domingo, 16 de agosto de 2020

O Texto Perdido


 
 
 
Era 2011. Eu ainda nem tinha planos de fazer este blog e estava começando a apreciar o futebol europeu que estava se tornando cada vez mais acessível.

Eu estava na pós-graduação quando recebi uma proposta de emprego -não vou mencionar o local nem a vaga porque não quero nenhum inscrito exigindo a devolução do "texto perdido" pela instituição em questão!

Não estava muito disposto a aceitar mas me dispus a ouvir a proposta e participei do processo seletivo mesmo assim. Aliás, eu nunca havia participado de uma entrevista de emprego.

Uma das etapas do processo consistia em escrever uma redação. O tema era livre. Tudo o que eu poderia utilizar era uma caneta esferográfica e uma folha de sulfite tamanho A4. Não havia espaço para rascunho ou brainstorm, recursos que eu sempre lanço mão quando vou escrever. Fiquei até chateado porque teria espaço limitado para exercer minha criatividade.

Eu joguei no papel a primeira ideia que me veio à cabeça: futebol! Mas não escrevi qualquer coisa sobre futebol. Elaborei um texto relativamente complexo correlacionando o processo de colonização do Brasil com o poder aquisitivo dos nossos clubes, explicando porque os times de certas regiões de nosso país obtinham mais sucesso do que outras dando um certo enfoque para o nordeste brasileiro.

Não havia pressão para eu ficar com a vaga, afinal eu já estava satisfeito com meu trabalho atual. Eu estava até me divertindo naquela etapa da dinâmica! Me empolguei tanto escrevendo que o texto ficou extenso -lembro que foram mais de cinquenta linhas com direito a introdução, desenvolvimento da ideia e conclusão amarrando o início!







Passaram-se alguns dias. Fui aprovado mas acabei recusando a vaga porque estava satisfeito com minha situação atual e também porque discordei da proposta salarial -não admiti isso na época porque eu tinha vergonha de falar sobre dinheiro. Lembro que até mandei um e-mail educado agradecendo pela oportunidade.

Pensei muito tempo depois, contudo, naquele texto que redigi durante o processo seletivo. Eu escrevi com tanto gosto que pensei até em voltar na empresa e pedir uma cópia dele! Obviamente não fiz isso, afinal que tipo de candidato pede uma prova de volta? E, provavelmente, a entidade já deveria ter encaminhado o "texto perdido" para o latão de reciclagem.

Mal imaginava na época que aquele "texto perdido" seria um dos precursores do blog Farma Football, afinal muitas das ideias que deixei naquele pedaço de papel foram um verdadeiro ensaio para as postagens que eu escrevo nos dias de hoje.

Uma entrevista de emprego que nada tinha a ver com futebol ajudou o autor a preparar o terreno para o blog e indicou o caminho para onde seguir. Como dizia aquela música dos Titãs, "as ideias estão no chão, você tropeça e acha a solução".

E, antes que me perguntem: sim, sinto um pouco de arrependimento nos dias de hoje por não ter aceito a vaga, afinal a situação do Brasil e da pós-graduação mudaram muito de 2011 pra cá.








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