sábado, 11 de janeiro de 2020

O Brucutu que Mudou a Minha Opinião

Imagem extraída de www.facebook.com/nglkante/



Uma das minhas maiores inspirações para escrever este blog é o ex-meia Paulo César Caju, um defensor fervoroso do futebol-arte e crítico ferrenho dos jogadores brucutus. Li sua coluna semanal no extinto Jornal da Tarde de 2008 até 2012 quando o periódico encerrou suas atividades.

Meus textos, no começo, eram emulações das ideias de Caju, criticando muito o futebol mais físico e os treinadores pragmáticos, ao mesmo tempo que eu exaltava nomes como Guardiola, Johan Cruyff, Telê Santana e outros que pregavam o jogo mais ofensivo.

Fui observando, contudo, as transformações do futebol ao longo do tempo e, simultaneamente, percebi o quanto minhas ideias iniciais eram radicais. Ainda acredito que seja importante ter a posse da bola, buscar o ataque e jogar de maneira coletiva. Mas hoje reconheço a importância de se defender bem, de negar os espaços aos rivais e do jogo mais físico.

Dentre os muitos jogadores que adotam o segundo perfil mencionado, um me chamou a atenção nos últimos anos: o volante francês N'Golo Kanté, bicampeão inglês (conquistou um título pelo Leicester City em 2016 e outro pelo Chelsea no ano seguinte) e campeão mundial pelo seu país.

Nascido na França e filho de imigrantes malineses, Kanté teve um começo difícil em sua carreira futebolística. Por causa de sua baixa estatura (possui apenas 1,68m), tinha dificuldades em se firmar nos times e precisava complementar a renda trabalhando como lixeiro, até que recebeu oportunidades em clubes medianos na França como Boulogne e Caen. Passou a ser convocado para a seleção de seu pais após se destacar pelos dois clubes ingleses que defendeu.

Seu estilo de jogo não é vistoso. Por ser um jogador mais físico e com o intuito de destruir jogadas ao invés de construí-las, Kanté é responsável pelo "trabalho sujo" no meio-de-campo. Mesmo sendo "baixinho" para os padrões do futebol, o francês não foge de nenhuma dividida e, por causa disso, é um atleta bastante faltoso em campo. Até hoje não entendo como ele jogou a Copa de 2018 sem ter sido expulso ou suspenso -foram apenas dois cartões amarelos, sendo um na semifinal contra a Bélgica e outro na final diante da Croácia.



Imagem extraída de www.facebook.com/nglkante/



Não fiquei encantado com o estilo de jogo de Kanté, mas é impressionante como ele faz a diferença em campo. Ele oferece muita segurança na defesa -Varane e Umtiti tiveram uma vida muito mais fácil com o volantão oferecendo proteção à zaga. O camisa 7 também permitia que os laterais Pavard e Hernandez subissem tranquilamente para o ataque já que ele ajudava a preencher eventuais espaços deixados pela dupla.

Kanté me ajudou a compreender de maneira definitiva a importância dos volantes do tipo "xerifão". Jogadores como o francês dão a cobertura necessária para que jogadores mais ofensivos possam brilhar -se o meio-campista não estivesse em jogo, provavelmente os meias e os laterais teriam muito menos liberdade para atacar já que teriam de se preocupar mais em preencher eventuais espaços.

Continuo sendo um apreciador do futebol-arte. Ainda gosto de ver equipes leves e ofensivas como Barcelona, Ajax ou Arsenal.

É inegável, no entanto, a importância de jogadores com o perfil de Kanté, sobretudo no futebol atual quando preenchimento dos espaços está muito mais em evidência do qualquer outro fundamento no esporte.

Sua história comovente, sua superação e, principalmente, seu desempenho espetacular em campo me convenceram a deixar as ideias de Caju um pouco de lado e fizeram me curvar diante de um pequeno porém talentoso brucutu.



Imagem extraída de www.facebook.com/nglkante/




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