sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Do Vinho para a Água

A Itália de Cesare Prandelli atacava trocando passes, o que ficou conhecido
como "Tiki-Itália" (imagem extraída de www.facebook.com/FIGC



O futebol italiano quase sempre se notabilizou pelo estilo defensivo. Não a toa, muitas das grandes lendas nascidas país são defensores ou goleiros, como Cannavaro, Maldini, Baresi, Buffon, Pagliuca, Zoff, ...

Muitos dos treinadores mais notórios, da mesma forma, são defensivistas. Foram técnicos italianos que conceituaram estratégias como o catenaccio e o "ônibus", ambas com ênfase na defesa e na eficiência.

O futebol defensivo sempre foi alvo de muitas críticas. Eu mesmo considerava "vulgar" o estilo de jogo adotado por treinadores como Roberto Di Matteo, que superou equipes ofensivas como o Barcelona de Pep Guardiola e o Bayern de Jupp Heynckes com estratégias focadas em anular as jogadas rivais e vencer com o mínimo de posse de bola. Hoje, contudo, enxergo o esporte de outras maneiras e até exalto técnicos considerados "retranqueiros".

Alguns treinadores italianos, porém, passaram a se notabilizar por estratégias mais ousadas em tempos recentes, adotando táticas mais ofensivas e correndo mais riscos em campo, bem diferente da maioria de seus compatriotas.

Cesare Prandelli e Antonio Conte ganharam notoriedade no início desta década. Prandelli na Seleção Italiana e Conte na Juventus mantiveram a solidez defensiva que consagrou o futebol no país. Suas equipes, no entanto, gostavam de ficar com a bola, trocavam passes e até propunham o jogo. Talvez tenham sido influenciados pelo Barcelona de Guardiola ou a Espanha de Aragonés e Del Bosque. A semelhança com o estilo espanhol rendeu o apelido de "Tiki Itália" à estratégia adotada pelos dois treinadores italianos.

Conte, com o seu estilo, conseguiu tirar a Juventus da crise desencadeada após o rebaixamento em 2006. A Vecchia Signora conquistou o tricampeonato da Serie A (2012, 2013 e 2014) além de acabar com a hegemonia dos rivais Milan e Internazionale.

Prandelli não conquistou títulos, mas sua Itália realizou boas exibições na Euro 2012 (foi vice-campeão) e na Copa das Confederações 2013 (terminou em terceiro lugar). A passagem do treinador pela Azzurra, porém, terminou de forma melancólica com  os italianos sendo eliminados da Copa 2014 ainda na fase de grupos.



Maurizio Sarri encantou a Itália e o mundo com seu futebol
vertical (imagem extraída de www.facebook.com/SSCNapoli)



A segunda metade da década consagraria treinadores italianos ainda mais ousados, com equipes velozes, ofensivas e dinâmicas. E adotando conceitos modernos no futebol como compactação, intensidade, pressão na saída de bola, recomposição e tudo mais.

Maurizio Sarri chegou ao Napoli em 2015 e sua passagem pelo clube partenopeo foi um verdadeiro marco para o time mesmo sem títulos. O treinador encantou o mundo com sua equipe vertical, ofensiva e intensa. O grupo esteve muito perto de acabar com a hegemonia da Juventus na Serie A em pelo menos duas ocasiões, durante a temporada 2015-16 e a 2017-18. Os recursos da Vecchia Signora, porém, foram demais até para os ousados napolitanos.

Gian Piero Gasperini ganhou notoriedade quando sua modesta Atalanta terminou a temporada 2018-19 na terceira colocação, classificando a Dea para a Champions League pela primeira vez em sua história. Seu estilo parece bastante influenciado pelo futebol holandês, com jogadores capazes de desempenhar mais de uma função em campo, dinamismo, trocas de posição constantes entre os atletas, posse de bola e recomposição.

Não sou mais um defensor ferrenho do futebol-arte, mas foi um verdadeiro deleite acompanhar o Napoli de Sarri e a Atalanta de Gasperini. Ambas as equipes tiveram atuações de encher os olhos e provaram que o jogo artístico ainda tem espaço nos dias de hoje, mesmo com o esporte priorizando cada vez mais os aspectos físicos e em um país onde o defensivismo é tradição.

O futebol italiano se notabilizou pelo seu defensivismo mas treinadores como Conte, Prandelli, Sarri e Gasperini conseguiram romper com as tradições esportivas do país, proporcionando equipes ofensivas, agradáveis de se assistir e capazes de lutar pelos troféus.



Gian Piero Gasperini, com seu futebol "cruyffista", permitiu que a Atalanta sonhasse
com voos mais altos (imagem extraída de www.facebook.com/atalantabc)




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