terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Fair Play Financeiro: o Fim do "El Dorado" no Futebol

Imagem extraída de www.facebook.com/mancity/



Tudo começou lá pelo início dos anos 2000 quando o magnata russo Roman Abramovich comprou o Chelsea e passou a investir boa parte de sua fortuna no clube londrino, o que possibilitou os Blues a trazerem muitas estrelas como Shevchenko, Ballack, Drogba e tantos outros. Vieram os holofotes e, posteriormente, os títulos.

O Chelsea, provavelmente, não foi o primeiro caso em que um magnata comprou um clube europeu e o transformou em um esquadrão de estrelas mas foi o mais emblemático e que ganhou ainda mais notoriedade por ser o primeiro (e, por enquanto, o único) dos "novos ricos" a faturar a Liga dos Campeões, em 2012.

O sucesso do Chelsea abriu as porteiras para que mais milionários investissem em clubes europeus e os transformassem em verdadeiros esquadrões estrelados. Foi assim com Manchester City e Paris Saint-Germain. Nem todos os clubes adquiridos por magnatas vingaram, como foram os casos do Monaco, Valencia, Málaga e Milan; mas a alegria dos "novos ricos" seguiu até que uma nova realidade surgiu.

A UEFA estipulou a regra do fair play financeiro, que nada mais é que um limitador de gastos para os times: de forma simplificada, nenhum clube europeu pode gastar mais do que arrecada sob o risco da equipe ser suspensa ou excluída das competições internacionais -Champions League e Europa League. A medida não visava, em princípio, acabar com a festa de clubes pertencentes a magnatas, mas acabou, de certa forma, se tornando um limitador para os poderes dos milionários e de seus "supertimes". A norma foi estabelecida em 2009 e foi sendo implantada aos poucos até chegar aos padrões atuais.

Este foi o motivo que levou o Manchester City a ser suspenso das próximas duas edições da Champions League: os Citizens teriam fraudado os valores dos patrocínios para burlar as regras do fair play financeiro.

O impacto da sanção foi imediato e o City corre o risco de sofrer um desmanche no final da temporada, além da possibilidade do treinador Pep Guardiola deixar o clube. Isso sem falar nos prejuízos gerados pela ausência dos Citizens na Champions League. O time tenta reverter a punição imposta pela UEFA nos tribunais, mas a disputa promete ser dura.



Imagem extraída de www.facebook.com/mancity/



Justa ou não, a punição ao City serve de aviso aos endinheirados. É necessário, obviamente, muito investimento para se montar e se manter uma equipe competitiva. Porém, o poder financeiro de um clube não pode servir como salvo-conduto para que um time possa burlar regras livremente. Juventus, Barcelona, Real Madrid, Atlético de Madrid e Milan também desrespeitaram regras e foram justamente punidos (embora alguns destes clubes tenham sofrido penas brandas em minha opinião) a despeito de serem clubes tradicionais e com muitos recursos financeiros.

O fair play financeiro, de certa forma, também equilibra as competições, embora não tenha sido exatamente esta a finalidade de sua adoção. Clubes com grande poder aquisitivo não apenas podem comprar os melhores jogadores do mundo como também controlar onde estes jogadores irão atuar caso não se firmem. Com a nova medida, é mais difícil que os grandes clubes "acumulem" atletas e as equipes com menos poder aquisitivo tem mais chances de contratar melhor e também de se equiparar aos rivais mais endinheirados.

As medidas adotadas, por fim, também mantêm a competitividade dos campeonatos evitando que se tornem polarizados como ocorre na Bundesliga da Alemanha ou na Ligue 1 da França, onde apenas parece existir o Bayern e o PSG, respectivamente. Como expliquei em outro post, a falta de equilíbrio nas ligas provoca a acomodação das equipes e isto acaba se refletindo no desempenho dos times durante a Champions League.

Os torcedores do City podem se queixar, mas é obrigação das federações de futebol manter a competitividade de suas ligas, embora apenas clubes endinheirados consigam os títulos na prática. Ademais, fraude pode ser até considerado crime dependendo da situação, embora eu duvide que os Citizens sejam denunciados criminalmente.

Com o fair play financeiro, não há mais El Dorado no futebol e os clubes precisam gastar com responsabilidade, sem cometer loucuras.



Imagem extraída de www.facebook.com/mancity/



LEIA MAIS:

Blog do Rodrigo Capelo- "Entenda como funciona o fair play financeiro no futebol europeu – e quais clubes estariam ameaçados se o sistema existisse no Brasil": https://globoesporte.globo.com/blogs/blog-do-rodrigo-capelo/post/2020/02/17/entenda-como-funciona-o-fair-play-financeiro-no-futebol-europeu-e-quais-clubes-estariam-ameacados-se-o-sistema-existisse-no-brasil.ghtml



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