domingo, 28 de agosto de 2022

O Fim dos Veteranos?

Miranda e Rafinha, os dois jogadores mais experientes do elenco são-paulino com
37 e 36 anos respectivamente (reprodução www.instagram.com/r_13official)



Miranda, Fábio Santos, Filipe Luís, Cano, Hulk e tantos outros jogadores que já possuem mais de 30 anos de idade e ainda atuam em nossos gramados. São chamados de "experientes" ou de "velhos" dependendo do humor do torcedor. Não possuem mais a força ou a velocidade dos mais jovens mas utilizam a sua vivência a favor de suas respectivas equipes.

Jogadores com este perfil sempre tiveram espaço em nosso futebol: os atletas rumavam à Europa quando jovens, faziam fortuna no exterior e retornavam ao Brasil para encerrar suas respectivas carreiras. Mesmo sem o vigor de outrora, ainda conseguiam fazer a diferença em nossos gramados. Mas as mudanças em nosso esporte estão transformando este cenário e os veteranos já não conseguem mais brilhar como em décadas anteriores.

O futebol há anos deixou de ser informal e tornou-se um esporte de alto nível. Os jogadores precisam ser profissionais dentro e fora de campo. Devem tomar muito cuidado com suas respectivas imagens e também com a parte física. Farras não são mais toleradas e os atletas devem se policiar mesmo durante as folgas. Tudo visando o rendimento nos gramados onde uma única falha poderia custar todo um campeonato. Isto explica porque tantos veteranos são dispensados sem piedade na Europa a despeito de suas respectivas histórias, afinal não possuem mais o vigor dos jovens. Há, obviamente, exceções como Ibrahimović no Milan ou Modrić no Real Madrid mas são muito poucas.

O futebol brasileiro ainda não possui a exigência do esporte europeu mas já se observam as influências do Velho Continente por aqui. A lentidão ou a falta de força não são mais toleradas como antigamente. Jogadores propensos a lesões são considerados "prejuízo" para os nossos clubes. Com isso, têm sido frequentes as críticas direcionadas aos atletas mais experientes visto que muitos visivelmente já estão em decadência física e/ou técnica.



Fabio Santos (36 anos) em ação pelo Corinthians (imagem extraída de www.facebook.com/corinthians



Não é raro observar jogadores experientes sendo hostilizado nas redes sociais porque não conseguem mais correr em campo ou porque perderam aquela dividida que resultou no gol adversário. Os torcedores até "passam pano" para um ou outro atleta mais querido -eu já observei o zagueiro Miranda ser poupado de críticas apesar de algumas falhas em 2021- mas isto deixa evidente o quanto a parte física deve ser impecável também em nossos gramados.

Times com um grande número de veteranos no elenco como o Corinthians e o Flamengo tiveram seus momentos de instabilidade atribuídos aos jogadores mais experientes. Comentaristas argumentavam que a falta de velocidade e força estaria comprometendo o rendimento das equipes.

Isto também justificaria porque o Palmeiras dispensou sem piedade os veteranos Felipe Melo, Jaílson e Willian Bigode à despeito de toda a história que possuem no Verdão. O trio já não conseguia mais se impor fisicamente no cenário atual, ainda que pudessem contribuir com experiência e liderança em campo.



Filipe Luís (à esquerda) com 37 anos em ação pelo Flamengo
(imagem extraída de www.facebook.com/FlamengoOficial)



"Experiência" e "liderança", por outro lado, são justamente os argumentos a favor dos veteranos no elenco. Jovens podem ter mais vigor e velocidade, mas muitas vezes lhes falta força mental e atitude em campo. Uma das estratégias mais adotadas, inclusive, é pressionar novatos para desestabilizá-los psicologicamente. Jogadores mais experientes, por outro lado, possuem mais "casca" e conseguem lidar melhor com a pressão.

Tal argumento justifica a presença de Chiellini (que estava com 37 anos durante a época) na Euro 2020. O veterano defensor, mesmo longe da forma física ideal, foi o líder que o elenco predominantemente jovem necessitava para se impor em campo. Por outro lado, vimos a Inglaterra desmoronar nos pênaltis durante a mesma competição com os três novatos (Saka, Rashford e Sancho) desperdiçando suas cobranças.

A presença de jogadores veteranos, portanto, ainda é muito importante no elenco, afinal são eles quem lideram o elenco dentro de campo e ajudam os mais jovens a lidar com a pressão do futebol, que está cada vez mais competitivo. É necessário considerar, porém, que o esporte está cada vez mais físico mesmo aqui no Brasil e é de suma importância que os atletas estejam em plenas condições para suportar os 90 minutos no gramado.

Cabe, portanto, aos nossos treinadores encontrar um equilíbrio perfeito entre a experiência e a juventude de seus elencos. Miranda, Hulk, Filipe Luís e os demais ainda têm seus espaços garantidos em seus respectivos times, mas é necessário ter consciência que o auge destes atletas já passou há muito tempo.



Hulk (36 anos) em ação pelo Atlético Mineiro (imagem extraída de www.facebook.com/atletico)




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