sábado, 15 de agosto de 2020

O Escudo que Entorta Espadas

 

Imagem extraída de www.facebook.com/ChampionsLeague/

 
 
 
Quando comecei a escrever este blog, eu sempre torci pelos times mais ofensivos, aqueles que propõem o jogo, gostam de ficar com a bola e não se contentam em segurar resultado. Tudo influência do articulista Paulo César Caju. E teria torcido para o City há alguns anos atrás.

Hoje já vejo o futebol de outra maneira. Compreendo que é impossível ficar com a bola o tempo todo e acredito que há momentos em que é necessário se defender, saber sofrer, abrir mão da bola.

Manchester City X Lyon foi mais um daqueles jogos de ataque contra defesa. Os Citizens, do ofensivista Guardiola, propuseram o jogo enquanto os Gones de Rudi García aceitaram o papel de lutar por uma bola e tentar vencer nos contra-golpes.

O City atuou de maneira semelhante à Atalanta no 3-5-2/3-4-3 com o meia Kevin De Bruyne se juntando aos atacantes Gabriel Jesus e Raheem Sterling. O trio, assim como a Dea, trocava de posição e tabelava o tempo todo visando confundir a marcação. E recebia ajuda da zaga e do meio-de-campo que subia em bloco para manter a bola no campo de ataque.

O Lyon, no 3-5-2, ficou quase todo recuado apenas com os atacantes Toko Ekambi e Memphis adiantados. E os laterais Dubois e Cornet atuavam como o desafogo francês e articulava as jogadas de contra-ataque pelas pontas, acionando os dois atacantes.

O time inglês buscava o ataque o tempo todo, mas deixava espaços para que Dubois e Cornet jogassem nas costas de Cancelo e Walker, respectivamente. O gol do Lyon, aliás, saiu justamente em um contra-ataque articulado por Toko Ekambi e Cornet quando o camaronês chutou em cima de Éderson e o marfinense aproveitou o rebote. O City insistia, mas perdia gols ou parava na sólida defesa dos rivais.



City no 3-5-2/3-4-3 (com o meia De Bruyne se juntando ao ataque) tenta confundir
a marcação francesa fazendo seus atacantes trocarem de posição e tabelando próximos
à área, mas o trio ou perdia gols ou parava na defesa. Lyon se defende em 3-5-2 com
os laterais Cornet e Dubois atuando como desafogos e acionando os atacantes
Memphis e Toko Ekambi aproveitando os espaços deixados (obtido via this11.com/).



 O City aumentou a pressão no segundo tempo. Guardiola trocou um zagueiro (Fernandinho) por um atacante (Mahrez) e um volante (Rodri) por um meia (Silva). As mudanças sobrecarregaram a defesa francesa e renderam o empate com De Bruyne, mais recuado e aparecendo de surpresa na área para arrematar um rebote. Sterling e Jesus pressionavam mas perdiam muitos gols ou paravam no goleiro Lopes.

O Lyon, precisando reagir, colocou um atacante mais agudo (Dembélé) no lugar de Memphis, além de um volante mais ofensivo (Thiago Mendes) no lugar do defensivo Bruno Guimarães. A estratégia deu certo: logo após Sterling perder um gol feito, Dembélé foi acionado em contra-ataque e colocou os Gones novamente na frente. Rudi García recuou o time após o segundo gol ao trocar o atacante Toko Ekambi pelo meia Reine-Adélaïde. E Dembélé, em novo contra-golpe, classificou os franceses com mais um gol. 3 x 1 para o Lyon.



City no 4-3-3 consegue furar a defesa francesa, mas perde muitos
gols e deixa muitos espaços às costas dos defensores, permitindo que Toko
Ekambi e, principalmente, Dembélé consigam achar espaços para
contra-atacar e selar o resultado (imagem obtida via this11.com).



Lyon consegue uma classificação histórica e tem a grande chance de superar a geração de ouro que parou nas semifinais em 2010. O time não jogou um futebol vistoso mas demonstrou muita solidez defensiva, eficiência nos contra-golpes e, principalmente, muita força mental para resistir à pressão vinda de um elenco tecnicamente superior (e também milionário). City, novamente, vê o sonho de ganhar a Champions adiado mais uma vez e Guardiola ainda segue sem conquistar a "orelhuda" fora de seu Barcelona.

A filosofia ofensiva de Guardiola ainda deve ser exaltada por tudo o que conquistou no futebol, mas o Lyon nos mostrou que resistir e defender é tão importante quanto atacar. E eu aprendi que posse de bola e ofensividade não é tudo no esporte.



Imagem extraída de www.facebook.com/ChampionsLeague/




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