sábado, 22 de fevereiro de 2020

Questão de Altitude?

Imagem extraída de www.facebook.com/ClubDeportesTolimaSA



O início da Libertadores e da Sulameriana trouxe de volta um adversário bastante temido pelos clubes brasileiros, a altitude.

Haverá jogos em cidades situadas quilômetros acima do nível do mar como Quito, La Paz e Barranquilla sendo a grande maioria situadas na Cordilheira dos Andes.

A altitude andina é um décimo-segundo jogador para muitos times. Os clubes sediados nestas cidades se valem do ar rarefeito -o termo correto seria "baixa concentração" ou "baixa pressão de gás oxigênio no ar"- para superar adversários que não estão acostumados a jogar em tais condições.

O ar atmosférico ao nível do mar é composto por cerca de 20% de gás oxigênio, situação da maioria das cidades brasileiras. Em localidades mais elevadas (algo em torno dos 2 km), a concentração ou pressão parcial do gás oxigênio diminui drasticamente. Com isso, o organismo tem mais dificuldade para gerar energia o que faz com que jogadores se cansem mais rápido.

O organismo tende a se adaptar em tais condições, mas isso leva algum tempo e os clubes optam por estratégias a curto prazo, como viajar para o local das partidas no último instante para diminuir a exposição dos jogadores ao ar rarefeito ou, então, administrar gás oxigênio aos jogadores através de cilindros. Pessoas que vivem nessas regiões, por outro lado, não sentem os efeitos porque estão habituadas em viverem sob baixa pressão de oxigênio.



Imagem extraída de www.facebook.com/vascodagama/



A FIFA, em 2007, já tentou proibir a realização de jogos em altitudes superiores a 2,5 km "por razões médicas", mas voltou atrás no ano seguinte. O então presidente da Bolívia, Evo Morales, foi o mais exaltado contra a medida visto que vários times de seu país não poderiam mandar jogos onde os clubes estão sediados.

 Os brasileiros têm consciência de que a altitude é uma arma dos adversários com sede nos Andes, mas poucos parecem interessados em realizar uma preparação realmente adequada. É como se estivessem conformados com a possibilidade de perderem e depois utilizarem o ar rarefeito como desculpa para um eventual resultado negativo.

O ideal seria realmente preparar os atletas para jogar na altitude ao invés de se pensar em soluções a curto prazo. Os clubes poderiam, por exemplo, realizar a pré-temporada em cidades situadas a 2,5 km ou mais acima do nível do mar. Ou treinarem em ambientes com atmosfera controlada, com menores percentuais de gás oxigênio por exemplo. Ou, ainda, investirem em pesquisas científicas (algo que clubes europeus como Lille e Liverpool já fazem) em busca de novos métodos (treinos, suplementos alimentares, ...) que ajudassem os jogadores a resistirem às baixas concentrações de oxigênio.

Jogar na altitude é tão difícil quanto jogar em outros tipos de condição adversa. Há jogos realizados no frio intenso, em regiões desérticas, na chuva, no calor acima de 40°C e até mesmo na neve. Os times que visitam esse tipo de adversidade, porém, sempre se preparam para atuar em ambientes assim. Não vi, por exemplo, nenhum jogador do Flamengo reclamar do calor ou do ar seco quando disputaram o Mundial de Clubes no Catar durante o ano passado. E não me lembro de nenhum jogador do São Paulo, Internacional ou Corinthians reclamar do rigoroso inverno japonês quando o Mundial de Clubes foi disputado no Japão. Por que, então, nossos jogadores não poderiam se preparar de forma adequada para a altitude?

Enquanto os clubes brasileiros não tomarem alguma altitude senão chorar, continuaremos sofrendo na altitude andina e dando as mesmas desculpas esfarrapadas de sempre para justificar resultados negativos na Cordilheira dos Andes.



Imagem extraída de www.facebook.com/FlamengoOficial/




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