quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

O Pequeno Grande Feito

Khazri agradece ao seu torcedor após a vitória da Tunísia sobre a
França (imagem extraída de www.facebook.com/FTF.OFFICIELLE).



Confesso que perdi o timing para este post, afinal a partida entre França e Tunísia ocorreu no dia 30 de novembro durante a fase de grupos e já estamos na última semana da Copa do Mundo. Eu, aliás, sequer havia pensado em escrever uma crônica para aquela partida -eu já havia programado para compor um texto para Argentina X Polônia no mesmo dia- mas senti muita vontade de dedicar algumas palavras a um dos jogadores que mais me emocionou neste Mundial, o meia-atacante Wahbi Khazri.

Khazri, filho de imigrantes tunisianos, nasceu em Ajácio/Ajaccio na França. Ele fez praticamente toda a sua carreira no país, exceto por uma breve passagem pelo Sunderland da Inglaterra, e até chegou a defender os Bleus nas categorias de base. O jogador, porém, permitiu que suas raízes falassem mais alto e aceitou o convite para representar as Águias do Cartago como profissional.

O camisa 10 não tardou a se destacar na seleção africana, tornando-se um de seus líderes e também uma de suas referências técnicas. Ele, inclusive, ajudou as Águias do Cartago a se classificarem para as Copas de 2018 (após oito anos de ausência) e também para a de 2022.

O jogador, porém, pouco atuou inicialmente neste Mundial por estar voltando de lesão. Ele não entrou em campo na estreia contra a Dinamarca (que terminou em empate) e apenas ingressou no decorrer da derrota contra a Austrália. Seria titular e capitão justamente contra a França, o país onde nascera e que representara quando jovem. E com uma difícil missão: precisava vencer os Bleus e ainda torcer para que os Socceroos, no máximo, empatassem com os Rød-Hvide.



Khazri sendo marcado pelo volante francês Youssouf Fofana
(imagem extraída de www.facebook.com/FTF.OFFICIELLE).



Khazri fez a sua parte e anotou o único gol da partida (e também o único das Águias do Cartago em toda a competição) pouco antes de ser substituído. Minutos depois, porém, a Austrália havia aberto o placar contra a Dinamarca e a Tunísia dava adeus à Copa. A desolação tomava conta dos africanos, que ainda levaram um susto ao final do jogo com um pênalti marcado para a França que foi anulado posteriormente.

O camisa 10, visivelmente chateado com a eliminação, comemorava a vitória com um sorriso amarelo junto de seus companheiros. Porém, os torcedores da Tunísia, que eram maioria na Cidade da Educação, deliravam com o triunfo das Águias do Cartago. O resultado, se pouco servia para Khazri e seus colegas, representava um grande feito para o país africano que havia sido um colônia francesa durante a Segunda Revolução Industrial. Ademais, era a primeira vez que os tunisianos derrotavam os Bleus na história do futebol.

Khazri se deixou levar pela alegria de seu torcedor e, aos poucos, o seu sorriso amarelo se transformava em um sorriso sincero, verdadeiro, espontâneo. Ele fez questão de cumprimentar um por um os jogadores que estavam em campo, inclusive os seus rivais -alguns deles seus ex-colegas de seleção nas categorias de base. O camisa 10 até foi visto trocando sorrisos e abraços com o treinador adversário Didier Deschamps. A geração de imagens da FIFA acompanhava o meio-campista e registrava todas as suas reações, o que ajudava a tornar o momento ainda mais emocionante.

Não poderemos, infelizmente, ver Khazri representando a Tunísia novamente visto que o jogador, no auge de seus 31 anos, anunciou a aposentadoria de sua seleção pouco após a eliminação da Copa do Mundo. Uma pena visto que ainda teria fôlego para ao menos disputar a próxima Copa Africana de Nações em 2023, mas a idade e as lesões que sofreu às vésperas do Mundial devem ter pesado em sua decisão.

Wahbi Khazri anotou o único gol de sua seleção na Copa 2022 mas o significado do feito foi tamanho que nem mesmo a esperada eliminação da Tunísia na fase de grupos foi suficiente para diminuí-lo. O tento do meia tunisiano prova que os heróis no esporte não são feitos apenas de títulos ou de recordes pessoais.



Khazri cumprimenta o treinador adversário Didier
Deschamps após a vitória da Tunísia sobre a França 
(imagem extraída de www.facebook.com/FTF.OFFICIELLE).




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