terça-feira, 7 de janeiro de 2020

O Fim do Camisa 10?

Imagem extraída de www.facebook.com/mesutoezil/



Rinus Michels ganhou fama como treinador durante a segunda metade dos anos 60 após conquistar muitos títulos com o Ajax. O técnico adotava os conceitos do "futebol total" (ou "totaalvoetbal", em holandês), um estilo de jogo que combinava posse de bola, jogadores capazes de desempenhar mais de uma função em campo e muita movimentação. Tamanho sucesso levou Michels à seleção de seu país nos anos 70, quando foi vice-campeão mundial em 74 encantando o mundo com seu "Carrossel Holandês"; e ao Barcelona, onde ele ajudou a conceituar o estilo de jogo característico do clube catalão.

Os anos se passaram e Michels nos deixou em 2005. Mas as sementes que ele plantou lá no passado deram frutos nos dias de hoje. A grande maioria dos treinadores vêm adotando as ideias do finado holandês, alguns sob outros contextos mas sempre preservando a mesma filosofia de jogo: posse de bola, atletas versáteis e muita movimentação.

É possível observar as ideias de Michels mesmo em equipes com estilo de jogo mais físico, como o Bayern de Jupp Heynckes ou o Liverpool de Jürgen Klopp, com os defensores ajudando no ataque quando a equipe tem a bola enquanto os meias e os atacantes negam os espaços quando a equipe está se defendendo. E todos os jogadores precisam cada vez mais participar do jogo e se movimentar em campo, seja para recompor a defesa, seja para ajudar no ataque.

Tamanha intensidade de jogo exige muita força física e movimentação dos atletas, o que tem feito muitos meias-armadores perderem espaço. Jogadores como Özil, Ganso e Xavi sempre se notabilizaram pelo toque de bola refinado e pela visão de jogo excepcional, mas eles jamais primaram pela velocidade ou pela força física.

Meio-campistas com tais características, aliás, haviam ganhado destaque justamente quando o Barcelona de Guardiola (que também foi bastante influenciado pelas ideias de Michels) faturou muitos títulos com a filosofia de "fazer a bola correr ao invés dos jogadores". Mas os tempos mudaram e mesmo o treinador catalão já aplica o jogo mais físico e intenso no seu clube atual, o Manchester City.



Imagem extraída de www.facebook.com/fcbarcelona/



Xavi, mesmo com toda a sua história no Barcelona, acabou perdendo espaço para Ivan Rakitić durante a temporada 2014-15. E o motivo foi justamente a lentidão do meia catalão, enquanto o croata era mais intenso além de ser mais "raçudo" em campo. Ainda que o ex-camisa 6 tivesse melhor qualidade no passe ou na visão de jogo, Xavi não tinha mais espaço no intenso futebol atual. Isso sem falar que a idade e as lesões estavam chegando.

Özil também passou a ser bastante criticado no futebol atual, sobretudo na Seleção Alemã. O armador já havia demonstrado pouca versatilidade (ele não se deu bem atuando no lado esquerdo do ataque) e mobilidade durante a Copa 2014. Sua situação piorou no mundial seguinte quando o jogador foi considerado um dos "culpados" pela campanha fraca da Nationalelf, quando pouco pegou na bola enquanto esteve em campo.

Paulo Henrique Ganso, por fim, não deixou saudades em sua passagem pelo Sevilla. Logo de cara, o brasileiro virou reserva de Samir Nasri, que é muito mais intenso, "raçudo" e com melhor infiltração/recomposição. O meia paraense, por sua vez, pouco se movimentava em campo e era presa fácil dos marcadores adversários. Ele também vem sendo muito criticado pela torcida de seu clube atual, Fluminense, pelos mesmos motivos.

No futebol atual não basta apenas talento. Os jogadores precisam ser verdadeiros atletas. É preciso força, mobilidade e fôlego para se levar o time às conquistas. Xavi, Özil e Ganso são três craques, diferenciados, fizeram muita diferença em anos anteriores mas não possuem mais o perfil adequado para os dias de hoje.

Se o legado que Rinus Michels nos deixou teve de ser adaptado para o futebol moderno, jogadores e treinadores também precisam se reinventar, ou correm o risco de ficarem ultrapassados. E serem derrotados por aqueles que souberam se adequar melhor ao momento atual.



Imagem extraída de www.facebook.com/FluminenseFC/




Nenhum comentário:

Postar um comentário