sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Rodízio

Dome causou polêmica com seu "rodízio", mas colheu os frutos diante do Sport
na última quarta-feira (imagem extraída de www.facebook.com/FlamengoOficial)



Nossa cultura futebolística é clara: o time é composto por onze jogadores titulares absolutos e os demais atletas do grupo são reservas. Os donos das vagas são substituídos apenas quando necessário -suspensão, lesão, convocações para jogos de seleção ou quando o treinador deseja poupar.

A ideia do "rodízio", portanto, nunca é bem aceita no Brasil. Nenhum jogador gosta de ter sua titularidade questionada, sobretudo quando ocorre por "decisão técnica". Ademais, é fato que mudanças constantes no onze inicial causam problemas como dificuldade de entrosamento entre os atletas, alterações nas características de jogo e consequentes oscilações no time.

A polêmica envolvendo o sistema de rodízio veio à tona quando o treinador Domènec Torrent resolveu implantar o esquema no Flamengo, o que gerou muitas oscilações iniciais na equipe causando revolta por parte de torcedores e dos próprios jogadores. Mas tais discussões já haviam entrando em pauta no meio esportivo há cinco anos atrás, quando o colombiano Juan Carlos Osorio chegou ao São Paulo. O Profe ficou conhecido por alterar a escalação a cada partida e inventar atletas fora de suas posições habituais.

É fato que Osorio teve seu trabalho prejudicado em decorrência do desmanche promovido pelos dirigentes tricolores, mas o rodízio do colombiano gerou uma série de controvérsias incluindo a mesma oscilação no desempenho da equipe a exemplo do que aconteceu com Dome.


Osorio tentou implantar o sistema de "rodízio" no São Paulo, mas a ideia não foi bem aceita
por jogadores, mídia e torcedores (imagem extraída de www.facebook.com/nacionaloficial)



O rodízio de Dome, porém, mostraria-se mais útil do que aparentava, sobretudo aqui no Brasil onde a CBF insiste em realizar jogos válidos pelo Brasileirão em datas FIFA. Mesmo desfalcado de quatro titulares (Everton, Isla, De Arrascaeta e Rodrigo Caio), o Flamengo não teve dificuldades de se impor diante do esforçado Sport. O banco de reservas flamenguista contava com atletas em pleno ritmo de jogo e a ausência dos convocados praticamente não foi sentida pelo time carioca.

O Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo, por outro lado, sentiu bastante a ausência de seus principais jogadores -o Verdão também teve de ceder quatro de seus titulares para as seleções. O treinador carioca, que adota um sistema mais conservador, não tinha reservas à altura (por questões técnicas ou falta de ritmo de jogo) para suprir os desfalques e o Palestra pagou em campo mesmo diante do instável Botafogo.

As vantagens do rodízio surgem justamente a longo prazo: a equipe sempre conta com reservas em ritmo de jogo, o treinador conta com mais opções, desfalques são menos sentidos e todos os jogadores do elenco evoluem juntos, como bem observou o jornalista Leonardo Miranda. Como sempre escrevo aqui no blog, nós brasileiros enxergamos apenas metas a curtíssimo prazo (leia-se, "contratou hoje, quero que vença amanhã") e, com isso, não visualizamos ganhos futuros.

Jorge Sampaoli, curiosamente, também é adepto do rodízio, mas o executa de maneira um pouco mais discreta: o argentino costuma alterar pouquíssimas peças em seu onze inicial, geralmente dois ou três jogadores. Para quem acompanhou o trabalho do treinador durante a Copa América 2015, deve ter reparado que ele nunca repetiu a escalação em nenhum dos seis jogos disputados, mas foram tão poucas mudanças que muitos não devem ter percebido. E a sua Seleção Chilena, mesmo com as alterações, oscilou pouco em campo demonstrando como o sistema pode ser efetivo.

O rodízio não é um sistema absoluto, afinal possui vantagens e falhas. Não é certo nem errado, é apenas uma maneira de se atuar. Mas ficou evidente que, a despeito de nossos preconceitos, o esquema pode se tornar uma ferramenta bastante útil sobretudo no Brasil onde perdas de atletas (seja por lesões, suspensões, vendas ou convocações) são uma constante.

O nosso futebol está sendo considerado dada vez mais atrasado em relação ao dos europeus mas continuamos nos apegando em demasia ao fato de sermos os únicos pentacampeões mundiais ao invés de ouvirmos as críticas.

Talvez nos falte abrir a cabeça e os ouvidos para novas ideias, como o tal rodízio.



Jorge Sampaoli também é adepto do "rodízio", mas as mudanças em suas 
equipes são mais sutis (imagem extraída de www.facebook.com/atletico)




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