quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Mal Necessário?

 

Imagem extraída de www.facebook.com/fcbarcelona/



2008. O Barcelona encerrou a temporada sem um troféu sequer. A fantástica geração bicampeã da Champions League (Ronaldinho, Eto'o, Deco, ...) já não encantava e nem decidia os jogos como na primeira metade daquela década. A ideias do treinador Frank Rijkaard também já não pareciam suficientes para fazer o time reagir. Eram necessárias mudanças.

O clube demitiu Rijkaard e apostou no então pouco conhecido Josep "Pep" Guardiola, então treinador do time B do Barça. O catalão promoveu uma verdadeira revolução na equipe principal ao dispensar estrelas como Ronaldinho e Deco (Eto'o deixaria o clube mais tarde, em 2009) para dar mais espaço às pratas da casa como Xavi, Iniesta e Busquets. O resultado? O comandante revolucionou o futebol com seu Tiki-Taka, conquistou a Champions League duas vezes (2009 e 2011) e devolveu ao Barcelona o respeito que a instituição merece.

2020. O Barcelona encerra uma temporada melancólica sem nenhum troféu. Não obstante, o clube acumulou atuações pífias na Champions League ao longo dos anos, o elenco parecia não mais render como antes, as contratações (tanto de jogadores quanto de treinadores) não obedeciam nenhum critério senão a pressa e os dirigentes tomavam decisões cada vez mais equivocadas. Uma nova revolução parecia ser necessária.

O clube recorreu ao ex-zagueiro Ronald Koeman, holandês, ex-jogador do próprio Barcelona, discípulo de Johan Cruyff e ex-colega de Guardiola. O ex-defensor ganhou relevância na Inglaterra quando classificou o Southampton (que contava com Sadio Mané, Virgil van Dijk e Dejan Lovren) para a Europa League em 2014. Seu estilo combina influencias de seu mentor com o pragmatismo e a força física típicos do futebol inglês. Koeman estava envolvido com a renovação da seleção de seu país, mas não hesitou quando recebeu o convite para retornar à Catalunha.

Koeman mal retornou ao Barcelona e já iniciou uma verdadeira revolução ao declarar que não contaria com medalhões como Umtiti, Vidal, Rakitić e Suárez. O treinador pretendia utilizar Lionel Messi em seu projeto de renovação do elenco, mas o argentino, insatisfeito com as atitudes do clube, pediu para deixar o time. A possível saída do atacante desencadeou uma comoção na Catalunha e uma série de protestos contra o presidente do Barça, Josep Barrtomeu. Até mesmo autoridades catalãs se mobilizaram contra a saída do camisa 10.



Imagem extraída de www.facebook.com/fcbarcelona/



As atitudes de Koeman são questionáveis, mas compreensíveis. Um grupo, sobretudo quando realiza muitas conquistas, tende a se acomodar com o tempo. A geração de Lionel Messi também está envelhecendo, como apontei em post anterior, e entrega cada vez menos a intensidade exigida no futebol atual. O Barcelona precisava, portanto, sair de sua zona de conforto e renovar seu elenco, algo que condiz com as ações do novo comandante.

Koeman tratou de demonstrar que está disposto a cobrar e enfrentar o elenco por mais conquistas que os jogadores tenham obtido no passado. A maneira como o holandês anunciou as prováveis dispensas foi muito semelhante à de seu ex-colega Guardiola quando abriu mão de seu principal astro, Ronaldinho Gaúcho. Foi um duro aviso a atletas e torcedores de que a revolução está a caminho.

A possível saída de Messi pode, de fato, ser um problema a curto prazo. O arquirrival Real Madrid serve como exemplo negativo quando prescindiu do talento de Cristiano Ronaldo. Uma eventual transferência do argentino, porém, também pode ser um mal necessário ao clube. Basta lembrar do próprio Ronaldinho, maior jogador do Barcelona na primeira metade da década de 2000. O time sentiu a ausência de seu astro inicialmente, mas soube se reinventar com a ausência do ídolo conquistando a tríplice coroa já na primeira temporada sem o "Bruxo".

Koeman, com ou sem Messi, é a revolução que o Barcelona precisava neste momento de crise, tirando os jogadores do comodismo e tentando resgatar os valores que o clube perdeu ao longo dos anos. Eu mesmo cheguei a recomendar a contratação do holandês no passado.

O treinador já deu o primeiro passo para as mudanças necessárias. Resta saber se conseguirá dar continuidades a elas. A revolução de Koeman não se dará em águas tranquilas, sobretudo após ter atingido o maior ídolo do elenco.



Imagem extraída de www.facebook.com/fcbarcelona/




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