sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Ensino Fundamental

Thierry Henry fracassou em sua primeira tentativa como técnico
(imagem extraída de www.facebook.com/asmonaco.portuguese)



Eu costumava emular muitas ideias do articulista e ex-jogador Paulo César Caju. Uma delas mencionava a experiência de um treinador como atleta. Segundo o ex-meia, um bom técnico também precisa ser um bom futebolista, afinal apenas assim o comandante teria o que ensinar a um comandado: passe, drible, finalização, marcação, ...

Caju também era bastante crítico com treinadores que tinham pouca ou nenhuma experiência em campo, a quem chamava ironicamente de "professores". O ex-meia chegou a culpar técnicos com tal perfil pelo baixo nível do jogo praticado no Brasil, sobretudo quando comparado à Europa atual ou à era de ouro de nosso futebol -de 1958 até 1970.

Há uma certa razão nas palavras de Caju, afinal muitos dos grandes treinadores foram grandes jogadores no passado. Zagallo, Jupp Heynckes, Didier Deschamps, Johan Cruyff, Guardiola, Zidane, Beckenbauer, ... Exemplos não faltam de técnicos com este perfil. Por outro lado, há comandantes com pouca ou nenhuma experiência em campo e, mesmo assim, eles são referências no banco de reservas, como Arrigo Sacchi, Loco Bielsa e Jorge Sampaoli.

Há, por fim, treinadores que foram grandes jogadores no passado mas que não conseguiram se firmar no banco de reservas. O ex-atacante Thierry Henry e o ex-meia Paulo Roberto Falcão foram dois craques com a bola nos pés mas não repetiram o sucesso com a prancheta.



Falcão não repetiu no banco de reservas o sucesso que teve como
jogador (imagem extraída de www.facebook.com/scinternacional)



Thierry Henry começou como auxiliar de Roberto Martínez na seleção belga mas aceitou um convite para dirigir o Monaco, time que o revelou para o futebol, e renovar a equipe em 2018. O francês até indicou seu ex-colega de Arsenal, Cesc Fàbregas, para ajudar no processo, mas o reencontro do ex-atacante com o clube monegasco não foi muito feliz com a equipe apresentando um rendimento pífio e o técnico sendo demitido já em janeiro de 2019.

Falcão dirigiu vários times, incluindo o Internacional (clube onde foi revelado e consagrado) e a Seleção Brasileira. O roteiro do Rei de Roma no banco de reservas, contudo, acabou sendo o mesmo em todas as equipes que comandou: futebol empolgante no começo, bons resultados iniciais, queda acentuada de rendimento a longo prazo e demissão.

Falcão e Henry, segundo jornalistas, apresentaram os mesmos problemas no banco de reservas: ambos eram jogadores muito excepcionais em campo e ambos exigiam que seus comandados demonstrassem o mesmo nível de excelência nos gramados, algo muito difícil de ser obtido por "atletas comuns". A subsequente queda de rendimento se deveu justamente ao descontentamento do elenco com a metodologia dos treinadores.



Imagem extraída de www.facebook.com/ThierryHenry



Praticar e ensinar são duas coisas bastante diferentes. Nem todo bom aluno será um bom professor, assim como nem todo mestre foi um bom discípulo. Isto explica porque nem todo craque com a bola nos pés consegue repetir com a prancheta o sucesso apresentado nos gramados.

Gostaria de compartilhar uma pequena experiência pessoal neste sentido: eu era um aluno apenas razoável na faculdade mas meus professores elogiaram bastante os métodos de ensino que eu desenvolvi durante meus anos de pós-graduação. E olha que eu nunca enxergava em mim este potencial visto que eu sempre fui muito impaciente e prepotente, sobretudo para explicar algo a alguém!

Caju não estava errado quando disse que a experiência em campo é importante para que o treinador tenha bagagem para ensinar, mas isto não é uma regra. Há muitos grandes técnicos que não foram grandes jogadores, e vice-versa.



Imagem extraída de www.facebook.com/scinternacional




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