segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Males que Vêm para o Bem

A ausência de Paul Pogba no meio-de-campo foi sentida
na Seleção Francesa mas Didier Deschamps deu um jeitinho
(imagem extraída de www.facebook.com/equipedefrance).



A França foi à Copa do Mundo com nada mais do que seis desfalques: Mike Maignan, Presnel Kimpembe, N'Golo Kanté, Paul Pogba, Christopher Nkunku e Karim Benzema. Não obstante, perdeu o lateral Lucas Hernández logo na primeira partida contra a Austrália. E os Bleus estão nas semifinais apesar de todas estas ausências.

Chega a ser insensibilidade o que vou escrever mas algumas das ausências foram males que vieram para o bem dos Bleus. Sim, afinal eu duvido que a França apresentasse o mesmo desempenho se viesse ao Catar com o time completo, mesmo com a lição aprendida na Eurocopa.

Montar um time leva tempo, algo que treinadores de seleções não dispõem. Tanto que Didier Deschamps manteve a base que venceu o Mundial de 2018, substituindo apenas atletas aposentados ou que não viviam um bom momento técnico. O treinador, aliás, é um abençoado que conta com material humano de sobra para cobrir as ausências visto que centenas de talentos nascidos na França continuam sendo formados todos os anos.

A manutenção da base facilita o trabalho na formação de um time mas também torna a equipe previsível para os rivais. Ademais, isto também cria um comodismo natural aos jogadores que utilizarão o troféu como desculpa para guardarem suas respectivas titularidades independente do momento técnico.

Isto ficou evidente durante a Euro 2020 quando a França abusou da displicência em campo e a maioria dos atletas jogou apenas com o nome -apenas Benzema, Lloris e, um pouco, Pogba demonstraram empenho na competição. Os Bleus acabaram eliminados merecidamente para a valente Suíça nas oitavas.



Kanté era considerado fundamental nos Bleus, mas
a França conseguiu se virar sem o volante (imagem
extraída de www.facebook.com/equipedefrance).



Os desfalques obrigaram Didier Deschamps a sair de sua zona de conforto e a se reinventar. As mudanças demoraram a ser assimiladas pelos demais jogadores, que tinham muito menos liberdade para atacar sem a proteção de Kanté, Pogba ou Matuidi (este último aposentado) mas o trabalho rendeu frutos e os Bleus chegaram às semifinais sem muito sofrimento.

Os jogadores também foram obrigados a sair do comodismo com as mudanças no esquema tático. Ademais, os atletas que não seriam titulares sabem que receberam uma chance de ouro para se firmarem e estão dando o sangue em campo. Um bom exemplo é o volante Adrien Rabiot, que não atravessa um bom momento na Juventus mas está comendo a bola neste Mundial.

O resultado foi um futebol muito mais fluido, agradável e ofensivo por parte dos Bleus; bem diferente do estilo que consagrou Deschamps, que possui fama de "retranqueiro". Eu não sou mais um defensor ferrenho do futebol-arte mas é preciso admitir que é muito mais aprazível ver a França desfilando todo aquele talento do que observar o time pragmático de 2018.

Os adversários também foram surpreendidos com as mudanças forçadas. Poucos esperavam um meio-de-campo tão criativo comandado por um Griezmann recuado ou por um Theo Hernández auxiliando Mbappé pela esquerda. A defesa, obviamente pagou o preço e os Bleus não terminaram nenhuma partida sem sofrer gols neste Mundial, mas o ataque compensou.

Didier Deschamps tem muito a lamentar com as ausências mas, ao mesmo tempo, o treinador precisa reconhecer que os desfalques foram indiretamente responsáveis pelo ótimo desempenho da França neste Mundial e o sonho do tricampeonato é real graças às alterações.



O esperado retorno de Benzema aos Mundiais acabou não
acontecendo, mas a França conseguiu se impor mesmo sem seu
camisa 9 (imagem extraída de www.facebook.com/equipedefrance).




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