sábado, 4 de janeiro de 2020

Além da Zona de Conforto

Imagem extraída de www.facebook.com/LiverpoolFC/



Internazionale em 2010.

Barcelona em 2011 e 2015.

Chelsea em 2012.

Bayern München em 2013.

Real Madrid em 2014, 2016, 2017 e 2018.

Liverpool em 2019.

Clubes oriundos de diferentes países e adeptos de diferentes estilos de jogo que venceram a Champions League nas últimas dez edições.

Nenhuma das equipes aqui apresentada se valeu de alguma mesma "fórmula mágica" para vencer. Em comum, apenas investimento maciço em atletas de ponta.

Houve investimento em treinadores de qualidade, mas o Chelsea em 2011-12 e o Real em 2015-16 demitiram seus técnicos em meio a temporada após um desempenho inicial abaixo do esperado e apostaram em interinos (Roberto Di Matteo nos Blues e Zinedine Zidane nos Blancos) que viriam a melhorar o ambiente em suas respectivas equipes e levá-las ao caneco.

Um detalhe, porém, ficou evidenciado com o triunfo do Liverpool que é justamente a importância dos campeonatos nacionais. A maioria das competições europeias é quase sempre polarizada e previsível onde algumas poucas equipes reinam soberanas sem serem incomodadas pelos rivais de menor poderio financeiro.

A Liga Inglesa (ou "Premier League") da qual o Liverpool participa, por outro lado, é considerada uma das competições mais difíceis e equilibradas do mundo. A competição, outrora polarizada como nos países vizinhos, tornou-se muito mais equilibrada e disputada com alterações ocorridas ao longo desta década, incluindo mudanças na distribuição das cotas de TV (agora a distribuição é feita de forma mais igualitária e há bônus pelo desempenho na liga) e a obrigatoriedade das equipes investirem em jogadores home-ground (que tenham nascido no Reino Unido ou revelados por equipes do país).

Tais mudanças tiraram os times do comodismo e os obrigaram a trabalhar ainda mais duro. Equipes multicampeãs, como Manchester United e Arsenal, não se adaptaram à nova realidade e vêm fazendo campanhas modestas, indignas de suas respectivas tradições.

As mudanças na Premier League também se refletiram na Champions League, com as esquipes inglesas adotando a mesma mentalidade na competição continental e tendo de se superar o tempo todo. Não por acaso, todas as equipes inglesas que participaram da edição 2018-19 chegaram pelo menos às quartas de final e os dois finalistas, Liverpool e Tottenham, também representavam a Inglaterra. E vale ainda lembrar que os dois finalistas da Europa League da mesma temporada, Arsenal e Chelsea, também são ingleses.



Imagem extraída de www.facebook.com/LiverpoolFC/



Isso, em parte, explica por que equipes como Paris Saint-Germain, Juventus ou Bayern München não têm conseguido chegar à final nos últimos anos a despeito dos investimentos que os clubes fazem em jogadores e treinadores. No caso dos bávaros, vale lembrar que havia um rival de peso na Bundesliga, o Borussia Dortmund, que obrigou o time vermelho a sair de sua zona de conforto e se superar para, enfim, colher os frutos de seu esforço em 2012-13. O enfraquecimento do Borussia Dortmund também significou o enfraquecimento da liga alemã e, consequentemente, a acomodação do Bayern que não teve mais rivais de peso para obrigá-lo a sair de sua zona de conforto.

A Itália, outrora forte e competitiva, viu sua liga e seus times enfraquecerem com a crise econômica. A Juventus, mantida com o apoio do grupo Fiat e sem rivais de peso, monopolizou a liga italiana e entrou na mesma zona de conforto de Bayern e PSG, o que justifica, em parte, o jejum de títulos na Champions da equipe bianconera

A liga espanhola, embora polarizada, conta com os arqui-rivais Barcelona e Real Madrid. A rivalidade entre os dois clubes os obriga a sempre se dedicarem e a se superarem o tempo todo, o que justifica o bom desempenho das equipes espanholas nas últimas dez temporadas.

A lição que o Liverpool e a Premier League deixam para os seus concorrentes é justamente a importância de haver competições domésticas fortes e equilibradas para que as equipes se mantenham competitivas e sejam obrigadas sempre a se superarem. 

Os resultados recentes da Champions League refletem tudo isso.



Imagem extraída de www.facebook.com/LiverpoolFC/



REFLEXOS NA SELEÇÃO

As mudanças na Premier League também vêm se refletindo na seleção inglesa. Vários jovens talentos vêm sendo revelados e preparados para servirem ao seu país. E os resultados já apareceram com o English Team faturando vários campeonatos nas categorias de base. E a seleção principal, totalmente renovada e rejuvenescida, conquistou um ótimo quarto lugar na última Copa do Mundo. Se o ritmo se mantiver, a Inglaterra pode sonhar com vôos mais altos nos próximos ciclos.



A INGLATERRA TAMBÉM COMETE SEUS ERROS

Como nada é perfeito, o futebol inglês também tem seus deslizes. As rodadas do Boxing Day (dia 26 de dezembro) e da virada do ano (entre os dias 31 de dezembro e 1º de janeiro) diminuem consideravelmente o período de folga dos atletas fazendo com que cheguem ainda mais desgastados na segunda parte da temporada, enquanto os rivais de outros países entram em recesso por causa das festas e do rigoroso inverno. Não obstante, as equipes inglesas ainda têm de disputar duas copas nacionais, a Football Association Cup e a English Football League Cup, deixando o calendário ainda mais apertado e os atletas ainda mais desgastados.



ENQUANTO ISSO, NO BRASIL...

Por favor, não confundam o "equilíbrio" existente na Premier League com o "equilíbrio" existente no nosso Campeonato Brasileiro. Na Inglaterra, a competição tornou-se equilibrada devido principalmente à melhor distribuição de verbas, enquanto o nosso Brasileirão é, na verdade, nivelado por baixo devido à má vontade da maioria dos nossos cartolas e treinadores. Infelizmente...


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