segunda-feira, 28 de junho de 2021

Jamais Abaixe sua Guarda

Imagem extraída de www.facebook.com/EURO2020



Miyamoto Musashi escreveu em "O Livro dos Cinco Anéis" que um adversário pode estar derrotado fisicamente mas ainda oferece perigo enquanto seu espírito ainda estiver forte. A Espanha acreditava ter vencido a Croácia no tempo normal pela vantagem de 3x1 mas quase pagou por abaixar a guarda diante de um rival que colocou o coração na ponta da chuteira.

A Furia foi a campo com praticamente o mesmo time que goleou a Eslováquia mas com Gayá no lugar de Alba na lateral esquerda e Ferran Torres estava de volta no lado direito do ataque. A estratégia também foi mantida com mais agressividade e infiltrações.

A Hrvatska começou a partida com duas mudanças: Ćaleta-Car estava de volta na zaga no lugar do suspenso Lovren e Rebić jogou no lado esquerdo do ataque no lugar de Perišić, diagnosticado com COVID-19. A ausência do camisa 4, aliás, foi bastante sentida tanto ofensivamente (ele é o artilheiro e o jogador que melhor se infiltra na defesa rival) quanto defensivamente (ele ofereceria uma melhor proteção ao garoto Gvardiol).

A Espanha começou pressionando mas, como sempre, pecava nas finalizações. A Croácia abriu o placar em um recuo infeliz do meia Pedri que o goleiro Simón não dominou. Gol contra do meia do Barcelona.

A Croácia aproveitou o momento de desconcentração da Espanha e subiu suas linhas, mas a Furia aproveitou a ausência da cobertura de Perišić para forçar jogadas no lado esquerdo da defesa. Ferran Torres passou a atacar por aquele lado. Os espanhóis empataram ainda no primeiro tempo com Sarabia após confusão na área de Livaković.



Espanha, em 4-3-3, tenta forçar jogadas pela direita onde Gvardiol
comete muitas falhas sem a cobertura de Perišić. Croácia, em 4-2-3-1,
tenta articular contra-golpes com Modrić ou com os pontas tentando
acionar Petković (imagem obtida via this11.com).




A Espanha virou o jogo criando chances justamente pelo lado esquerdo da defesa croata. Ferran Torres causou pesadelos em Gvardiol durante todo o segundo tempo. O placar indicava 3x1 para a Furia passados mais de trinta minutos da etapa complementar.

Luis Enrique, acreditando que a partida já estava resolvida, substituiu os jogadores mais cansados e mandou a Espanha recuar as linhas. A Croácia, sem mais nada a perder, encheu o time de atacantes e foi para o "abafa" sem mais nenhuma estratégia.

A Hrvatska, quase aos 40 minutos do segundo tempo, diminuiu para 3x2 com Oršić após um bate-rebate na área espanhola. Pašalić, já nos acréscimos, empata para a Croácia e leva o jogo para a prorrogação, para desespero de Luis Enrique e alegria de Zlatko Dalić.

Dani Olmo, porém, manteve a pressão do lado esquerdo croata onde havia apenas o inseguro Gvardiol. O jogador do Red Bull Leipzig criou as chances para Morata e Oyarzabal definirem o placar. 5x3 para a Furia.



Croácia, em 3-4-3, vai para o "tudo ou nada" e consegue levar o
jogo para a prorrogação. Espanha, em 4-2-3-1, leva sufoco mas
consegue espaços pela direita com Dani Olmo forçando sobre
Gvardiol (imagem obtida via this11.com).



Espanha vence mas aprende que é muito perigoso abaixar a guarda diante de um rival que não esteja mentalmente derrotado. Outro erro foi abrir mão da posse da pelota, algo que Guardiola já alertou quando afirmou que seu time "é muito ruim sem a bola". A Furia deveria "matar" o jogo e continuar trocando passes ao invés de recuar as linhas.

A atual geração croata chega ao seu limite. A Hrvatska precisa melhorar a defesa daqui para frente (renovar a zaga e /ou colocar algum primeiro volante para dar mais proteção) e buscar alternativas a Luka Modrić, afinal o camisa 10 já está com 35 anos e o time está dependendo em demasia de seu principal jogador. O ataque, apesar de menos talentoso do que a geração anterior, traz esperanças de dias melhores. Fica ainda uma crítica pela escolha da camisa: usar uniformes em tons escuros no calor, como foi hoje no Parken Stadium, é um desgaste a mais para os atletas.

Os ensinamentos de Musashi nunca fizeram tanto sentido como no jogo de hoje. A Espanha acreditava ter a partidas nas mãos mas viu uma valente Croácia reagir no espírito e no coração. Subestimar a força de vontade de um rival pode ser muito perigoso.



Imagem extraída de www.facebook.com/EURO2020




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