quinta-feira, 23 de julho de 2020

Um Time sem Identidade


Imagem extraída de www.facebook.com/LuisSuarez9/



Contratações sem critério, treinadores de filosofias aleatórias e vestiário turbulento. Tudo isso poderia dizer respeito a algum clube brasileiro mas estamos falado do poderoso Barcelona, aquele se auto-intitula més que un club ("mais do que um clube", em catalão).

O clube catalão parece ter ficado órfão do técnico Josep Guardiola e daquela fantástica geração (Xavi, Puyol, Valdés, Iniesta, ...) que, entre outros feitos, conquistaram duas Ligas dos Campeões (2008-09 e 2010-11) e influenciaram todo o futebol através dos ensinamentos de Johan Cruyff (que foi treinador de Guardiola no próprio Barcelona): posse de bola, ofensividade e jogadores versáteis capazes de desempenhar mais de uma função em campo.

O tempo passou e o Barcelona ainda apresentou bons desempenhos apesar da saída do comandante. O clube até conseguiu uma segunda tríplice coroa com Luis Enrique em 2014-15 (a primeira havia sido conquistada com o próprio Guardiola em 2008-09) mas o desempenho da equipe foi ficando cada vez mais fraco a medida que mais jogadores importantes iam embora -saíram Xavi em 2015, Dani Alves em 2016 e Iniesta em 2018.

O Barça, em princípio, continuou apostando em jovens talentos para tapar os buracos no elenco mas a pressa do clube em reaver o título da Champions League (além do fato do arquirrival Real Madrid ter conquistado três "orelhudas" consecutivas nesse período) fez com que o clube catalão realizasse contratações precipitadas, motivadas mais pelo marketing do que pela necessidade ou planejamento a longo prazo. Como resultado, vieram muitos jogadores consagrados mas que visivelmente não se adaptaram ao estilo de jogo no time como Griezmann e Philippe Coutinho. Ademais, as muitas contratações tiraram o espaço dos atletas mais jovens, inclusive das pratas da casa dos quais o Barcelona sempre se orgulhou. Dessa forma, grandes promessas deixaram o Barcelona e hoje brilham em outros times, como Adama Traoré que é ídolo do Wolverhampton e Dani Olmo que foi destaque na Seleção Espanhola Sub-20.

Os treinadores passaram a ser escolhidos sem respeitar uma linha filosófica de trabalho em nome do imediatismo. O Barcelona até tentou manter o estilo de Guardiola com Tito Vilanova e Tata Martino (ambos adeptos do toque curto e da posse de bola) mas como os resultados não vieram a curto prazo, o clube resolveu apostar em outras mentalidades de jogo como Luis Enrique (que adota um futebol mais direto e vertical), Ernesto Valverde (defensivista) e Quique Setién ("cruyffista").

Os jogadores, por fim, foram ficando cada vez mais insatisfeitos com a situação, principalmente os líderes Messi e Suárez o que gerou uma crise no vestiário. Não obstante, há os constantes apelos de parte do elenco para que o Barcelona repatrie Neymar, que deixou o clube pela porta dos fundos em 2017.



Imagem extraída de www.facebook.com/leomessi/



O Barcelona deveria aproveitar o momento de crise e tentar tirar algum aprendizado a partir dos equívocos cometidos nos últimos anos.

É preciso reconhecer que a fantástica geração de Guardiola já está envelhecendo (alguns até já se aposentaram) e pensar efetivamente no futuro, afinal Messi, Piqué e Busquets terão de parar algum dia. E essa data já não está mais tão distante visto que eles já têm mais de trinta anos.

A transição deve ser executada mesclando-se os veteranos com mais atletas jovens, de preferência aqueles revelados pelo próprio Barcelona (Riqui Puig, Carles Aleñá, Ansu Fati, ...) uma vez que esses jogadores já têm assimilada a mentalidade do clube e teriam menos trabalho de se adaptar às rígidas normas da entidade. Progressivamente os atletas mais rodados devem perder o espaço para os mais jovens em uma espécie de "passagem de bastão".

O clube também precisa definir claramente que mentalidade de jogo deseja. Como vemos no futebol brasileiro, alternar treinadores de diferentes filosofias sem necessidade é algo que dificilmente dá resultado e, por acaso, este é mais um erro que o Barcelona vem cometendo nos últimos anos.

Enquanto o Barcelona agir mais pela pressa do que pela racionalidade, o time só conseguirá reaver o título da Champions League se tiver muita sorte. E o pior: a agremiação deixará de ser més que un club e será um clube jogado na vala comum, sem nenhuma identidade ou diferencial.



Imagem extraída de www.facebook.com/fcbarcelona




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