domingo, 15 de novembro de 2020

Jujuba




Trabalhei no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP entre 2008 e 2015. Durante o período, realizávamos esporadicamente alguns jogos de futsal entre o pessoal do laboratório para relaxar do estresse e também para integração dos colegas. Eu jogava muito mal mas eu ia mesmo assim para me enturmar com as pessoas.

Havia entre os colegas de laboratório uma garota que eu chamava de "Jujuba". Não tivemos muito convívio inicialmente uma vez que, quando eu cheguei ao Instituto, ela já estava de malas prontas para realizar um estágio no exterior. Fizemos amizade bem tardiamente, por volta de 2009.

Jujuba cursava biologia e estagiava no ICB. Ela também fazia parte do time de futsal de sua faculdade e adorava jogar bola. Sempre que marcávamos algum jogo, ela era uma das primeiras a aceitar e só recusava os convites quando havia algum compromisso muito importante. O técnico do laboratório sempre dizia que "essa menina era fominha" pelo seu entusiasmo.

Jujuba, na maioria das vezes, era a única garota em nosso time de futsal, mas ela aparentava não se importar e se mostrava bastante a vontade durante as partidas: dividia bolas, driblava, marcava, orientava os companheiros, liderava, ... Para os que ainda acham que "futebol não é coisa de mulher", Jujuba derruba este mito com seu talento e sua determinação em quadra. E ela jogava melhor que a grande maioria dos rapazes do laboratório.






Jujuba protagonizou muitos momentos divertidos em quadra. Certa vez, eu e meus colegas ficamos quase duas horas jogando e estávamos quase todos esgotados ao final daquela tarde... Menos ela! Jujuba tinha fôlego para mais partidas e ainda disse que iria treinar com suas amigas da biologia depois que fôssemos embora!

Houve uma outra ocasião em que estava chovendo muito, mas Jujuba e os rapazes do laboratório estavam com muita vontade de jogar. Descemos, então, para a quadra na esperança que o tempo melhorasse mas era inviável diante das tempestades típicas do verão paulistano.

A última vez que jogamos foi em 2013. Jujuba estava de malas prontas novamente para outro estágio no exterior e o pessoal do meu laboratório marcou um jogo de despedida. Ela liderava e orientava os companheiros aos gritos de "pisa, pisa"! O pai dela, que estava conosco, indagou o que era esse negócio de "pisar". Durante a mesma partida, Jujuba pressionou o defensor (ou fixo) adversário, que tentou sair jogando, e roubou a bola para fazer um gol. Bem antes do Bayern popularizar a marcação alta, Jujuba já apertava a saída de bola dos zagueiros rivais.

Convivi com Jujuba até 2015 quando deixei o ICB e não jogamos mais nenhuma partida desde então. Mantivemos contato através de redes sociais e ainda nos falamos com alguma frequência. Durante a última vez que eu conversei com ela, aliás, enviei-lhe um vídeo contendo um de seus melhores lances em quadra. E a filmagem acabou servindo de inspiração para este texto.

Foi muito divertido dividir a bancada com Jujuba. Sua inteligência e determinação eram exemplares para qualquer colega de trabalho. E seu entusiasmo com o futebol era contagiante. Nunca havia convivido com uma pessoa tão talentosa com a bola nos pés e com tanto amor pelo futsal. 







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