quinta-feira, 2 de março de 2023

Nada de Especial = Tudo de Especial

Imagem extraída de www.facebook.com/Socceroos



O limiar entre a ousadia e a imprudência é muito tênue. Muitos treinadores, influenciados pelos colegas mais ofensivos, escalam os seus times de peito aberto e deixam a defesa exposta aos contra-ataques rivais. Ou então, tentam surpreender adversários com linhas altas sem terem os jogadores apropriados para tal estilo.

A Austrália do treinador Graham Arnold foi um dos times que mais me agradou sob o ponto de vista tático durante a Copa do Mundo. O técnico não realizou nada revolucionário em campo mas os Socceroos tinham plena consciência de suas limitações técnicas e adotaram um estilo de jogo que fosse compatível com as características dos atletas.

Arnold lançou mão de esquemas com duas linhas de quatro (4-4-2 ou 4-1-4-1) para negar os espaços aos ataques rivais e tentar algum contra-golpe com Leckie ou Irvine pelas pontas. O objetivo não era necessariamente marcar gols com os ponteiros, mas sim cavar faltas ou escanteios próximos à área adversária para que o zagueiro grandão Souttar pudesse anotar alguns tentos em bolas levantadas.

O estilo dos australianos estava muito longe de ser bonito sob o ponto de vista técnico mas era totalmente apropriado aos jogadores que Arnold tinha à disposição. O treinador possuía pouquíssimos craques no elenco mas dispunha de atletas altos, com boa imposição física e alguns deles velozes. O técnico sabia que seria um risco muito grande enfrentar uma França ou uma Argentina de peito aberto e, então, optou por uma tática conservadora.



Imagem extraída de www.facebook.com/Socceroos



A Austrália, se não chamou atenção pelo futebol jogado, impressionou pelo desempenho acima do esperado, chegando às oitavas-de-final e igualando a histórica campanha de 2006, que contava com atletas memoráveis como Viduka, Bresciano e Cahill.

Talvez fosse até possível chegar mais longe visto que os Socceroos foram superiores aos adversários franceses e argentinos durante alguns minutos, mas a falta de experiência e de "malícia" em campo pesou durante os momentos decisivos. Ademais, os rivais contavam com atletas muito diferenciados -Messi e Mbappé, para ser mais preciso.

Graham Arnold e seus comandados tiveram o merecido reconhecimento pela ótima campanha no Catar. A delegação foi recebida com festa em seu país e o treinador foi recompensado com a extensão de seu contrato até 2026, decisão acertada da federação visto que há muitos jovens no elenco e o grupo demonstrou potencial para voos mais altos -quem sabe chegar às quartas-de-final no próximo mundial.

A Austrália não jogou um futebol bonito e tampouco foi páreo para as potências do esporte. Mas Graham Arnold demonstrou que um estilo simples e conservador pode ser coeso e gerar frutos. Não obstante, os Socceroos respeitaram a si próprios em campo ao não tentarem ir além das capacidades técnicas do grupo.



Imagem extraída de www.facebook.com/Socceroos




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