sexta-feira, 20 de novembro de 2020

A Maldição do Campeão

A Itália venceu a Copa do Mundo de 2006 e decepcionou 
em 2010 (imagem extraída de www.facebook.com/FIGC)



A Itália foi campeã na Copa do Mundo 2006 sobre a França de Zidane. A geração de Cannavaro, Grosso, Buffon, Pirlo e muitos outros vivia o seu auge durante aquele mundial -muitos desses jogadores já eram trintões na época. Comentaristas já afirmavam durante aquele período que a Azzurra precisaria passar por uma renovação para o ciclo seguinte e os italianos até ensaiaram um rejuvenescimento de sua equipe. Como os resultados a curto prazo não vieram e havia o risco dos Azzurri sequer irem à África do Sul, o treinador tetracampeão Marcello Lippi e vários atletas daquele grupo foram resgatados. O time até conseguiu se classificar para o Mundial, mas passou vergonha em solo africano e foi eliminado ainda na fase de grupos.

A Espanha foi campeã inédita no mundial seguinte, em 2010. A Furia com seu futebol técnico, elegante e de posse de bola ainda conseguiu faturar a Eurocopa dois anos depois, indicando que a geração de Casillas, Ramos, Xavi e Iniesta ainda teria lenha para queimar. Os espanhóis, contudo, parecem ter se acomodado e não se preocuparam em renovar o elenco ou modernizar o seu estilo de jogo. Como resultado, a equipe foi facilmente dominada pela intensidade da Holanda e do Chile durante a Copa 2014, sendo obrigada a voltar para casa ainda durante a fase de grupos.

A sina se repetiu com a campeã seguinte, a Alemanha, que havia vencido com autoridade a Copa de 2014. O treinador Joachim Löw até ensaiou uma renovação com Rüdiger, Tah, Bellarabi, Volland, Werner e outras promessas daquela época. Mas o técnico enviou à Rússia praticamente o mesmo time do mundial anterior -Müller, Özil, Khedira, Hummels, Boateng, ... Aquela geração estava mais do que manjada pelos rivais e, além disso, os alemães atuaram com uma apatia inacreditável durante o campeonato. A Mannschaft terminou eliminada ainda na fase de grupos, assim como foi com a Itália em 2010 e a Espanha em 2014.



A Espanha brilhou em 2010 mas passou vergonha aqui no
Brasil quatro anos depois (www.facebook.com/Iker.Casillas)



A suposta "maldição do campeão", que atacaria os vencedores de Copas do Mundo durante os mundiais seguintes, não existe. Tudo não passa de um desleixo por parte das próprias equipes que se acomodam na zona de conforto e não se preocupam em renovar seus grupos ou modernizar seus estilos de jogo.

Equipes vencedoras têm dificuldades em defender seus títulos justamente porque tornam-se mais visadas por seus adversários. Seus estilos acabam sendo totalmente dissecados por concorrentes, seja para adoção de contramedidas, seja para uso próprio -basta lembrar quantos times tentaram emular o Tiki-Taka de Guardiola ou a marcação alta de Jupp Heynckes.

Quando os times não se preocupam em mudar seus elencos ou seus estilos de jogo, tornam-se presas ainda mais fáceis para os rivais. Todos sabiam das deficiências ofensivas da Itália em 2010, das vulnerabilidades defensivas da Espanha em 2014 ou das peças-chave da Alemanha em 2018. Como os jogadores, treinadores e jogadas eram praticamente os mesmos de mundiais anteriores, os adversários sabiam exatamente o que fazer em campo. Em um meio competitivo como o futebol, acomodar-se pode ser um erro fatal.



A Alemanha foi fantástica em 2014, mas fez feio na Rússia quatro
anos depois (imagem extraída de www.facebook.com/DFBTeam)



A França, atual campeã mundial, tem tudo para evitar cair nesta armadilha. O treinador Didier Deschamps conta com material humano de sobra para renovar sua equipe (Ikoné, Camavinga, Aouar, Upamecano, ...), bem como mudar as características do time. A Liga da Nações, contudo, tornou-se um empecilho para tais mudanças visto que há menos tempo para amistosos, o que significa menos oportunidades para testes. Ademais, a dificuldade da competição e a urgência pelo título obrigam o técnico a utilizar mais o talento pronto ao invés de lapidar novas promessas.

Resta saber se a França conseguirá se livrar da "maldição do campeão", ou se os Bleus serão mais uma vítima desta sina que já se abateu sobre Alemanha, Espanha e Itália. Com a Liga das Nações em curso, contudo, Didier Deschamps terá ainda menos oportunidades para realizar testes e entregar algo novo para 2022.

Dois anos são pouco tempo para se realizar testes em seleções, mas é um período bastante longo para transformações no futebol.



A França faturou a Copa da Rússia. Conseguirão os Bleus acabar com a "maldição do campeão", ou
serão mais uma vítima da sina em 2022 (imagem extraída de www.facebook.com/equipedefrance)?




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