domingo, 2 de agosto de 2020

Valores


Imagem extraída de www.facebook.com/Arsenal/



Mikel Arteta no Arsenal e Ole Gunnar Solskjær no Manchester United. Ex-jogadores que se consagraram em seus respectivos clubes retornam agora no banco de reservas em contextos bastante parecidos: a dupla recebeu a missão de tirar os respectivos times da crise e recolocar suas equipes novamente na briga pelos títulos.

O futebol inglês sofreu profundas transformações nos últimos anos. Outrora polarizado como nos países vizinhos, a competição tornou-se mais equilibrada e disputada após mudanças nas regras de distribuição das cotas de transmissão o que permitiu que clubes que vinham sendo coadjuvantes na Premier League (Leicester, Everton, Watford, ...) passassem a incomodar os favoritos ao troféu nos últimos anos.

Manchester United e Arsenal haviam dominado o cenário durante quase toda a década de 2000 até que as mudanças passaram a ser implantadas no futebol inglês. Desde então, o rendimento dos dois clubes caiu, mostrando que não souberam acompanhar as transformações no esporte. Até houve algumas conquistas esporádicas como a FA Cup pelo Arsenal em 2014 e 2015 ou a Europa League pelo Manchester em 2017, mas nada que lembrasse a supremacia da dupla no passado.

Os dirigentes faziam sua parte, mas faltava algo que recolocasse os clubes de volta ao topo. Dinheiro não era problema. Se grandes jogadores e grandes treinadores não eram o suficiente, então o que mais era necessário para que os dois clubes vermelhos deixassem de der coadjuvantes e retornassem ao protagonismo?



Imagem extraída de www.facebook.com/manchesterunited/



O Manchester, com uma certa dose de sorte, encontrou o caminho em meio a temporada 2018-19. Em crise, os Red Devils demitiram o treinador José Mourinho e, talvez inspirados pelo sucesso de Zidane no Real Madrid, ofereceram uma chance ao interino Ole Gunnar Solskjær, ex-atacante do clube. O norueguês ainda não trouxe os títulos de volta ao Old Trafford, mas seu trabalho melhorou o time em todos os sentidos: ambiente, estilo de jogo e desempenho.

O Arsenal experimentou a mesma fórmula na temporada seguinte. O mau começo na temporada 2019-20 causou a demissão do treinador Unai Emery. O clube inicialmente tentou o interino Freddie Ljungberg (ex-atacante do clube) mas optou-se por contratar o espanhol Mikel Arteta, ex-volante do Arsenal e que estava trabalhando como auxiliar técnico de Pep Guardiola no Manchester City. O ex-meio-campista não conseguiu levar o clube de volta à Champions League, mas os efeitos de sua contratação foram os mesmos de Solskjær no Manchester: melhora de ambiente, de estilo de jogo e de desempenho. Os frutos do trabalho de Arteta foram colhidos com a conquista da FA Cup quando o Arsenal conseguiu eliminar de forma convincente o Manchester City de Guardiola (o mentor de Arteta) e também o Chelsea.

Solskjær e Arteta trouxeram algo mais do que ideias revolucionárias ou filosofias vencedoras aos seus respetivos times. A dupla utilizou sua experiência como jogadores e também sua identificação com seus clubes para motivar seus jogadores e extrair o melhor deles em campo. Os dois ex-jogadores entendem como poucos a responsabilidade e também o orgulho de se vestir duas camisas tão pesadas do futebol inglês.

Tais valores talvez jamais pudessem ser transmitidos com Mourinho (profundamente identificado com o Chelsea) ou Unai Emery (eternizado no Sevilla) por mais competentes que fossem o português ou o basco. Certamente faltava algo que motivasse os jogadores a sentirem orgulho de vestirem suas camisas e representar um clube. Solskjær e Arteta conseguiram acender essa chama em seus atletas.

Resta saber como serão os trabalhos dos dois ex-jogadores a longo prazo. Solskjær e Arteta tiveram um bom início como treinadores e, em princípio, têm plena confiança de seus dirigentes e torcedores. Corresponder à essa confiança com mais troféus será o grande desafio da dupla.



Imagem extraída de www.facebook.com/Arsenal/



EM TEMPO: inicialmente, considerei mencionar aqui o ex-meia Frank Lampard no Chelsea, mas sua contratação se deu em outro contexto, bem como o desempenho dos Blues nos últimos anos. Futuramente, podemos fazer um texto nos mesmos moldes.




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