segunda-feira, 10 de maio de 2021

Três Zagueiros

Imagem extraída de www.facebook.com/saopaulofc



Muitos torcedores do São Paulo celebraram o estilo de Hernán Crespo, e não foi apenas pelos resultados obtidos. O argentino adotou o 3-5-2, esquema que traz boas lembranças aos são-paulinos, afinal foi com três zagueiros em campo que o Tricolor conquistou o Mundial de 2005 e os três Campeonatos Brasileiros consecutivos (2006, 2007 e 2008). Como escreveu o jornalista André Rocha, os fãs desenvolveram um certo "fetiche" por tal formação devido às boas lembranças.

Não me recordo exatamente quando o 3-5-2 começou a ser adotado pelo São Paulo, mas Emerson Leão e Paulo Autuori conquistaram os títulos de 2005 utilizando tal formação. Muricy Ramalho, que assumiria no ano seguinte, preservou o esquema até meados de 2008 quando venceu seu último título pelo Tricolor.

Hernán Crespo, por sua vez, tem Marcelo Bielsa como sua principal influência, assim como os compatriotas Jorge Sampaoli, Tata Martino e Pizzi. El Loco sempre se notabilizou pelo futebol intenso (tanto no ataque quanto na marcação, pelo jogo com a bola no chão e, principalmente, pelo esquema de três zagueiros, seja 3-5-2 ou 3-4-3.



Comparação entre o São Paulo no Mundial de Clubes 2005 (esquerda)
e o atual (direita) -imagem obtida via www.footballuser.com



O 3-5-2, em teoria, aumentaria a solidez defensiva por disponibilizar mais um zagueiro, mas, na prática, ele retira um homem da última linha e o transfere para o meio-de-campo. A zaga, porém, ganha uma cobertura melhor com cinco jogadores na faixa central e é possível dificultar a criação rival com mais atletas em tal setor. E o mais importante: os laterais precisam voltar menos para marcar em tal formação.

O lateral brasileiro, como expliquei neste post, preza muito mais pelas características ofensivas do que defensivas. Aqui no Brasil é muito comum improvisarmos volantes, meias ou wingers na posição. Na Europa, porém, o lateral é muito mais um defensor que tem como objetivo impedir que o adversário chegue à linha de fundo, tanto que no Velho continente é comum improvisar zagueiros para a função.

O lateral, em um esquema de quatro defensores (ou dois zagueiros), precisa se deslocar muito para articular um contra-ataque e também para recompor a defesa. Não é incomum que os adversários consigam jogar nas costas dos laterais em tais casos. Em uma formação de três zagueiros, porém, o lateral não precisa voltar tanto para marcar visto que os beques oferecem uma cobertura melhor durante as subidas.



Em um esquema de dois zagueiros, o lateral precisa armar os contra-ataques pelos lados e
 também recompor a defesa para evitar que o rival chegue à linha de fundo. Em um esquema de três
zagueiros, o lateral não precisa voltar com tanta frequência (imagem obtida via this11.com)



Um ponto fraco do esquema de três zagueiros é quando o adversário possui atacantes bons em jogadas individuais e que não dependam tanto do meio-de-campo. Guardiola, quando dirigia o Bayern München em 2015, tentou frear o Barcelona com um 3-5-2/3-4-3 para evitar que Iniesta e Rakitić (ou Xavi) abastecessem os definidores catalães. O Barça de Luis Enrique, porém, contava com o tridente Messi-Suárez-Neymar que pulverizou a defesa bávara. O São Paulo passou por situação semelhante em 2009 diante do Corinthians com Dentinho, Ronaldo e Jorge Henrique.

Outro detalhe a ser observado é que a escola "bielsista" sempre prezou por equipes muito fortes no ataque e na criação, mas fracas na defesa. As zagas do Chile e da Argentina, seleções que foram dirigidas por Bielsa e seus discípulos, estavam longe de ser consideradas seguras e muitos de seus zagueiros ainda possuíam baixa estatura.

O futebol atual consegue diminuir tais desvantagens com a compactação ou recomposição defensiva. Os jogadores atuais não guardam mais posição e precisam se movimentar o tempo todo, mas isto requer um bom preparo físico e os jogadores do São Paulo já sentiram que não será fácil manter a intensidade durante os noventa minutos, o que é agravado pela ausência de férias e pela maratona de partidas.

Hernán Crespo, até o momento, tem conseguido entregar desempenho no São Paulo. Os jogadores e o treiandor têm feito sua parte, seja no talento, na técnica ou na raça. Resta saber se o argentino conseguirá lidar com um ano tão atípico e as cobranças de um clube ansioso por troféus.



Imagem extraída de www.facebook.com/saopaulofc




Nenhum comentário:

Postar um comentário