sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Planejar pra Que?

Imagem extraída de www.facebook.com/atletico/



Que profundas são as molas da vida, como já disse Brás Cubas. Um dia após publicar um texto citando o treinador Rafael Dudamel, ele foi demitido. O venezuelano caiu após o Atlético Mineiro ter sido eliminado da Copa do Brasil diante do modesto Afogados. Nesta mesma semana, o técnico Cristóvão Borges também foi dispensado do Atlético Goianiense após derrota sofrida diante do arquirrival Goiás em partida válida pelo Campeonato Goiano.

Chama a atenção o fato das duas demissões terem ocorrido com pouco menos de dois meses de trabalho. Os dois treinadores tiveram aqueles parcos 15 dias de pré-temporada antes do início dos estaduais e mal tiveram tempo de implantar alguma filosofia de jogo.

Pior, os clubes fizeram o planejamento, se é que realmente houve algum, baseando-se no trabalho dos treinadores. São os técnicos que montam o elenco já pensando em algum desenho tático ou em algum estilo de jogo. Quando muda-se o comandante, tudo precisa ser repensado e muitas vezes não há tempo para novas contratações ou dispensas uma vez que o novo treinador já chega com o bonde andando e fora do prazo para novas inscrições. E os resultados precisam vir com urgência visto que isso sempre ocorre em momentos de crise.



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A sensação que fica é de que não há planejamento real. Mais parece que a maioria dos dirigentes selecionam treinadores sem critério algum. Se os resultados aparecerem, os técnicos são endeusados e transformados em algum messias. Caso contrário, o comandante passa a ser frito lentamente até que alguma eliminação ou derrota em clássico sirva como desculpa para a demissão. Isso, claro, quando a dispensa não ocorre por motivo puramente emocional, como aconteceu com Alberto Valentim no Botafogo ou Cristóvão no Atlético-GO por ambos terem perdido para grandes rivais.

É óbvio que os times precisam de resultados mas a grande maioria dos times que tiveram conquistas relevantes nos últimos anos (por favor, não considerem os inúteis estaduais) tiveram sucesso graças a treinadores que tiveram tempo para implantarem suas filosofias de jogo e também respaldo de suas respectivas diretorias.

Jorge Jesus, Renato Gaúcho e Tiago Nunes, por exemplo, tiveram voto de confiança de seus respectivos dirigentes. Imaginem se o Flamengo tivesse demitido Jorge Jesus após a eliminação da Copa do Brasil no ano passado o que teria acontecido. Ou o que teria sido do Corinthians se Tite tivesse sido dispensado após aquela eliminação nos playoffs da Libertadores diante do Tolima em 2011.

É necessário, portanto, pensar a longo prazo se o clube quiser os troféus, correr riscos calculados, considerar perder alguns jogos iniciais para mais tarde vencer. A maioria de nossos dirigentes, porém, prefere os resultados a curto prazo e demitem treinadores justamente para que a responsabilidade pelos resultados ruins não respingue nos cartolas.

Gostaria, por fim, de recomendar o texto escrito pelo jornalista Leonardo Miranda do Globoesporte (o link está no final deste post). O articulista fez uma ótima análise para explicar as constantes mudanças de treinadores nos clubes brasileiros também utilizando o caso de Rafael Dudamel como exemplo.

Enquanto nossos dirigentes mantiverem a mesma postura, times como o Atlético-MG vencerão jogos mas não campeonatos.



Imagem extraída de www.facebook.com/atletico/



LEIA MAIS:

Painel Tático- "O círculo vicioso do treinador contratado sem convicção e planejamento": https://globoesporte.globo.com/blogs/painel-tatico/post/2020/02/27/o-circulo-vicioso-do-treinador-contratado-sem-conviccao-e-planejamento.ghtml



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