sábado, 31 de outubro de 2020

Arrependimento?

Rogério Ceni é pretendido pelos dois candidatos à presidência
 do São Paulo (imagem extraída de www.facebook.com/FortalezaEC)



A primeira passagem de Rogério Ceni no banco de reservas do São Paulo esteve longe de ser memorável. O ex-goleiro quis assumir a equipe principal do clube mesmo sem experiência. O início foi bastante festejado com o Tricolor faturando o título de pré-temporada na Florida Cup nos pênaltis diante do Corinthians.

O chamado à realidade, porém, veio já no Campeonato Paulista com o São Paulo sendo goleado logo no primeiro jogo da temporada pelo Audax que, ironicamente, era comandado por Fernando Diniz, atual técnico Tricolor. Vieram as eliminações do Campeonato Paulista, na Copa do Brasil e na Sulamericana. Pesaram a inexperiência de Ceni, o seu estilo de jogo ousado demais (beirava à imprudência em alguns momentos) e a falta de tato com os jogadores (notícias afirmam que o ex-goleiro teria arremessado uma prancheta contra seus atletas após uma derrota).

O São Paulo, paralelamente à temporada, passava por eleições gerais e o treinador foi utilizado como cabo eleitoral por ambas as chapas concorrentes. Os situacionistas liderados por Leco venceram e o presidente "retribuiu" ao ex-goleiro negociando vários atletas titulares. O Tricolor, enfraquecido, despencou na tabela do Brasileirão e Ceni foi demitido sem dó pela diretoria. O técnico não deixou por menos e postou indiretas contra o mandatário nas redes sociais.

Três anos se passaram. Rogério se reergueu no Fortaleza onde já conquistou quatro títulos (dois estaduais, uma Copa do Nordeste e a Série B) além de manter o Leão do Pici vivo na primeira divisão apesar das limitações financeiras e técnicas do clube em relação aos concorrentes. O ex-goleiro é bastante elogiado pelos comentaristas -com exagero- devido ao futebol moderno e ao desempenho de seu time.

O São Paulo, enquanto isso, sofre com o jejum de títulos desde 2012, quando conquistou a Copa Sulamericana. A equipe ainda oscila bastante e parece faltar força mental ou poder de decisão ao time. Já foram realizadas muitas de trocas na diretoria de futebol, no comando técnico e no elenco, mas nada parece surtir efeito para a equipe voltar a brigar por títulos.

Haverá novas eleições no clube e Ceni virou uma espécie de "messias" para as chapas concorrentes. Dirigentes de ambos os grupos políticos abrem as portas para o ex-goleiro e também para Muricy Ramalho. Competência, méritos, identificação com o São Paulo, memória afetiva ou meros escudos. Não importa o argumento. Os cartolas desejam trazer os dois vencedores de volta ao Morumbi.



Rogério é idolatrado no Fortaleza, além de ter o elenco em suas
mãos (imagem extraída de www.facebook.com/FortalezaEC)



Rogério Ceni, justiça seja feita, foi bastante sabotado no São Paulo. Seu trabalho ainda não estava pleno devido à falta de experiência mas os dirigentes prejudicaram a evolução da equipe ao colocar o treinador em meio a uma disputa política para depois desmontar o grupo e jogar toda a culpa no técnico pela má fase.

Cabe, porém, ressaltar que o estilo de Ceni não é muito diferente do atual treinador do São Paulo, Fernando Diniz. O Fortaleza de Rogério joga um futebol intenso, ofensivo e vistoso, mas a defesa paga o preço. Os espaços cedidos para contra-ataques e a saída de bola curta com a zaga ou com o goleiro continuariam com o "Mito". Tecnicamente falando, trocar o comandante mineiro pelo paranaense seria trocar seis por meia dúzia.

A personalidade seria outro problema a ser trabalhado pelo treinador. Ao contrário do maleável Diniz, Ceni ainda bate muito de frente com o elenco. Se por um lado isto poderia tirar os atletas do comodismo, por outro poderia custar o emprego do técnico, algo que aconteceu no Cruzeiro em 2019. Diferente dos anos 90, peitar os jogadores é algo que pode resultar na demissão do técnico. Aliás, o ex-goleiro já viveu o outro lado da história quando Rogério foi acusado por Ney Franco de tê-lo derrubado em 2013.

Há, por fim, o fator "zona de conforto". Ceni tem o Fortaleza a seus pés: ele mantêm o elenco sob controle, é amado pelos torcedores e conta com o respaldo dos dirigentes. Caso aceite retornar ao São Paulo, a pressão por resultados será muito maior e nem mesmo sua história no clube poderia salvá-lo da ira dos fãs em caso de fracassos. Rogério já sentiu isto na pele quando os próprios são-paulinos apoiaram sua demissão em 2017. O ex-goleiro deixou subentendido várias vezes que busca por desafios maiores para 2021 mas sempre agiu de maneira política quando questionado a respeito de um possível retorno ao Morumbi.

Ceni foi, é e sempre será muito bem-vindo ao Morumbi. Nada apaga sua história no São Paulo mas mesmo ele pode não ser o suficiente para recolocar o Tricolor na briga por títulos. Isto só seria possível com tempo e com respaldo, algo que ele não teve durante sua primeira passagem no banco de reservas.

Rogério é um ídolo no São Paulo mas um possível retorno do "Mito" ao Morumbi precisa ser discutido com profissionalismo e racionalidade, e não com fanatismo ou passionalidade.



Imagem extraída de www.facebook.com/FortalezaEC




Nenhum comentário:

Postar um comentário