domingo, 23 de fevereiro de 2020

O "Vale Tudo" das Torcidas

Imagem extraída de www.facebook.com/FCPorto/



Há quem reclame que o futebol atual esteja "chato" devido a restrições feitas às provocações entre clubes, mas há argumentos que fortalecem ainda mais a necessidade de tais restrições.

Torcedores apelam para qualquer tipo de argumento para desestabilizar os adversários: xenofobia, homofobia, racismo e todo tipo de insulto possível. Obviamente, nem tudo o que é vociferado nas arquibancadas tem a intenção de ofender ou ferir a honra de alguém, apenas provocar ou de tirar a concentração do adversário. Mas nem tudo o que acontece nos estádios permanece nos estádios, principalmente quando as atitudes dos envolvidos configuram algum crime.

Tivemos, durante a semifinal da Taça Guanabara o lamentável episódio envolvendo a torcida do Fluminense que chamou os jogadores flamenguistas de "assassinos" (alusão ao caso dos garotos mortos em um incêndio ocorrido no CT do Flamengo há um ano atrás e ainda não encerrado devido às brigas jurídicas entre clube e parente das vítimas pelo valor das indenizações). Três dias depois, foi a torcida do São Paulo que deu mau exemplo ao entoar insultos homofóbicos ao goleiro Cássio a cada bola recuada pela defesa, atitude que ainda faz parte de nossa cultura, infelizmente.

Os maus exemplos da torcida não são exclusividade no Brasil. Na Europa, infelizmente, são comuns casos de racismo e xenofobia por parte de torcedores. Não foram poucas as vezes em que jogadores foram hostilizados por questões políticas (guerras, questões separatistas, nacionalismo exacerbado, ...), sociais (imigrantes) ou por causa da etnia.

No último domingo, foi a vez da torcida do Vitória de Guimarães de Portugal se exceder nas provocações. Torcedores lançaram insultos racistas ao atacante Moussa Marega (foto acima), que defende o adversário Porto. O malinês se revoltou diante das ofensas e da passividade do árbitro. E ameaçou deixar o gramado. Tanto os jogadores do Porto quanto do Vitória (o compatriota Falaye Sacko, que também é negro, entre eles) tentaram demover o atacante de sua ideia, em vão. O africano ainda usou sua conta no Instagram para criticar a torcida adversária e o árbitro da partida.



Imagem extraída de www.facebook.com/FCPorto/


O torcedor, obviamente, quer ajudar o seu time de coração. A torcida incentiva o time e pressiona o adversário. Não é exagero dizer que o torcedor é um décimo-segundo jogador de uma equipe.

É fato que a atitude da torcida do Vitória de Guimarães não foi motivada por ódio, era apenas para desestabilizar Marega. Tanto que o Vitória conta com muitos jogadores africanos negros, como Mikel Agu (nigeriano), Joseph Amoah, Alhassan Wakaso (ganeses) e o já citado Falaye Sacko.

O torcedor, porém, não está acima do bem e do mal, e, tampouco, pode utilizar o amor pelo seu clube para justificar atitudes de ódio ou intolerância, lembrando que nem todos os países consideram racismo, xenofobia ou afins como crimes. Seres humanos devem ser julgados pelos seus atos, nunca pelo seu berço, pelos seus traços ou pela cor de sua pele.

Mais grave é o fato do evento estar sendo televisionado. Muitas pessoas, incluindo crianças, assistiram à cena lamentável, isso sem falar naquelas que presenciaram o momento em que Marega era insultado. É necessário que a punição aos agressores seja exemplar e que a sentença tenha uma divulgação tão grande quanto os insultos, ou ficará registrado na mente das pessoas que racismo é algo "normal" e que pode ser praticado sem nenhuma consequência.

Nem tudo que acontece nos estádios permanece nos estádios. Incidentes graves precisam ser investigados, julgados e levados às últimas consequências se necessário, ou continuarão ocorrendo a cada partida.




Imagem extraída de www.facebook.com/FCPorto/





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