terça-feira, 10 de novembro de 2020

Incluir ou Elitizar?

Imagem extraída de www.facebook.com/fifaworldcup



Os comentaristas esportivos, com alguma frequência, levantam a questão sobre a criação de mais vagas para os campeonatos internacionais.

A Copa do Mundo, por exemplo, contava com apenas 13 seleções em sua primeira edição em 1930, passou para 16 em 1934, aumentou para 24 em 1982 e chegou aos 32 em 1998. E há planos para ampliar ainda mais o número de participantes futuramente -cogitou-se que isso ocorresse já na Copa de 2022 mas mudança foi postergada.

Argumentos a favor do aumento do número de participantes tornariam a competição, de fato, uma verdadeira Copa do Mundo com mais nações e continentes sendo representados no torneio. O formato atual inclui poucas vagas para países africanos (cinco), asiáticos (quatro a cinco, dependendo da repescagem contra um representante das Américas do Norte e Central) e, talvez, uma única vaga para a Oceania a ser disputada com um representante da América do Sul. Seria, de fato, uma competição mais democrática e inclusiva.

Argumentos contrários, por outro lado, alegam que o nível técnico da competição cairia bastante com a inclusão de mais seleções. Ademais, isto criaria mais problemas como necessidade de mais infra-estrutura para acomodar mais delegações e torcedores; afastamento de patrocinadores e espectadores desinteressados em acompanhar jogos entre seleções de pouca expressão; e a própria desvalorização do torneio que se tornaria mais fácil de se ingressar. Um campeonato com menos participantes, portanto, permitiria a participação apenas da elite futebolística, representada pelos melhores times do mundo.



Imagem extraída de www.facebook.com/fifaworldcup



As federações são sempre motivadas pelos lucros e o aumento ou redução do número de vagas dependeria muito do retorno financeiro após as mudanças. Ou então, como explicado no livro Jogo Sujo de Andrew Jennings, dirigentes incluem mais equipes nos campeonatos em troca de votos ou favores políticos.

Uma outra razão que tem levado as instituições a considerarem a inclusão de mais equipes é justamente a ausência de certos times e jogadores consagrados em suas competições nos últimos anos. A Copa do Mundo de 2018, por exemplo, não pôde contar com Itália, Holanda, Chile, Argélia, Camarões e outras seleções de apelo comercial. Edições recentes da Champions League não tiveram a participação de Milan, Manchester United, Benfica e outros campeões que, sem dúvida, alavancariam ainda mais a audiência do torneio.

Os próprios clubes europeus já perceberam isto e alguns já se articulam para criar uma liga própria com a participação apenas de equipes consideradas de "elite" -Real Madrid, Barcelona, Manchester United, Liverpool, Bayern München, ... A UEFA rechaçou a primeira tentativa mas os times estariam negociando novamente a criação de tal campeonato, visto que o retorno financeiro da competição seria ainda mais interessante que a própria Champions League.

Um possível aumento no número de participantes em competições internacionais, portanto, não seria por caráter de inclusão, justiça ou benevolência. Seria apenas algo visando mais lucros ou meras manobras políticas. Na prática, apenas aumentaria as chances de se manter os time de "elite" nos campeonatos e traria mais equipes "coadjuvantes" como mero efeito colateral das medidas.



Imagem extraída de www.facebook.com/fifaworldcup




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