quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Só a Vitória Interessa

Imagem extraída do Facebook oficial de Anderson Silva-
http://www.facebook.com/spideranderson

Já faz algum tempo que eu estava querendo escrever um texto a respeito da maneira de nós brasileiros torcermos. Já escrevi em outros posts como somos passionais e permitimos que a emoção do momento fale mais alto do que a razão ou que a memória.

Pudemos sentir isso nas duas últimas campanhas da Seleção Brasileira em Copas do Mundo, quando Parreira (2006) e Dunga (2010) foram massacrados pela imprensa e pelo torcedor brasileiro após o Brasil ter sido eliminado. Quando Thierry Henry e Wesley Sneijder derrubaram nossa Seleção, ninguém quis se lembrar do que Parreira e Dunga conquistaram em um passado não muito distante daquele momento: os dois perderam o jogo, eram "burros" e ponto final. Trazer o título era obrigação.

Curioso notar, ao mesmo tempo, que praticamente ninguém quis analisar se os adversários tiveram algum mérito naquelas partidas. Quase ninguém disse que a França jogou melhor que o Brasil ou que Sneijder estava em um dia inspirado. Os nossos treinadores é que foram "incompetentes" e os jogadores é que foram "mercenários" e "não tiveram comprometimento com a camisa da Seleção".

O brasileiro não tem culpa se ele cria uma expectativa muito grande acerca dos nossos esportistas, muitas vezes influenciados pela mídia, e acaba se decepcionando com uma inesperada derrota. Mas em um campeonato são dezenas de atletas ou equipes competindo por um único troféu. Haverá, portanto, apenas um ganhador para dezenas de candidatos. Não conquistar o título faz parte do esporte. O fato de um atleta ou de um time não voltar com a taça na bagagem nos dá o direito de fazermos críticas, mas não nos dá o direito de ir até eles e lhes dizer um monte de palavras chulas ou ofensas. Os esportistas querem os troféus tanto quanto o torcedor, mas nem sempre a culpa é do atleta pela perda de um título.

Quando Anderson Silva (foto) perdeu sua última luta contra Chris Weidman na disputa pelo cinturão dos pesos médios no UFC, muitos torcedores criticaram pesadamente o lutador, alguns com ofensas e palavras chulas. Ninguém se lembrou que o Spider derrotou Vitor Belfort, Yushin Okami ou Chael Sonnen. Anderson, agora, era "burro", "frouxo", "perdedor" e ainda disseram que foi "bem feito" que ele saiu derrotado. Muitos que o criticaram sequer perceberam que o brasileiro perdeu a luta após quebrar a perna por conta de um acidente de trabalho. Não foi, portanto, porque o Spider teve um desempenho ruim ou porque Weidman foi melhor.

O brasileiro precisa compreender o significado de "espírito esportivo": todos têm o objetivo de vencer, mas há apenas um ganhador entre dezenas de candidatos. Todos os participantes, em sua maioria, dão o melhor de si para alcançar esse objetivo, mas nem sempre conseguem muitas vezes porque o adversário foi melhor.

Perder é muito doloroso, mas o torcedor precisa compreender que o esportista, mais do que ninguém, quer vencer, mas que isso nem sempre é possível. Não é justo, portanto, aumentar a dor de um atleta com ofensas ou palavras obscenas. É o mesmo que acusar um demitido de perder o emprego por incompetência quando, na verdade, foi a empresa em que trabalhava entrou em processo de falência.

Mas tudo isso não importa, afinal só a vitória interessa, não é?

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