quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Gostaria de Não Ter Razão

O Botafogo acabou rebaixado com quatro rodadas de
antecedência (imagem extraída de www.facebook.com/Botafogo)



Há muitos meses atrás, mais precisamente no início do Campeonato Brasileiro 2020, eu escrevi um texto mencionando os ousadíssimos projetos do Botafogo e do Atlético Mineiro. Os clubes, mesmo bastante endividados e até apresentando problemas de atrasos nos salários dos jogadores, decidiram apostar alto em objetivos bastante ambiciosos mas viram a temporada terminar de forma melancólica.

O caso mais grave foi o do Botafogo. A instituição estava contando com o sucesso do projeto clube-empresa em 2020 que há anos esteve só na promessa. Tanto que trouxe dois jogadores caríssimos, o meia japonês Keisuke Honda e o atacante marfinense Salomon Kalou.

O projeto contaria com a colaboração e o apoio financeiro de torcedores ilustres, incluindo os banqueiros Moreira Salles e o influenciador Felipe Neto. Houve até a nomeação de um diretor-executivo para conduzir o andamento do que seria a salvação do Botafogo.

O projeto, porém, desandou mais uma vez após desentendimentos entre os dirigentes botafoguenses e os investidores. Felipe Neto, inclusive, expôs boa parte dos motivos de discórdia entre os envolvidos. No dia seguinte ao ocorrido, o presidente do clube sentenciou que "o Botafogo estava falido".

O time pouco pôde ajudar para melhorar a situação. As constantes mudanças de treinador, os salários atrasados e a falta de opções do elenco eram indícios de a luta do Fogão seria muito mais contra o rebaixamento do que pelos títulos. Honda e Kalou, já em final de carreira, pouco contribuíram em campo e já estão de saída do clube -o japonês já foi embora enquanto o marfinense deve acertar uma rescisão ao término da temporada.



Mesmo o treinador Jorge Sampaoli e seu elenco milionário não foram suficientes
para levar o Galo até os troféus (imagem extraída de www.facebook.com/atletico)



O Atlético Mineiro também apostou alto demais em metas ambiciosas. Trouxe o treinador venezuelano Rafael Dudamel e diversos reforços a pedido do comandante. Técnico e jogadores, porém, passaram a se desentender nos vestiários segundo jornalistas, o que teria levado à eliminação do Galo na Copa do Brasil, à queda na na Sulamericana e à consequente demissão do estrangeiro.

Dirigentes atleticanos, dispostos a conquistar o Brasileirão a todo custo, contrataram o treinador Jorge Sampaoli oferecendo a quantia que o Palmeiras não quis pagar ao argentino. Outros vários jogadores -praticamente um time inteiro- foram contratado a pedido do técnico.

O começo foi empolgante com o Galo exibindo um futebol vistoso, vibrante e intenso. Com o tempo, porém, o jogo de Sampaoli foi se tornando previsível aos adversários, os resultados minguaram e o treinador passou a externar seu descontentamento. O argentino pedia ainda mais reforços e chegou a expor os salários atrasados do elenco durante entrevistas. Jornalistas explicaram que os parceiros do Atlético bancavam apenas as contratações mas não os vencimentos dos atletas o que teria levado a tal situação.

O Galo termina a temporada fora da disputa do título mas ainda acreditava no treinador. Tanto que mais reforços milionários -o atacante Hulk e o meia Nacho Fernández- foram contratados. Sampaoli, porém, recebeu uma proposta do Olympique de Marseille e a tendência é de saída após o último jogo do Brasileirão.



Imagem extraída de www.facebook.com/Botafogo



A maioria das pessoas se sente orgulhosa em ter razão de algo, independente do assunto ou da situação. Eu, porém, gostaria muito de ter mordido a língua pelo que escrevi no post de agosto de 2020. Adoraria que os ambiciosos projetos de Fogão e Galo fossem chamados de "ousadia" e não de "irresponsabilidade".

Estava bastante claro que os dois alvinegros estavam dando um passo maior do que as pernas ao apostarem o que não tinham em projetos tão audaciosos. Havia a certeza de que os objetivos dos dois clubes seriam alcançados e, com isso, eventuais dívidas poderiam ser sanadas.

Pior para o Botafogo que terá de passar 2021 na Série B e as perspectivas não são boas visto que a situação do Fogão está tão ruim quanto a do Cruzeiro, que sequer conseguiu o acesso durante a última temporada. Utilizando-se a Raposa como exemplo, as previsões em General Severiano são de pessimismo.

O Atlético poderá, ao menos, sonhar com o bicampeonato da Libertadores. O elenco é forte, robusto e o treinador (que não se sabe se será Sampaoli, Cuca, Renato Gaúcho ou outro) terá em mãos ótimo grupo para buscar os troféus em 2021. A questão dos salários atrasados, porém, precisa ser resolvido a todo custo. A equipe precisa estar motivada e concentrada em todos os sentidos se o clube realmente quiser os títulos.

Botafogo e Atlético Mineiro foram duas demonstrações de que o limiar entre ousadia e irresponsabilidade é muito tênue. É preciso ser arrojado para se ter sucesso, mas também é preciso manter os pés no chão antes de se investir tão alto em algo que não oferece certeza de retorno.

E eu gostaria de estar errado em tudo o que escrevi neste texto e também no de agosto de 2020.



Imagem extraída de www.facebook.com/atletico




Nenhum comentário:

Postar um comentário