terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Intercâmbio dos Contrastes

Montagem realizada com imagens extraídas de www.facebook.com/FlamengoOficial/www.facebook.com/olympiquelyonnais/



O segundo semestre de 2019 ficou marcado pela contratação do treinador português Jorge Jesus (acima à esquerda) pelo Flamengo e do técnico brasileiro Sylvinho (acima à direita) pelo Lyon da França.

Cada uma das contratações ganhou um significado simbólico. A vinda de Jesus significaria o fim definitivo da xenofobia por parte de nossos dirigentes que sempre relutam muito em contratar treinadores estrangeiros. Já a ida e eventual sucesso de Sylvinho à França abriria novamente as portas do mercado europeu aos técnicos brasileiros.

O português estava em baixa no mercado europeu. Depois de muitas temporadas vitoriosas no Benfica, o treinador não conseguiu repetir o desempenho no arquirrival Sporting e estava na Arábia Saudita quando viu a oportunidade de renascer no Flamengo.

O brasileiro, por sua vez, era o auxiliar técnico de Tite. O ex-lateral estava prestigiado no mercado nacional, sendo disputado pela CBF (a confederação o queria para assumir a seleção pré-olímpica) e pelo Corinthians (clube que o revelou). Mas o paulistano aceitou o convite do amigo Juninho Pernambucano, hoje dirigente do Lyon, para assumir os Gones.

O treinador lusitano teve um início turbulento, com direito a uma eliminação da Copa do Brasil diante do Athletico Paranaense, mas teve o apoio dos dirigentes e dos torcedores. O português correspondeu ao voto de confiança e conseguiu implantar sua filosofia de jogo no Flamengo, levando o Rubro-Negro a fazer história no futebol brasileiro.

Sylvinho, no entanto, não conseguiu transformar em resultados toda a confiança nele depositada. O Lyon teve o pior início de temporada em toda sua história na Ligue 1 chegando a flertar com o rebaixamento. Não obstante, a equipe francesa sofreu na Champions League em um grupo considerado acessível, com Benfica, Red Bull Leipzig e Zenit. O brasileiro acabou demitido ainda em outubro e substituído pelo francês Rudi García.



Imagem extraída de www.facebook.com/olympiquelyonnais/



O desfecho de ambos os treinadores, infelizmente, reforça uma série de teorias negativas sobre o nosso futebol atual. O desempenho ruim de Sylvinho no Lyon corrobora com a tese de que o Brasil "exporta pés mas não cérebros". E o sucesso incontestável de Jesus no Flamengo dá argumentos àqueles que defendem que "o treinador brasileiro está atrasado em relação ao europeu". E, lembrando, o técnico português estava em baixa na Europa.

Nem todo técnico europeu, obviamente, foi bem-sucedido aqui no Brasil, ao mesmo tempo que nem todo treinador tupiniquim fracassou na Europa. Os portugueses Paulo Bento e Sérgio Vieira não tiveram o mesmo sucesso (ou sorte) do compatriota em terras brasilis, enquanto Felipão teve um bom desempenho à frente da seleção portuguesa -foi vice-campeão na Euro 2004 e quarto lugar na Copa de 2006.

É preciso compreender, porém, que os motivos que levaram Jesus a triunfar com sobras no Brasil estão diretamente ligados às razões que levaram Sylvinho a fracassar na França. O Brasil, por ser o único pentacampeão em copas do mundo e por contar com muitos talentos excepcionais, acomodou-se e deixou de se atualizar, jogando mais com o nome do que com empenho. Os europeus, por sua vez, investiram e continuam investindo em todos os sentidos no futebol incluindo formação de atletas, infra-estrutura, treinamento de pessoal e até pesquisas científicas.

O mesmo acontece com nossos treinadores. A grande maioria ainda aposta em filosofias de jogo dos anos noventa e em resultados a curto prazo. Os poucos que tentam pensar fora do lugar comum não conseguem se firmar em nome do imediatismo.

Tudo fica ainda mais evidente quando nossas equipes são confrontadas pelas europeias. Basta avaliar o desempenho de nossos times nos últimos Mundiais de Clubes. Real Madrid e Barcelona, por exemplo, nem precisaram se esforçar muito para superarem Grêmio e Santos respectivamente.

Os desempenhos de Jesus e Sylvinho fora de seus respectivos continentes sustentam ainda mais a tese de que nosso futebol está atrasado em relação ao da Europa.



Imagem extraída de www.facebook.com/FlamengoOficial/




Nenhum comentário:

Postar um comentário