quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Más Influências

Imagem extraída de www.facebook.com/DFBTeam



A Alemanha caiu novamente já na fase de grupos e com um roteiro parecido das duas eliminações anteriores: a equipe valorizava em demasia a posse de bola, não apresentava muita objetividade nas jogadas e parecia descaracterizada em relação ao estilo que a consagrou no passado. Os alemães pareciam ter mais medo em perder a pelota do que o jogo.

Não foi de hoje que surgiram críticas às mudanças no estilo da Alemanha. Mesmo durante a Copa 2014, que foi vencida pela Mannschaft, a equipe já começava a apresentar alguns problemas ao se deixar influenciar pelo Tiki-Taka espanhol que, ironicamente, fora destroçado pelo Bayern München durante o ano anterior.

Os dirigentes e os próprios jogadores tiveram responsabilidade na queda de rendimento da Alemanha visto que se acomodaram com a conquista do tetracampeonato e deixaram de inovar com o passar do tempo.

Observa-se, porém, que a Alemanha ainda carrega muitos vícios desenvolvidos durante a gestão Joachim Löw, o antecessor de Hansi Flick. O treinador anterior havia trocado a imposição física e a intensidade pela leveza e a posse de bola típicas do Barcelona.

Löw, mais do que isso, se deixou influenciar pelas "invenções" que Pep Guardiola realizou no Bayern entre 2013 e 2016. Entre as diversas mudanças contestáveis do catalão, podemos citar o improviso do lateral Philipp Lahm como volante, o uso de Thomas Müller como "falso nove" e a exclusão de jogadores com o estilo mais físico, como Bastian Schweinsteiger e Mario Mandžukić. O então técnico da Nationalelf  provavelmente "achou legal" todas aquelas "inovações" e quis fazer igual em sua seleção.

Eu mesmo sempre fui um entusiasta do Tiki-Taka e dos times que valorizam a posse da bola (Barcelona, Arsenal, Borussia Dortmund, ...) mas hoje reconheço que tal estilo já não possui a mesma eficiência de dez anos atrás.

 

Aos 33 anos e atuando fora de sua posição ideal, Thomas
Müller fez mais uma competição fraca pela Alemanha
(imagem extraída de www.facebook.com/fifaworldcup).



A passagem de Guardiola pelo Bayern não pode ser considerada um fracasso visto que o colosso bávaro seguiu empilhando conquistas, embora a Champions League tenha ficado distante. Ademais, o catalão deixou algumas "heranças benditas" que foram muito bem aproveitadas pelos sucessores (inclusive por Hansi Flick) em temporadas subsequentes incluindo o improviso do lateral Alaba na zaga, o ótimo volante Thiago Alcântara que ele foi buscar no Barcelona e o literalmente grande atacante Robert Lewandowski. Mas sua influência no clube traria muitas consequências negativas à Seleção Alemã.

Löw, da mesma forma, não pode ter seus méritos esquecidos. Foi o antecessor de Flick que tirou a Alemanha da fila de títulos, demonstrou a importância de se investir nas categorias de base, rodar o elenco para cobrir eventuais desfalques (até hoje não esqueço das convocações dos então desconhecidos Pierre-Michel Lasogga e Shkodran Mustafi em 2013) e apresentar alternativas ao estilo mais físico. Mas errou ao ficar no cargo durante mais tempo do que deveria além de apresentar pouquíssimas inovações desde a conquista do tetracampeonato.

Hansi Flick, por sua vez, pecou ao manter aquele mesmo toque de bola de Joachim Löw e de Guardiola, um estilo muito bonito de jogo mas sem a mesma efetividade de oito anos atrás. Talvez tenha optado pela solução fácil visto que dispunha de pouco mais de um ano e meio para preparar a Alemanha para a Copa de 2022. Pouco tempo, portanto, para se realizar uma renovação efetiva, diferente do que acontece nos clubes.



Schweinsteiger perdeu espaço com Guardiola no Bayern
 e seu futebol também se foi (imagem extraída
de www.facebook.com/BastianSchweinsteiger).





Não podemos deixar de reconhecer, contudo, que o treinador tentou fazer seu melhor. Flick barrou medalhões como Hummels e Boateng, ofereceu chances a atletas jovens e/ou pouco conhecidos (Musiala, Schlotterbeck, Raum, ...), e ouviu o seu torcedor ao convocar o atacante Niclas Füllkrug que foi um de seus poucos acertos na Copa 2022.

Errou em algumas escolhas de gosto duvidoso como insistir em Müller como falso nove ou colocar alguns novatos na fogueira. A derrota para o Japão, a meu ver, foi mais mérito dos nipônicos (que também aprontaram contra a Espanha) do que demérito da Mannschaft e o empate contra a Furia era um resultado esperado.

O trabalho de Hansi Flick, portanto, será muito maior do que apenas renovar o grupo. Será necessário rever muitos conceitos, admitir que o estilo introduzido por Löw não cabe mais no futebol atual e reestruturar a Seleção Alemã como um todo. A posse da bola ainda é importante mas já não é mais o único diferencial como em 2010 ou 2014.



Niclas Füllkrug foi um dos poucos acertos de Hansi Flick neste
Mundial e seu estilo deve ditar as tendências para a renovação da
Alemanha (imagem extraída de www.facebook.com/fifaworldcup).




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