sábado, 4 de julho de 2015

O Argentino que Calou a Argentina

Imagem extraída de https://www.facebook.com/SeleccionChilena/



Hoje foi um dia histórico para o futebol chileno e também para o Chile. A Roja, após 120 anos de sua fundação, finalmente conquista seu primeiro título. E foi com todos os méritos, afinal a Seleção Chilena foi taticamente impecável, sabendo compensar suas limitações com esforço, raça e jogando um futebol belíssimo. Tudo isso apoiado por sua torcida que compareceu em peso do primeiro ao último jogo.

Sempre digo que os jogadores são os protagonistas em campo, afinal são os atletas que fazem o espetáculo acontecer, dão o sangue pelo time e colocam a própria saúde em risco. Tudo para que os clubes e seleções conquistem os troféus.

Hoje, no entanto, é inquestionável o quanto o treinador Jorge Sampaoli fez a diferença em campo. A Roja estava disputando uma final de Copa América após tantos anos de campanhas pífias. Mais do que isso: o adversário era a poderosa Argentina, local de nascimento de Sampaoli, e o rival tinha uma verdadeira constelação de atletas.

Sampaoli, a meu ver, foi o grande diferencial para que o Chile triunfasse. O treinador foi ousado na escalação ao optar por uma equipe mais ofensiva, transmitiu segurança a seus comandados a despeito de haver um Messi do outro lado, impediu que seus pupilos desanimassem e "jogou junto com o time" do primeiro ao último minuto.


O Chile foi a campo com duas mudanças: o volante Francisco Silva atuou recuado no lugar do zagueiro José Manuel Rojas, e o winger Jean Beausejour estava de volta no lugar de Eugenio Mena. As mudanças não comprometeram a Roja sob o aspecto defensivo e ainda melhoraram a saída de bola chilena.

A Argentina manteve a escalação inicial com relação à semifinal contra o Paraguai, com Martín Demichelis mantido na posição de Ezequiel Garay.

Foi estranho, no entanto, ver um time com Lionel Messi jogando sem a bola. A Argentina aceitou a pressão chilena e ficou a maior parte do tempo se defendendo, buscando chances de gol em contra-ataques ou bolas paradas.

O Chile jogava "compacto" (confesso que não gosto desta palavra), adiantando a marcação e trocando passes no campo ofensivo. Se perdiam a bola, o trio Silva, Díaz e Medel recuavam, enquanto os homens de frente cercavam o condutor da bola e saíam em contra-ataque tão logo que ela fosse recuperada.

A Albiceleste ofereceu muito espaço para a Roja jogar, principalmente pela esquerda, onde Vargas e Isla faziam a festa. Romero só não teve mais trabalho porque faltou ao Chile um homem de referência na área e o time da casa pecou nos arremates. E, para piorar, Di María teve de deixar o gramado aos trinta minutos do primeiro tempo, lesionado.



Chile no 3-5-2 contra Argentina no 3-4-3: os donos da casa
atuam compactados no campo de ataque e trocam passes em
busca do gol, mas pecam nas finalizações. Albiceleste, recuada,
articula contra-ataques com seu trio ofensivo, mas a compactação
chilena também funciona defensivamente e Argentina fica sem
espaço para jogar (obtido via this11.com).



A troca forçada de Di María por Lavezzi prejudicou o lateral Rojo, que sofreu ainda mais com a presença de Isla pelo seu lado.

A Argentina continuava à mercê da pressão chilena, tanto no ataque, quanto na defesa: não conseguia ficar com a bola e nem tinha espaços para atacar. Chance de gol, só em bolas paradas.

O treinador Tata Martino substituiu mal: trocou o cansado Agüero pelo lento Higuaín, quando deveria colocar Tévez, mais raçudo e melhor em jogadas individuais. A substituição do meia Pastore pelo volante Banega também foi incorreta, e isto foi mais uma demonstração de submissão ao Chile.

O Chile, por outro lado, não precisou mudar em nada no segundo tempo, afinal a Argentina estava praticamente dominada e apenas Messi e Mascherano esboçavam vontade de jogar bola.

Sampaoli deu uma revigorada no fôlego de sua equipe ao trocar Valdívia por Fernández e Vargas por Henríquez. Deveria ter aproveitado para colocar Pinilla, afinal a Roja ainda pecava nas finalizações e carecia de uma referência na área.



Os dois times em 3-5-2: sem a cobertura de Di María, Rojo dá
espaços para os rivais e torna-se presa fácil para Isla. Messi
tenta articular contra-ataques acionando Lavezzi e Higuaín,
mas a dupla se esqueceu de calibrar a mira (obtido via this11.com).



O jogo, inevitavelmente, vai para prorrogação.

A Argentina estava mais cansada por passar o jogo inteiro correndo atrás da bola.

O Chile, mais inteiro, chega com mais perigo na área de Romero, mas continua pecando nas finalizações.


O Chile faz a primeira cobrança.

Fernández coloca no cantinho esquerdo de Romero. 1x0.

Messi bate forte no meio. 1x1.

Romero chega a tocar a bola de Vidal, mas ela morre no canto esquerdo. 2x1.

Higuaín isola por cima do gol. Chile na frente.

Aránguiz coloca no contrapé direito. 3x1.

Bravo defende a cobrança de Banega. Argentina precisa torcer por erro chileno.

Alexis Sánchez, com muita calma e frieza, engana o goleiro Romero e cobra no lado esquerdo. 4x1. Estava sacramentado o primeiro título chileno.

Chile conquista seu primeiro troféu com méritos. O jogo coletivo e a aplicação de seus atletas em campo engoliu a Argentina.

Sampaoli, um argentino, calou o seu próprio país. Foi inteligente, ousado e honrou o legado de seu mentor Marcelo Bielsa, ao contrário de Martino, que armou sua equipe apenas para defender e ainda errou nas duas substituições no segundo tempo. Comemorou discretamente após o jogo em respeito à sua pátria.

A Roja provou que futebol bonito e raça podem (e devem) caminhar juntos.

Mais do que isso, mostrou que uma defesa frágil e composta por zagueiros baixinhos não é desculpa para o time não jogar. No melhor estilo Barcelona, a equipe compensava seus problemas defensivos impedindo o rival de ficar com a bola e, com isso, impossibilitando os rivais de jogarem.

Parabéns ao Chile e aos chilenos. E muito obrigado por esta aula de futebol.



Imagem extraída de https://www.facebook.com/SeleccionChilena/


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