sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Alerta para o Tite

Imagem extraída de www.facebook.com/SSCNapoli/



Tite nunca escondeu de ninguém que sua principal inspiração é o treinador Carlo Ancelotti. O técnico gaúcho, após uma temporada abaixo do esperado em 2013 pelo Corinthians, desligou-se do clube e foi para a Espanha estudar com o italiano que comandava o Real Madrid na época. Passado esse tempo, Tite retornou ao Timão em 2015 trazendo os conhecimentos adquiridos com Ancelotti e encantou o torcedor com um estilo de jogo que combinava solidez defensiva e posse de bola. Tais feitos lhe renderam mais um Brasileirão pelo Corinthians e a indicação para dirigir a Seleção Brasileira.

Ancelotti é um treinador que possui um currículo respeitável: foram mais de vinte títulos como técnico e também como jogador. Já dirigiu equipes na Itália, Alemanha, França, Inglaterra e Espanha, tendo conquistado pelo menos um troféu em cada país. Já venceu a Champions League cinco vezes, sendo duas como jogador do Milan (1989 e 1990), duas como treinador dos Rossoneri (2003 e 2007) e uma como técnico do Real Madrid (2014). Não há dúvidas que Tite escolheu um excelente mentor.

Passaram-se cinco anos desde que Tite encantou o Brasil com o Corinthians. O treinador passou por muitos altos e baixos, mas manteve-se fiel aos ensinamentos de Ancelotti: a Seleção continua atuando no 4-1-4-1, com as jogadas construídas principalmente pelos lados e com muita solidez defensiva.



Comparação entre o Real Madrid (esquerda) dirigido por Ancelotti durante a temporada 2013-14 e o Corinthians (direita) dirigido por Tite em 2015: as formações eram diferentes, mas a execução das jogadas era semelhante, com meio-de-campo aliando solidez defensiva com saída de bola e sincronia entre laterais e ponteiros para construção de jogadas ou negação de espaços (obtido via www.footballuser.com/)



Tite, porém, deveria observar o que aconteceu com seu mentor após retornar ao Brasil: Ancelotti foi demitido do Real Madrid em 2015 após uma temporada sem títulos relevantes enquanto o arquirrival Barcelona celebrava a Tríplice Coroa -os jogadores tentaram manter o treinador no cargo, mas os cartolas madrilenhos estavam determinados a sacudir o elenco. O italiano, então, foi se aventurar no Bayern e conseguiu alguns títulos nacionais, mas foi demitido em meio a temporada 2017-18 porque era considerado "bonzinho demais" pelos próprios jogadores. Foi contratado pelo Napoli na temporada seguinte, mas acabou sendo dispensado novamente no fim de 2019 apesar dos resultados convincentes, incluindo uma vitória por 2x0 sobre o Liverpool.

Sim, Ancelotti é um grande treinador e vitorioso, mas parecia não mais entregar o que o futebol atual exige. Quando o italiano foi demitido haviam vários grandes clubes em crise e sem treinador, mas nenhum se interessou pelo ex-atacante apesar de seu currículo vitorioso.

Ancelotti, agora, tenta se reinventar no Everton, clube tradicional da Inglaterra mas que nem de longe possui o mesmo glamour das equipes que ele comandou no passado. Conta com um bom elenco -Richarlison, Sigurdsson, Kean, Walcott, ...- mas nada que lembre os tempos comandando Shevchenko, Cristiano Ronaldo, Kaká, Drogba, Modrić e afins.

Tite, infelizmente, parece seguir pelo mesmo caminho. Parece preso no 4-1-4-1 que aprendeu há seis anos atrás quando deveria acrescentar conhecimentos novos. Demonstra também um apego inexplicável aos seus atletas, especialmente aos veteranos, quando deveria renovar a Seleção e injetar sangue novo em um elenco envelhecido. E, por fim, o time parece acomodado após a conquista da Copa América 2019, como se a missão já estivesse cumprida.

Os resultados após a Copa América refletiram muitos desses sintomas com a equipe apática e previsível nos últimos amistosos -foram três empates, duas derrotas e apenas uma vitória. O treinador gaúcho, que já estava muito contestado após a eliminação da Copa 2018, passou a ser ainda mais pressionado desde então. Nem o título continental tem aliviado as críticas.



Brasil na final da Copa América 2019: desenho tático
semelhante ao do Corinthians de 2015. A renovação
do elenco ocorre de forma tímida com muitos veteranos
 ainda presentes (www.footballuser.com/).



Não digo que Ancelotti esteja ultrapassado, mas há fortes indícios de que o italiano não já tem muito mais a oferecer no futebol atual. Seus esquemas táticos estritamente defensivos e seu estilo paternalista já não vêm encontrando portas abertas nos clubes que disputam a Champions League.

Tite já apresentava muitas semelhanças com seu mentor muito antes de trabalhar com o italiano e seu estilo se tornou ainda mais parecido após o estágio no Real Madrid.

O desafio de Tite, caso queira sobreviver na Seleção Brasileira, será se desprender dos ensinamentos de Ancelotti e acrescentar novos conhecimentos, ou terá o mesmo destino de seu mentor.



Imagem extraída de www.facebook.com/Everton/




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