segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Por uma Mídia Mais Responsável

Imagem extraída de www.facebook.com/FlamengoOficial



Há alguns meses atrás, Rogério Ceni era visto como um sucessor digno de Jorge Jesus por ser um treinador "moderno", "vitorioso", "intenso" e "vibrante". Tudo isso foi repetido em verso e prosa por torcedores e também por alguns profissionais de imprensa quando o paranaense desembarcou na Gávea. Hoje, alguns destes mesmos que exaltavam o técnico, pedem sua cabeça após a queda de rendimento no Brasileirão e as eliminações nos torneios de mata-mata.

O São Paulo, há alguns meses atrás, era visto como o "melhor time do Brasil" e Diniz era exaltado quando "cobrava os jogadores em campo", quase sempre de maneira ríspida com direito a insultos e palavrões. Agora o time é visto como "apático", "sem repertório" e "vexatório". E o treinador é severamente criticado por "ofender os jogadores à beira do gramado".

Abel Braga era visto como "ultrapassado" há alguns meses atrás por receber um Internacional montado por Coudet, colecionar eliminações e perder a liderança para os rivais. Com o Colorado se reerguendo após este período de turbulência, praticamente só se vê elogios ao treinador carioca.

Mudar de opinião pode até ser considerado "normal" para torcedores, embora eu discorde afinal eu defendo que clubes sejam administrados com racionalidade e não passionalidade. Muitos trabalhos promissores foram interrompidos pela ira de fãs em nome dos resultados a curto prazo e as equipes acabaram pagando o preço em algum momento.

A grande questão, porém, é quando pessoas influentes e profissionais de imprensa passam a mudar de opinião repentinamente de acordo com o momento, contradizendo até mesmo o que haviam dito ou escrito em algum passado não muito distante.



Imagem extraída de www.facebook.com/saopaulofc



Profissionais de imprensa vivem da audiência. É através dela que conseguem receita, afinal é dessa forma que obtêm fama e é assim que as emissoras ou plataformas pagam os comunicadores. Ademais, mais visualizações também atraem patrocínios, o que significa mais lucro.

Sabe-se, porém, que a polêmica é um dos maiores chamarizes para a audiência. Isto não é novidade desta década visto que já era comum nas mesas redondas comentaristas provocarem rivais ou emitirem declarações contundentes. A repercussão, porém, aumentou com o advento da internet e um simples tweet de vinte caracteres pode ser tão devastador quanto uma bituca de cigarro em um posto de gasolina. Os profissionais sabem disso e alguns deles deliberadamente exageram em suas declarações, por mais que contradigam algo que tenham dito ou escrito no passado.

Alguns destes profissionais também mudam de opinião com o mero propósito de fazer média com a torcida. Quando o comunicador diz (ou escreve) aquilo que o torcedor quer ler (ou ouvir), ele sabe que está gerando mais engajamento e, consequentemente, mais audiência e lucros. Influenciadores do Youtube conseguem fama justamente desta forma.

O profissional de imprensa, porém, tem muito mais influencia que um mero torcedor. Suas declarações repercutem muito mais em clubes do que um protesto de uma organizada e isto, muitas vezes, acaba prejudicando trabalhos de times, treinadores e dirigentes. Uma simples opinião de um jornalista tem mais chances de causar a demissão de um técnico do que uma passeata à frente de um centro de treinamento. E, de fato, já houve comunicadores responsabilizados por interferirem nas decisões de uma instituição.

Mudar de opinião é direito de todos mas um comunicador precisa ter ciência de que suas declarações podem até mesmo influenciar no futuro de um país, sobretudo com a velocidade atual dos meios de comunicação. É obrigação dos clubes blindar seus profissionais das críticas e elogios, mas também é obrigação da imprensa se responsabilizar pelo que veicula, para o bem e para o mal.

Gostaria, por fim, de elogiar o jornalista Vitor Sergio Rodrigues, o VSR, que mudou de opinião mas teve a humildade de admitir tal mudança e ainda pediu desculpas a Fernando Diniz por algumas críticas proferidas no passado. Pena que a atitude do comunicador seja uma pequena exceção em meio a tantos que fazem tudo pela audiência, inclusive se contradizerem.



Imagem extraída de www.facebook.com/scinternacional




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