quinta-feira, 22 de outubro de 2020

2004

Imagem extraída de www.facebook.com/saopaulofc



Conheci o São Paulo em 1991, justamente durante sua era de ouro. Não acompanhava futebol naquela época, mas lembro o quanto a imprensa elogiava o clube que conquistou muitos troféus, praticava um jogo de encher os olhos (até o mestre Johan Cruyff demonstrava admiração) e era "exemplo de gestão", algo que quase toda a mídia, exageradamente, escreve quando as equipes estão em boa fase.

Lembro que, durante a segunda metade daquela década, o São Paulo passou a frequentar muito mais a parte de baixo da tabela do que a de cima. Ainda não compreendia como funcionava o futebol e não entendia, portanto, como aquele clube que foi bicampeão da Libertadores e do Mundial de Clubes (Copa Intercontinental, na época) passou a brigar contra o rebaixamento.

Consigo compreender, com base no que vivi durante a minha infância, a intolerância de tantos torcedores do São Paulo contra o próprio time. Muitos desses fãs certamente começaram a acompanhar a equipe em meados de 2005 quando a equipe conquistou o tricampeonato da Libertadores e do Mundial de Clubes. Aquela geração construiu, ainda, uma hegemonia no Campeonato Brasileiro com três títulos consecutivos.

Os títulos, por mais que muitos neguem, ajudam os clubes a conquistar a simpatia de novos torcedores. Equipes que faturam muitos troféus tornam-se o "time da moda", afinal ficam em mais evidência e ganham mais espaço na mídia. Muitos destes novos fãs, contudo, passam a acreditar que vencer é a "rotina" de uma equipe e acabam se decepcionando profundamente quando a boa fase termina. E alguns terminam por extravasar essa decepção de forma violenta.



Imagem extraída de www.facebook.com/saopaulofc



Passei a acompanhar futebol "de verdade" a partir de 2004. O São Paulo, naquela época, não vivia exatamente uma boa fase. A equipe não brigava por títulos, oscilava em campo e sofria algumas derrotas ou eliminações dolorosas, como aquela diante do Once Caldas durante a Libertadores daquele ano. Por outro lado, o Tricolor possuía consistência e conseguia se manter entre os quatro primeiros do Brasileirão, algo que eu e a mídia costumamos chamar de "regularidade".

Vejo o cenário atual um pouco parecido com o de 2004. O São Paulo ainda não demonstra poder de decisão para brigar pelos troféus e ainda oscila em campo, mas tem conseguido se manter entre os primeiros colocados ou próximo a eles. E ainda tem contado com a sorte, afinal o Tricolor não perdeu posições na tabela a despeito de não ter jogado no último final de semana.

Muitos torcedores do São Paulo, porém, tornaram-se mais radicais e agressivos se comparado há dez anos atrás. As cobranças tornaram-se mais violentas e há menos compreensão com o momento do clube. Vencer tornou-se "obrigação", o apego ao passado tornou-se exagerado e são constantes as invocações de figuras que estavam em evidência naquela época -Rogério Ceni, Muricy Ramalho, Marco Aurélio Cunha e até o finado Juvenal Juvêncio.

O São Paulo para retornar às glórias em 2005, porém, precisou enfrentar o inferno da instabilidade após o término da era Telê Santana. Foram anos sem troféus relevantes e até lutas contra o rebaixamento, algo muito semelhante com o que está ocorrendo com o clube neste momento.

Há o direito de protestar e se demonstrar insatisfação, mas é preciso compreender que formar um time vencedor leva tempo e há um processo por trás disso. Ademais, como disse meu amigo Dudu, o futebol é feito de ciclos, em um dado momento a fórmula se esgota e a renovação nem sempre ocorre de maneira tranquila.

O São Paulo está devendo muito em todos os sentidos, mas é importante considerar que entre 1993 e 2005 o clube enfrentou uma situação muito semelhante ao dos dias de hoje. O time instável e "sem raça" dos dias de hoje pode ser o campeão de amanhã.



Imagem extraída de www.facebook.com/saopaulofc




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