sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Zagueirante ou Voleiro?

O chileno Gary Medel pode atuar como zagueiro ou volante
(imagem extraída de www.facebook.com/garymedel)



Nunca esqueci o final da Copa América 2015, vencida pelo Chile. O então treinador da Roja, Jorge Sampaoli, teria pela frente a Argentina de Messi, Agüero, Di María, Tévez e Higuaín. E o técnico caprichou na ousadia ao escalar uma defesa com três volantes (Gary Medel, Francisco Silva e Marcelo Díaz) e nenhum zagueiro (embora Medel atue mais como defensor) apesar de toda a força ofensiva do rival. Os chilenos não conseguiram vencer o jogo no tempo normal -a partida foi decidida nos pênaltis- mas a zaga "improvisada" cumpriu sua missão: anulou os atacantes argentinos e o goleiro Claudio Bravo estava zerado após o embate.

Utilizar volantes improvisados como zagueiros não é exatamente uma novidade desta década. Há algum tempo muitos jogadores já conseguiam desempenhar confortavelmente ambas as funções, como o francês Marcel Desailly ou o holandês Ronald Koeman. O futebol atual, contudo, demanda que os jogadores saibam atuar em mais de uma posição e também que participem mais coletivamente do jogo. É bastante comum ver a linha de defesa subir para o ataque, assim como os atacantes voltam para cobrir a zaga.

Volantes, de modo geral, são jogadores mais habilidosos que zagueiros, além de terem mais mobilidade e qualidade na saída de bola. Meio-campistas defensivos, portanto, teriam o perfil muito mais adequado para se compor uma defesa no futebol atual do que defensores propriamente ditos.



O basco Javi Martínez também pode jogar na defesa e no meio-de-campo
(imagem extraída de www.facebook.com/javimartinez.oficial)



A desvantagem de uma zaga formada apenas por volantes é óbvia: como os cabeças-de-área sobem muito mais para ajudar na frente, acabam deixando muitos espaços às costas, o que é um convite para um contra-ataque adversário. A recomposição precisa ser feita de forma precisa e coordenada para evitar que o rival consiga aproveitar as brechas.

A ideia de recuar volantes para a zaga funciona, mas consegue troféus? Certamente. Josep Guardiola faturou a sua segunda Champions League como técnico recuando o meio-campista Javier Mascherano para a vaga de Puyol, já em fim de carreira e sofrendo com seguidas lesões. E o argentino se saiu muito bem na função. Cabe, ainda, mencionar que Sergio Busquets também foi usado na defesa junto com o Jefe e ambos deram conta do recado apesar de não ser a função habitual da dupla.

Guardiola, algum tempo depois, utilizaria os volantes Javi Martínez e Mehdi Benatia como zagueiros no Bayern München. A dupla não decepcionou apesar de não terem conquistado a Champions League, mas o basco e o marroquino sofreram, e muito, com as lesões durante o período.

Não posso deixar de mencionar, obviamente, o Chile de Jorge Sampaoli, a equipe que me encantou e motivou a escrever este texto. Aquele time combinava o toque de bola típico da Espanha com a raça sul-americana. A Roja compensava a falta de tamanho e de força física de seus atletas com muita intensidade, compactação e recomposição. E, claro, com muita ousadia, como a de enfrentar a Argentina de Messi sem nenhum zagueiro de ofício.



Mascherano é volante de origem mas foi recuado para a defesa por
Guardiola (imagem extraída de www.facebook.com/EdelpOficial)




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