domingo, 8 de março de 2020

Entrevista: a Mulher no Futebol





Bom dia, queridos leitores e principalmente leitoras!

Um Feliz Dia da Mulher a todas as mulheres do Brasil e do mundo!

Não é uma data a ser comemorada historicamente falando, afinal o Dia da Mulher foi marcado por protestos violentos e até mortes de várias trabalhadoras revindicando por igualdade visto que seus colegas do sexo masculino gozavam de melhores salários e mais direitos trabalhistas.

A luta, infelizmente, continua visto que pessoas do sexo feminino ainda sofrem muitos preconceitos e restrições em nossa sociedade, incluindo o esporte e o futebol.

O futebol feminino ganhou mais notoriedade nas últimas décadas devido à maior exposição na mídia e graças a grandes jogadoras incluindo brasileiras como Marta e Cristiane. Mas, ainda assim, a modalidade está longe de ter o mesmo destaque e glamour se comparada à sua contraparte masculina.

O blog Farma Football, pensando nisso, decidiu ouvir algumas mulheres que jogam ou jogaram futsal pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas -originalmente, eu pretendia entrevistar jogadoras de outras instituições, mas não houve tempo hábil.

Entrevistei duas garotas que já atuaram pela faculdade que eu frequentei, perguntando suas trajetórias no esporte e também suas visões sobre a mulher no futebol.



Farma Football- Nome Completo

Luana- Luana Lascala Rodrigues

Silvia- Silvia Chen



FF- Qual curso que você frequenta/frequentou?

Luana- Eu faço Farmácia-Bioquímica.

Silvia- Farmácia USP



FF- Torce para algum time de futebol? Se sim, qual?

Luana- Sim, torço para o São Paulo.

Silvia- São Paulo FC



FF- Há quanto tempo joga futebol? Ou por quanto tempo jogou futebol? Se quiser, conte um pouco de sua trajetória na modalidade.

Luana- Comecei a me interessar pelo futebol com uns 6 anos de idade,  eu passava a tarde toda jogando no prédio em que eu morava. Quando cresci um pouco comecei a  querer treinar em algum time, foi bem difícil encontrar algum lugar que tivesse futebol feminino, então com 10 anos entrei para um time misto de futsal no Clube Esperia, mas um tempo depois o time se desfez e só restaram times de meninos, dos quais eu não podia participar.

Com 15 anos, eu resolvi participar de uma peneira para entrar no time de futsal feminino da Portuguesa. Treinar com esse time foi umas das experiências mais incríveis que tive pelo futebol, no entanto, depois de alguns meses, acabei fazendo a escolha  de deixar o time, pois o foco lá era realmente seguir uma carreira profissional pelo futsal, eram treinos longos e exaustivos, os horários não estavam mais compatíveis com os da escola  e eu sabia que mesmo com todo esse esforço seria muito difícil ter um futuro pelo futebol aqui no Brasil, na época a visibilidade do futebol feminino no Brasil era ainda bem menor do que atualmente, os jogos femininos não eram nem mesmo televisionados.

Depois disso, joguei no time feminino da ACM até meus 17 anos, quando entrei na faculdade e comecei a jogar pelo time de futsal  feminino da Farmácia-USP, onde sou muito feliz jogando atualmente.

Silvia- Jogo desde os 16 anos quando fiz intercâmbio nos Estados Unidos. Ou seja, 20 anos atrás! Agora já pode fazer as contas e ver quantos anos eu tenho...



FF- Qual posição que você joga/jogava?

Luana- Já joguei em diversas posições, mas atualmente, costumo jogar de pivô no futsal.

Silvia- No campo sempre fui meio-de-campo. No futsal, fico geralmente na ala ou fixo.



FF- Quantos títulos já conquistou pelo time de sua faculdade?

Luana- Em 2019, fomos campeãs da CUF (Copa Universitária de Futsal). O jogo da final do campeonato foi um dos jogos mais marcantes da minha vida, foi um jogo que sabíamos que seria muito difícil de ganhar, era contra um time bem forte, a Seleção do Mackenzie, mas entramos em quadra muito focadas e com muita raça conquistamos o título!

Silvia- Pelo time da Farma USP joguei durante toda a faculdade e mais 2 anos depois de terminado o curso. Na minha época não chegamos a conquistar títulos, mas construímos um time que 2 anos mais tarde conquistaria chegaria a final do InterUSP.



FF- Você já sofreu algum preconceito por ser mulher e jogar futebol? Se sim, conte um pouco de sua história.

Luana- Quando eu era criança e adolescente, eu jogava muitas vezes só com meninos. Nessa época, sempre ouvia alguns comentários desagradáveis: “mulher não sabe jogar bola”, “lugar de mulher é na cozinha” , “futebol é pra menino, menina tem que brincar de boneca”, entre muitos outros. Depois de um tempo, quando arrumei times femininos para jogar e nunca mais passei por situações desse tipo.

