segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Privatização

Imagem extraída de twitter.com/EternoDiez



Juan Román Riquelme foi eleito presidente do Boca Juniors no dia 17 de dezembro após derrotar Andrés Ibarra que era apoiado pelo ex-presidente da Argentina, o neoliberal Mauricio Macri. Após ter sua vitória confirmada, o ex-meia utilizou palavras fortes contra seus adversários, que pretendiam transformar o clube em uma empresa ou sociedade anônima de futebol (SAF).

Riquelme, que venceu Ibarra por ampla vantagem, declarou na ocasião: "o torcedor precisa saber que estamos diante das eleições mais fáceis da história. Esses senhores, quando voltarem, vão privatizar o clube, vão dá-lo aos três amigos que têm por aqui, e não se vota nunca mais. Isso não pode acontecer. Há muito tempo disse que ganharíamos por 95%, mas me parece que vamos ganhar por um pouco mais. Estaremos aqui por muitos anos, essa gente não pode pisar no nosso clube nunca mais. Não são torcedores, querem usá-lo para outra coisa".

As palavras do ex-meia, questões políticas à parte, têm uma certa razão. Como escrevi aqui no blog em outros posts, quando um clube se transforma em uma SAF, passa a ter um proprietário que pode fazer o que bem entender com a instituição desde que, obviamente, não viole as leis do país onde está sediado e nem afronte as regras estabelecidas pelas federações de futebol. E o dono pode permanecer no poder durante o tempo que desejar, afinal o time passa a ser sua propriedade.

O modelo tradicional, por outro lado, possui um conselho gestor que (teoricamente) limita os poderes do presidente e todas as ações centrais do clube são determinadas por voto. Ademais, tal formato é um pouco mais acessível ao torcedor que pode protestar contra medidas que lhe desagradarem, algo que raramente ocorre em uma SAF. Basta observar o Manchester United e o Arsenal, cujos fãs sempre se mostraram contrários os acionistas majoritários dos seus respectivos times e sempre foram ignorados pelos cartolas.



Imagem extraída de twitter.com/EternoDiez



A SAF, por fim, não oferece garantias de competitividade para os times e o Brasil foi o grande exemplo disto uma vez que apenas um clube que adotou o modelo (Atlético-MG) terminou entre os quatro primeiros do Campeonato Brasileiro 2023 e cinco deles (América-MG, Bahia, Coritiba, Cruzeiro e Vasco) ainda lutaram para não caírem.

Riquelme, portanto, tinha alguma razão quando proferiu aquelas críticas a Ibarra e seus aliados. Sabia que a transformação em SAF poderia elitizar o clube afastando-o do torcedor comum e o proprietário  dificilmente deixaria o poder visto que o Boca Juniors é uma marca muito forte e com alto potencial de lucro. O destino da entidade xeneize poderia ser o mesmo de Arsenal e Manchester.

Román, por outro lado, sabe que venceu com o "voto do povo" e isso terá um preço. O Boca Juniors há anos deixou de ser aquele gigante temido em toda a América do Sul e hoje apresenta dificuldades em competir, tanto sob a ótica técnica quanto a financeira. Riquelme terá de buscar maneiras de recuperar a instituição sem "privatizá-la" ao mesmo tempo que enfrentará cobranças do torcedor comum que o elegeu.

Temos de exaltar a coragem de Riquelme em arriscar o seu status de ídolo do Boca Juniors e buscar por alternativas financeiramente sustentáveis sem afastar o torcedor comum do clube. O ex-meia, porém, receberá uma instituição clamando por modernização ao mesmo tempo em que será pesadamente cobrado por suas promessas. A conferir.



Imagem extraída de twitter.com/EternoDiez




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