segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Cada um se Vira com o que Tem de Melhor

Imagem extraída do Facebook oficial de Diego Simeone- https://www.facebook.com/diegopablosimeoneoficial/



Quando éramos adolescentes, eu e meu irmão costumávamos jogar um joguinho de cartas colecionáveis. Quem tivesse as cartas mais fortes, quase sempre ganhava todas. Mas como não tínhamos um alto poder aquisitivo, era muito difícil competir com adversários e seus "superbaralhos". Meu irmão, porém, compensava montando baralhos criativos, criando boas combinações com as cartas que possuía e conseguia bons resultados com suas estampas aparentemente pouco poderosas. Ele conseguia ser competitivo apesar dos recursos limitados.

Analisando alguns times de futebol, percebi que muitos clubes dispõem de muitos recursos financeiros -Barcelona, Bayern, Manchester United, Real Madrid, City, Chelsea, ...- e podem adquirir praticamente qualquer jogador no mercado. Claro que há as exceções que não trocam suas equipes por nada neste mundo -Messi, Iniesta, Xavi, Lahm, Schweinsteiger, ...- mas qualquer outro atleta pode ser perfeitamente adquirido por estes clubes milionários. São como os jogadores de grande poder aquisitivo, capazes de comprar qualquer carta e montar os "superbaralhos".

Há também os clubes que não dispõem destes recursos financeiros e estes times precisam lançar mão do que têm à disposição -jogadores nas categorias de base ou buscar atletas em ligas mais acessíveis. São como o meu caso, que precisava lançar mão de cartas pouco poderosas.

Mesmo com recursos limitados, alguns treinadores conseguem raciocinar, utilizar seus jogadores aparentemente limitados, explorar bem seus pontos fortes e transformá-los em times competitivos. Foi o que li no livro Os Números do Jogo, onde um capítulo inteiro é dedicado ao Stoke City. O Stoke, sem contar com o poder aquisitivo de um United ou de um Chelsea, dispunha apenas de jogadores lentos e pouco habilidosos mas com força e tamanho de sobra. O treinador Tony Pulis, observando isto, passou a explorar o jogo aéreo e as cobranças de lateral em direção à área com o volante Rory Delap (já aposentado). Os Potters, a despeito do time limitado, conseguiram sobreviver ano após ano na Premier League graças à perspicácia de Pulis que soube utilizar bem o que tinha à disposição e transformou tudo isso em resultados. Era o que meu irmão fazia com suas cartas pouco poderosas, mas que se mostravam bastante eficientes quando combinadas corretamente e de maneira inteligente.

Equipes como o Atlético de Madrid e o Olympique de Marseille estão alguns níveis acima do Stoke City, mas ainda não conseguem competir financeiramente com os milionários.

O Atleti perdeu três peças importantes para o milionário Chelsea durante a última janela de transferência -o goleiro Courtois, o lateral Filipe Luís e o atacante Diego Costa. E já haviam perdido Falcao García, Forlán e Sergio Agüero em outras ocasiões. Mas os Colchoneros ainda têm Diego Pablo Simeone (foto acima), treinador que debelou a crise no clube em 2012, fez o Atlético voltar a ganhar títulos e levou os Rojiblancos à final da Champions em 2014. E o time, apesar das perdas, manteve sua qualidade e produtividade graças à inteligência de Simeone, que motivou seu time (algo que seus jogadores vivem declarando em entrevistas) e soube aproveitar bem suas características em campo. Atualmente, o Atlético está em terceiro na Liga BBVA com 38 pontos, empatado com o vice-líder Barcelona e apenas um atrás do líder Real Madrid.

Caso semelhante foi o de Marcelo El Loco Bielsa (foto abaixo), que já havia revolucionado o futebol no Chile e no País Basco. O argentino desembarcou no Marseille ao começo da temporada. O argentino sabia que o time não seria exatamente o melhor do mundo, mas soube tirar proveito do elenco que possuía. Seu estilo, combinando disposição em campo com toque de bola, funcionou no OM e o Olympique lidera a Ligue 1 com 41 pontos, dois à frente do vice Lyon e três à frente do terceiro lugar, o PSG. Tudo isso mesmo sem contar com os recursos financeiros do Monaco e do próprio PSG.

Lendo o livro e constatando como equipes de baixo orçamento conseguem fazer frente aos rivais milionários, vi como o técnico pode ser o diferencial. É claro que existem treinadores brilhantes como o Mestre Cruyff, Guardiola e Jupp Heynckes, que conseguem unir futebol bonito com eficiência. Mas também é fascinante como há técnicos que aparentam ter o toque de Midas e transformam elencos aparentemente limitados em ouro. Basta observar o que os jogadores têm a oferecer de melhor e tirar proveito disso.

Se um baralho com recursos limitadíssimos pode fazer frente a adversários com grande poder aquisitivo, por que, então, um time aparentemente modesto não poderia enfrentar um adversário milionário se em campo são onze contra onze? Basta seu treinador ter inteligência, analisar as características do elenco (fortalezas e fraquezas) e tirar proveito disso nos confrontos.



Imagem extraída do Facebook oficial do Olympique de Marseille- https://www.facebook.com/OM/

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