Silvia- Preconceito não. Mas sempre rola uma piadinha ou outra. Por exemplo, quando estamos jogando em time misto, e eu driblo um oponente do sexo masculino, ou defendo o ataque de um homem alguns caçoam daquele que foi driblado ou defendido por terem sido "passados pra trás" por uma mulher.



FF- Campeonatos femininos têm muito menos atenção da mídia que os masculinos, assim como os salários das jogadoras, os patrocínios, ... Em sua opinião, por que isto acontece?

Luana- Sabemos que não é apenas no futebol que as mulheres ainda sofrem com a desigualdade em diversos aspectos. Na minha opinião, os problemas que o futebol feminino enfrenta são reflexos de uma sociedade machista e consequência de um preconceito histórico. O futebol feminino só passou a ser aceito mais recentemente, quando o futebol masculino já estava muito bem estabelecido e estruturado.

Silvia- Os jogos masculinos, pela natureza do homem são mais rápidos, em termos de movimentação. Por conta disso, mais lances acabam acontecendo em jogos masculinos. Assim, existe mais espaço na mídia pra eles, consequentemente mais patrocínio e mais salário. Essa é a minha suspeita do porquê dessa disparidade.



FF- O que você acredita ser necessário para melhorar a situação do futebol feminino?

Luana- Acredito que pouco a pouco o futebol feminino está ganhando seu espaço e podendo mostrar para o mundo que ele é tão interessante quanto o futebol masculino. Para que isso continue acontecendo, temos que lutar pelo fim do preconceito e pelo maior investimento em infraestrutura e em times de base femininos, isso proporcionará um melhor rendimento das atletas e consequentemente um aumento na visibilidade, com estádios mais cheios e maior audiência na televisão.

Silvia- A demanda é que manda. Se mais pessoas se interessem por jogar e mais mulheres e homens quiserem assistir os jogos, mais espaço será criado na mídia, mais patrocínio, mais salário. Pra aumentar o interesse, precisa-se estimular as mulheres desde meninas, na escolinha.



FF- Na sua opinião, qual foi a maior conquista do futebol feminino?

Luana- O futebol feminino teve que enfrentar muitos obstáculos e dificuldades para chegar onde está. Pode até parecer mentira, mas até 1979 existia uma lei no Brasil que proibia mulheres de jogarem futebol, então certamente, a revogação dessa lei foi a principal conquista do futebol feminino e a partir disso, foram muitas outras conquistas importantes, como por exemplo a primeira Copa do Mundo Feminina televisionada em canal aberto no Brasil em 2019, que alcançou recordes de audiência.

Silvia- A contratação da jogadora australiana Samantha Kerr que assinou com o Chelsea como uma das jogadoras mais bem pagas da história.



FF- De que forma o esporte universitário ajuda ou ajudou você?

Luana- No esporte universitário, eu conheci pessoas incríveis que sei que vou levar para vida toda. Além disso, jogar é o que me dá suporte para aguentar as dificuldades e o estresse diário da graduação.

Silvia- Me deu noção do que é treinar pra alcançar um objetivo. Espírito de time e de garra até o fim. O jogo só acaba quando o juiz apita. Essa filosofia é aplicada em muitas outras áreas da vida. O futebol universitário me deu amizades pra vida e foi a base pra muitas viagens, festas, e consciência da atividade física pra bem estar e saúde.


FF- Em outros países, existe a possibilidade do acadêmico seguir carreira esportiva. Se houvesse essa possibilidade no Brasil, você jogaria profissionalmente?

Luana- O incentivo e investimento nos esportes que ocorrem em muitas universidades fora do país fazem muitos alunos terminarem a universidade com um nível esportivo bastante alto, já podendo até jogar profissionalmente. Se isso acontecesse no Brasil, com certeza eu iria tentar seguir uma carreira esportiva!

Silvia- Eu não sou nem nunca fui muito competitiva. Eu era uma das únicas que gostava mais dos treinos do que dos jogos. Então acho que falta esse elemento tem mim pra conseguir jogar profissionalmente.



FF- Que recado você gostaria de dar a outras garotas/mulheres que desejam jogar futebol?

Luana- Primeiramente, FUTEBOL É PARA MULHER, SIM! Nunca deixem que te digam ao contrário! Temos que apoiar umas às outras e juntas poderemos superar os obstáculos do futebol feminino, com o sonho de que um dia esse esporte, o qual amamos tanto, possa receber  seu devido reconhecimento!

Silvia- É um dos esportes mais fáceis de se aprender o suficiente pra se divertir. Vale a pena o investimento inicial de aprendizado e entrosamento.





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