sexta-feira, 14 de abril de 2023

Choques Culturais

O português Pepa foi contratado em março pelo Cruzeiro
(imagem extraída de www.facebook.com/cruzeirooficial). 



O sucesso de Jorge Jesus no Flamengo e de Abel Ferreira no Palmeiras fez com que muitos outros clubes fossem atrás de treinadores estrangeiros, em especial os portugueses. De 2019 pra cá, diversos técnicos lusitanos passaram pelos times brasileiros: Jesualdo Ferreira (Santos), Ricardo Sá Pinto (Vasco), Luís Castro (Vasco), Paulo Sousa (Flamengo) e Vítor Pereira (Corinthians e depois Flamengo). O último a desembarcar em nosso país foi Pepa, contratado pelo Cruzeiro no dia 20 de março.

A CBF também tende a seguir na mesma direção e busca por um treinador europeu para assumir a Seleção em junho. O italiano Carlo Ancelotti é a prioridade mas os portugueses Jorge Jesus e Abel Ferreira têm defensores na confederação e os dois lusitanos poderiam ser um "plano B" para o selecionado nacional.

Os treinadores portugueses também se animaram em vir para o Brasil, sobretudo com o sucesso do compatriota Jorge Jesus por aqui visto que o Mister conseguira reerguer a sua carreira no Flamengo e fora chamado de volta ao Benfica em 2020 após conquistar tantos troféus pelo Rubro-Negro.

A grande maioria dos treinadores mencionados no primeiro parágrafo, contudo, não teve êxito em nosso país e nem de longe conseguiram repetir o sucesso de Jesus ou de Abel. Ficou bastante evidente que houve um grande choque cultural entre os técnicos lusitanos e o futebol brasileiro por vários motivos: o imediatismo pelos resultados, as cobranças dos torcedores (muitas vezes ameaçadoras e violentas), a falta de profissionalismo de alguns jogadores, entre outros. 



Luís Castro está há pouco mais de um ano no
Botafogo mas vem balançando no cargo (imagem
extraída de www.facebook.com/Botafogo).



As diferenças entre o futebol europeu e o brasileiro ficaram evidentes após a passagem de Vítor Pereira pelo Flamengo, demitido na última terça-feira. O treinador se mostrou pouco flexível com seu esquema tático (o português não abria mão da formação de três zagueiros e pouco utilizava o meio-de-campo para criar jogadas) e não hesitou em sacar atletas que outrora eram considerados titulares absolutos. Sua queda na Gávea foi mais do que esperada em tal cenário.

Já houve casos na Europa onde jogadores derrubaram técnicos mas no Velho Continente, de modo geral, os treinadores possuem muito mais autoridade e estabilidade em relação ao Brasil. Mais do que isso, os comandantes se relacionam apenas profissionalmente com os jogadores e raramente aceitam palpites dos atletas. Quem não se encaixa é mandado para o banco ou afastado. Mesmo Ancelotti, que possui um perfil paternalista, mantem tal distanciamento dos futebolistas.

O treinador europeu, portanto, não é "parça" nem "brother" dos jogadores. Os dirigentes precisam compreender que ao contratar um técnico estrangeiro, ele não apenas trará esquemas táticos revolucionários como também ele exigirá profissionalismo e disciplina dos subordinados. Porém, os futebolistas, cabe lembrar, são "ativos" dos clubes e os cartolas quase sempre preferem tomar partido dos atletas nos confrontos, o que causou algumas das demissões.

Os clubes são livres para buscarem treinadores em Portugal assim como os técnicos lusitanos são sempre bem-vindos para acrescentar novos valores ao nosso futebol. Cabe lembrar, porém, que ambos os países adotam metodologias de trabalho bastante diferentes no esporte e esses choques culturais explicam o fracasso de alguns dos comandantes portugueses por aqui.



Os flamenguistas aguardam ansiosos pelo retorno de Jorge Jesus acreditando que o treinador
repetirá o sucesso de 2019. Será (imagem extraída de www.facebook.com/Fenerbahce)?




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