quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

A Sobrevida do Tiki-Taka

Imagem extraída de www.facebook.com/cff.hns



A Espanha e a Alemanha voltaram cedo para casa na última Copa do Mundo. Em comum, os dois times valorizavam em demasia a posse da bola mas faltava objetividade nas jogadas e também um camisa 9 para aproveitar as chances criadas -Álvaro Morata e Niclas Füllkrug, que possuíam tais características, não eram titulares absolutos em suas respectivas equipes.

A Croácia, com um elenco teoricamente inferior ao da Furia e da Mannschaft, chegou a um surpreendente terceiro lugar apesar de possuir um estilo também baseado em toques curtos e ser deficiente nas finalizações. Eu acreditava que a Hrvatska também não duraria muito tempo no Mundial devido à renovação tímida do grupo e à dependência excessiva dos veteranos.

O motivo que levou Croácia a adotar um estilo semelhante ao Tiki-Taka foi o seu principal jogador, Luka Modrić. Aos 37 anos, o meio-campista já não possuía mais intensidade para subir ao ataque ou recompor a defesa mas ele permanecia essencial para a sua seleção. A leitura de jogo, a qualidade nos passes e a tomada de decisões ainda eram os mesmos. Tanto que o camisa 10 ainda é titular absoluto no Real Madrid junto com Toni Kroos apesar da idade.  

O treinador Zlato Dalić, então, optou por colocar dois "operários" no meio-de-campo (Kovačić e Brozović) para compensar a falta de mobilidade de seu capitão, além de utilizar um ataque com mais mobilidade (Perišić, Kramarić e Livaja). Ainda assim, eram raros os momentos em que a Hrvatska acelerava o jogo.



Croácia em 4-3-3/4-5-1: todo o time se movimenta em campo à
exceção dos veteranos Lovren e Modrić. O modus operandi da
equipe, porém, é basicamente trocar passes no ritmo do capitão e só
avançar quando há alguma brecha (imagem obtiva via this11.com).



A Croácia, na prática, repetiu o que a Espanha fez em 2010 e a Alemanha em 2014: trocava passes pacientemente enquanto esperava por alguma abertura na defesa rival para se infiltrar. Ou então, fazia o adversário se cansar correndo atrás da bola. 

O que, então, deu certo para a Hrvatska mas faltou à Furia ou à Mannschaft? Exceto pelo jogo contra a Argentina, a Croácia manteve a concentração e a força mental o tempo todo. Os enxadrezados sofriam um gol mas não se desesperavam em campo porque sabiam que em algum momento haveria alguma quebra de ritmo do adversário, algo mencionado no livro A Arte da Guerra de Sun Tzu. Ademais, os comandados de Zlatko Dalić respeitavam os adversários na medida certa e jamais abaixavam a guarda quando tinham a vantagem.

Outro detalhe é que todo o time se movimenta para dificultar a marcação sobre Modrić. O camisa 10, por ser o principal jogador da Croácia, será o alvo mais visado e o meia necessita apenas de algum pequeno espaço para achar algum companheiro livre. Foi assim contra a Escócia na Euro 2020 e contra o Brasil na fatídica Copa 2022.

Eu não incentivo armar todo um time em função de um único jogador, sobretudo na era do futebol coletivo e pelo fato de que bastaria anular aquele atleta para matar a estratégia. Treinadores de seleções, contudo, possuem menos tempo para montar uma equipe e opta-se sempre pela solução mais fácil.

Alemanha e Espanha falharam ao se apegarem em demasia ao Tiki-Taka mas a Croácia demonstrou que o estilo que andava obsoleto diante do futebol mais físico e intenso ainda pode ter alguma sobrevida com os jogadores apropriados e muita aplicação dos atletas.



Imagem extraída de www.facebook.com/cff.hns



DESCANSE EM PAZ, BLAŽEVIĆ



Eu estava finalizando este texto na tarde de ontem quando recebi a notícia do falecimento do ex-jogador e ex-treinador Miroslav Blažević. Ciro foi o técnico da histórica Seleção Croata de 1998 (que ficou em um surpreendente 3º lugar em sua primeira Copa do Mundo) e que deixou um grande legado no futebol europeu pelos seus feitos no esporte. Descanse em paz, Ciro. As pessoas se vão mas suas obras são eternas.




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