quarta-feira, 11 de novembro de 2020

O Grafite

Imagem extraída de www.facebook.com/equipedefrance



Quando eu frequentava o cursinho pré-vestibular no começo dos anos 2000, eu sempre percorria o mesmo caminho ao voltar para casa. Em uma das ruas que eu passava, havia um muro com dezenas de pichações com vários insultos direcionados ao meia Zinedine Zidane e à Seleção Francesa. Havia um único xingamento ao treinador Zagallo.

Deduzi que os grafites foram feitos em 1998 por torcedores revoltados pela goleada sofrida pelo Brasil diante da França na final da Copa do Mundo realizada naquele ano. Assisti àquele jogo na época e me lembro que nossa Seleção demonstrou uma apatia inacreditável em campo. Até hoje há dezenas de teorias da conspiração a respeito daquela partida que teve um resultado totalmente atípico.

Aquele grafite me fez pensar a respeito do quanto o nosso torcedor mudou dos anos 90 até os dias de hoje. Naquela época os fãs já chamavam os seus próprios treinadores de "burros" quando seus times eram derrotados, mas insultavam muito mais os adversários em caso de um resultado negativo.

Os torcedores daquela época reconheciam, de certa forma, os méritos dos rivais. Insultar e culpar os adversários por uma derrota sofrida não deixava de ser um reconhecimento que o oponente foi melhor apesar de ser algo totalmente anti-desportivo. Era uma maneira de um fã não dar o braço a torcer diante da superioridade de quem estava do outro lado do gramado.



Imagem extraída de www.facebook.com/equipedefrance



Quando as nossas equipes perdem nos dias de hoje, contudo, são os jogadores que "não têm raça", os treinadores que são "burros" e os dirigentes são "omissos". Para a maioria de nossos torcedores, os adversários não têm mérito algum em suas vitórias e os seus próprios times que são totalmente culpados pelas derrotas.

Há, obviamente, partidas em que a equipe derrotada erra mais do que a vitoriosa. Temos que reconhecer, contudo, que do outro lado do gramado há um adversário que entra em campo com o mesmo objetivo que os nossos times: a vitória.

O adversário, assim como o seu time, fará o que estiver ao alcance para conquistar o triunfo. Ele buscará erros, tentará neutralizar os pontos fortes do rival e não desperdiçará uma oportunidade para anotar um gol, exatamente como seu clube faria em campo.

Insultar Zidane pelos 3x0 de 1998 não era uma demonstração de esportividade por parte do torcedor mas não deixava de ser um reconhecimento ao genial meia francês. Mas culpar apenas os nossos próprios times por uma derrota é tanto um ato de injustiça quanto de arrogância.



Imagem extraída de www.facebook.com/equipedefrance




Nenhum comentário:

Postar um comentário