més que un club e será um clube jogado na vala comum, sem nenhuma identidade ou diferencial.



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quarta-feira, 22 de julho de 2020

Por Quanto Tempo Vidas Negras Importarão?


Imagem extraída de www.facebook.com/TheodorGebreSelassie/



Euro 2012, Estádio Miejski, Polônia.

O lateral tcheco Theodor Gebre Selassie (de camisa vermelha na foto acima) é hostilizado por torcedores russos com insultos racistas. A Federação Russa foi punida com multa de 30 mil Euros pela atitude de seu torcedor.

Euro 2012, Arena Lviv, Ucrânia.

O atacante dinamarquês Nicklas Bendtner é multado em 100 mil Euros e recebe um jogo de suspensão por "publicidade indevida" -o atleta exibiu a logomarca de um site sem autorização da UEFA após anotar um de seus dois gols em partida contra Portugal.

Os exemplos acima deixam claro como há conivência com o racismo no esporte. Não são raros os casos de esportistas negros sendo chamados de "macacos" mesmo em países europeus como aconteceu recentemente com o atacante malinês Moussa Marega. Ainda que haja punições, elas parecem brandas e insuficientes para coibir tais atitudes.

Bastou, porém, o incidente que culminou na morte do ex-segurança George Floyd para que celebridades e instituições de todos os segmentos, incluindo o esporte, se posicionassem contra o racismo e aderissem ao movimento Black Lives Matter ("vidas negras importam", traduzindo do inglês).

Alguns aderiram aos protestos de maneira genuína como o objetivo de chamar a atenção com relação à situação dos negros ao redor do mundo enquanto outros apenas utilizaram o movimento como uma mera jogada de marketing aproveitando o momento de comoção.



Imagem extraída de www.facebook.com/FCPorto/



Passado o luto pela morte de Floyd ficou evidente quem realmente abraçou o movimento e quem apenas se aproveitou do momento de comoção para se promover. Um exemplo aconteceu no Grande Prêmio da Hungria no último domingo quando o piloto Lewis Hamilton foi o único a se ajoelhar em protesto.

A luta contra o racismo não pode ser tratada como uma mera jogada publicitária. O preconceito é um problema recorrente em todas as esferas inclusive no esporte. Pessoas não devem ser julgadas pela cor da pele e, tampouco, receberem restrições ou privilégios pelos seus traços.

É muito fácil aproveitar um momento de comoção mundial e vender a imagem de solidariedade quando o mundo inteiro está em choque. Difícil é levar a mensagem adiante assim que as lágrimas secarem e o interesse pelo assunto esfriar.



Imagem extraída de www.facebook.com/LewisHamilton/




terça-feira, 21 de julho de 2020

A Ilha da Fantasia


Imagem extraída de www.facebook.com/saopaulofc/



Boa tarde, querido leitor e leitora.

Estamos retornando as atividades do blog juntamente com a retomada do Campeonato Paulista.

O blogueiro pede desculpas pela ausência e explicará futuramente os motivos que levaram à paralisação do blog, mas cabe dizer que uma das razões foi a paralisação do futebol conforme explicado em postagem anterior.

O Campeonato Paulista será reiniciado amanhã, dia 22 de julho, após quase quatro meses de paralisação em decorrência da pandemia do coronavírus.

O futebol vai retomando as atividades a despeito das controvérsias em relação à segurança dos jogadores e das pessoas envolvidas -comissão técnica, dirigentes e funcionários. A despeito dos protocolos adotados, não têm sido raros os casos de atletas diagnosticados com a doença aqui no Brasil.

Já escreveu um articulista (não me lembro o nome e o texto) que o futebol não é um universo paralelo alheio aos recentes acontecimentos. O esporte está inserido em nossa realidade em todos os sentidos, inclusive no âmbito econômico e social.

Jogar futebol é uma profissão e os atletas precisam ir a campo para gerar receita para seus clubes. É desta maneira que as instituições obtém os lucros dos quais, parte deles, são utilizados para pagar os salários dos jogadores.

Os jogadores, porém, também são seres humanos. Eles se cansam, se machucam e também podem ficar doentes ou mesmo morrer. E o futebol, como um esporte de contato, é um ambiente propício para a propagação de doenças, incluindo a COVID-19.



Imagem extraída de www.facebook.com/corinthians/



Os clubes, obviamente, contam com muitos recursos para tratar eventuais jogadores que forem diagnosticados com a doença, mas isso não impede que haja eventuais óbitos por melhores que sejam a infra-estrutura ou os profissionais de saúde envolvidos,

Uma vez que a maioria de nossos dirigentes está colocando os aspectos financeiros acima dos demais na tomada das decisões, cabem aqui alguns questionamentos quando um jogador testar positivo para COVID-19:

O que aconteceria se um titular desfalcasse o time em uma decisão ou em um jogo importante?

E se um grande ídolo do clube falecesse em decorrência do coronavírus?

O que aconteceria se aquele jogador que poderia ser vendido por milhões de Euros e salvar o seu clube da falência adoecesse ou mesmo morresse?

O futebol, como se vê, não se passa em uma ilha isolada do resto do mundo. Qualquer pessoa envolvida neste meio está sujeita a contrair a doença, inclusive os jogadores.

É compreensível a retomada do futebol levando-se em conta a crise gerada por sua paralisação, mas é necessário considerar todos os riscos sobretudo na situação atual.



Imagem extraída de www.facebook.com/saopaulofc/