domingo, 27 de setembro de 2015

Corpo e Alma

Imagem extraída de https://www.facebook.com/DFBTeam



O futebol atual exige que os jogadores se portem como atletas de verdade. As condições físicas devem estar impecáveis para que possam aguentar os 90 minutos em campo (fora eventuais acréscimos e prorrogações) correndo, marcando e dividindo bolas. Praticamente não há mais nenhuma semelhança com as peladas em que os praticantes sequer precisam treinar para apresentar um bom desempenho em campo.

A idade também é sempre um adversário implacável para o atleta. Com o passar dos anos, o corpo não mais responde como deveria e as lesões tornam-se mais frequentes. Por mais talento ou qualidade técnica que o jogador possua, torna-se impossível atuar em alto nível quando o atleta tem muito mais do que trinta anos.

Tal fato explica, em parte, porque veteranos Steven Gerrard, Xavi, Andrea Pirlo e Didier Drogba deixaram a Europa ao final da temporada passada em busca de ligas onde o atleta é menos exigido fisicamente. Há, obviamente, outros fatores como os bons salários, a possibilidade de se deixar um grande legado em países onde o futebol não é um esporte tradicional e o desafio de deixar o time onde o jogador é ídolo para começar tudo do zero. Mas a idade, sem dúvida, foi um dos pontos cruciais para que estes atletas renomados deixassem o Velho Continente.

As seleções, da mesma forma, exigem que os jogadores estejam em plena forma física, sobretudo durante as competições. Os 23 atletas devem ser escolhidos minuciosamente para que o time não tenha desfalques visto que novas convocações não podem ser realizadas após o começo de um campeonato. A Alemanha, atual campeã do mundo, perdeu o zagueiro Shkodran Mustafi durante a Copa e foi obrigada a seguir em frente com 22 atletas.



Imagem extraída de https://www.facebook.com/DFBTeam



Muitos podem questionar, após os argumentos apresentados: por que o treinador Joachim Löw convocou o atacante Miroslav Klose para a Copa do Mundo? Klose já estava com 36 anos na ocasião, apresentava um grande histórico de lesões no currículo (agravados pela idade considerada "avançada" no futebol) e não vinha atuando com a mesma qualidade do passado, tendo sido reserva de Mario Gómez em muitas ocasiões.

Klose foi incluído na lista de 23 jogadores que representaram a Alemanha na Copa por uma série de fatores. O primeiro, obviamente, é o fato dele ser um grande centroavante. Já não tinha mais o mesmo vigor físico, mas o atleta que havia sido titular em três Copas do Mundo ainda apresentava o mesmo faro de gols.

O segundo motivo, sem dúvida, foi a falta de opções para a posição. Sem poder contar com Mario Gómez (em má fase na Fiorentina e convivendo com lesões), Kießling (com problemas pessoais com Joachim Löw) e Cacau (reserva no Stuttgart), o treinador manteve Klose no elenco. Não o utilizou em princípio -Löw começou a Copa escalando Müller como "falso nove"- mas aquela exibição brilhante no segundo jogo contra Gana mostrou que o "velhinho" ainda poderia fazer a diferença em campo.

O terceiro e, provavelmente, o mais relevante motivo foi o que Klose representa para a Seleção Alemã. o atacante havia disputado três Copas do Mundo, conquistado três medalhas (um vice em 2002 e dois terceiros lugares em 2006 e 2010) e teria a chance de atingir a marca de maior artilheiro em mundiais. Löw, certamente, pensou em dar a Klose a chance de encerrar sua passagem pela Mannschaft com chave de ouro, com a conquista do tetracampeonato e também com o recorde de gols. O jogador, mesmo sem estar 100% fisicamente, estaria convocado muito mais para ser homenageado do que para atuar.

O atacante, contudo, jogou uma bola digna de um atleta no auge de sua carreira. Klose se movimentou em campo, buscou jogo e deixou sua marca duas vezes. Ele até comemorou um de seus gols executando uma cambalhota para demonstrar como ainda estava em forma apesar dos 36 anos de idade.

Talvez "forma física" não tenha sido a principal razão para Klose ter feito a diferença naquela que seria sua última Copa do Mundo. Provavelmente, o veterano atacante tirou do fundo da alma todas as forças que lhe restavam para uma última grande exibição.

Klose, certamente, entendeu um dos motivos que o levou a disputar um torneio tão importante foi justamente o carinho que a Alemanha ainda sentia por ele. O atacante jogou para corresponder toda a confiança que o treinador e o torcedor depositaram nele. Sabia que já não poderia mais fazer tanto a diferença como anos atrás e que esta seria a chance de encerrar a carreira pela Mannschaft da melhor maneira possível.

Fez muito mais do que isso. Conquistou a sonhada artilharia, o esperado título (que não vinha desde 1990) e ainda fez a diferença nos gramados.

O físico não mais ajudava após 17 longos anos de carreira e tantas lesões no futebol profissional, mas o coração fez Klose decidir ser decisivo uma última vez pela Seleção Alemã e conquistar tudo aquilo que faltava para consagrar sua brilhante trajetória no esporte.



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