quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Mudar Treinador Resolve Mesmo?

Imagem extraída de www.facebook.com/Palmeiras



Não existe uma receita certa para o sucesso, sobretudo quando lidamos com pessoas. Tanto que um professor de história me disse que "em ciências humanas, 1+1 pode dar cinco". Há clubes que foram vitoriosos apesar de serem mal administrados, assim como há times que fizeram campanhas ruins (ou abaixo das expectativas) a despeito das gestões exemplares.

Uma das constantes discussões a respeito do sucesso ou não no futebol passa pela manutenção de treinadores. Quando uma equipe entra em crise, o técnico sempre é o primeiro a entrar na mira. Tanto que a demissão de comandantes já se tornou algo cultural em nosso esporte.

Quando os dirigentes promovem uma mudança no comando, ocorre um "choque de gestão" no elenco: os jogadores são obrigados a sair de sua zona de conforto porque precisam mostrar serviço ao novo técnico para manterem suas posições no time e os resultados aparecem a curto prazo. Com o tempo, porém, o grupo tende a se acomodar, a equipe deixa de vencer, o clube entra em crise novamente e mais uma troca de treinador acontece. E o ciclo se repete.

Muitos dos times vitoriosos, porém, souberam remar contra a corrente e bancaram seus treinadores mesmo durante momentos de crise, pensando em resultados a longo prazo. São Paulo (entre 2006 e 2008 com Muricy Ramalho) e Corinthians (entre 2011 e 2013 com Tite) foram alguns desses casos. O exemplo mais extremo, porém, se deu na Inglaterra com o Liverpool segurando Jürgen Klopp desde 2015 e esperando até 2019 para o trabalho gerar frutos.

Os argumentos aqui apresentados fizeram com que muitos (o autor deste blog incluso) defendessem a teoria de que o treinador precisa de tempo e respaldo para desenvolver seu trabalho, mesmo que isto significasse perder alguns jogos a curto prazo. Mas houve algum exemplo prático da eficiência disto em relação ao outro modelo? A resposta é sim e se deu durante a temporada 2007 entre os grandes rivais paulistas, Palmeiras e Corinthians.



Imagem extraída de www.facebook.com/Palmeiras



Palmeiras e Corinthians iniciaram a temporada 2007 em condições bastante semelhantes: ambos estavam em dificuldades financeiras, ambos viviam momentos de grande pressão devido às campanhas ruins em 2006, ambos tinham elencos bastante fracos e ambos eram até vistos como candidatos ao rebaixamento.

O Verdão contratou o saudoso Caio Júnior, que havia feito uma grande campanha com o modesto Paraná Clube no ano anterior. E os dirigentes palmeirenses bancaram o treinador até o final o ano apesar das oscilações do time. O Timão, por sua vez, começou a temporada com Emerson Leão (que havia salvado o Coringão do rebaixamento no ano anterior) mas trocava de treinador a cada três meses em média. Passaram pelo banco corinthiano Leão, Zé Augusto, Paulo César Carpegiani e Nelsinho Baptista.

O Palmeiras terminou o Brasileirão em um razoável 5º lugar e, por muito pouco, não chegou à Libertadores (acabou superado pelo Cruzeiro na última rodada) mas fez uma campanha muito acima das expectativas. A frustração pela perda da vaga, porém, falou mais alto e o treinador Caio Júnior acabou demitido após o término da temporada.

O Corinthians, por sua vez, realizou uma campanha com os sintomas típicos de equipes que trocam constantemente de treinador. Quando o interino Zé Augusto assumiu, por exemplo, o Timão venceu o clássico contra o Santos, o que fez com que o auxiliar recebesse muitos elogios (da imprensa e da torcida) e fosse efetivado. O time, porém, não demorou a cair de rendimento novamente e Paulo César Carpegiani acabou contratado semanas depois. O mesmo aconteceu mais tarde com Nelsinho Baptista, que conseguiu derrotar o São Paulo em pleno Morumbi mas não conseguiu evitar uma nova queda no desempenho e o rebaixamento foi inevitável.

A manutenção (ou não) do treinador não foi o único motivo pelas campanhas distintas dos dois rivais. Houve outros fatores externos, como a crise política do Timão que resultou na renúncia do presidente Alberto Dualib (falecido neste ano) que, certamente, tiveram reflexos em campo.

Tivemos, porém, dois times em condições praticamente iguais e os dois rivais tomaram atitudes totalmente opostas com relação a manutenção de seus respectivos treinadores. A permanência ou não do técnico certamente teve alguma influência no desempenho das equipes.

A manutenção de um treinador não é uma receita para o sucesso. Quando se lida com seres humanos, nunca há uma fórmula exata visto que cada indivíduo é diferente, bem como o contexto em que cada um está inserido. O que se observou ao longo da temporada 2007, porém, foi que dois times em condições praticamente iguais tiveram destinos totalmente distintos. E a continuidade (ou não) dos técnicos certamente teve alguma influência no desfecho de ambos. 



Imagem extraída de www.facebook.com/Palmeiras




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