sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Um Anime em Campo

Imagem extraída de www.facebook.com/fifaworldcup



Quem assiste a animes (desenhos animados japoneses) do gênero shonen (voltados para o público adolescente masculino) sabe que seus protagonistas possuem personalidades similares: são todos muito determinados para alcançarem seus respectivos objetivos ao ponto de serem obstinados. É assim com Goku, Naruto, Seiya, Ash/Satoshi, Yusuke Urameshi, Luffy e, obviamente, Oliver/Oozora Tsubasa.

Os jogadores japoneses, da mesma forma, possuem traços dessa personalidade e nunca desistem em campo. O ex-meia Zico, que foi atleta e também treinador em terras nipônicas, sempre exaltou a dedicação dos futebolistas locais que sempre treinavam e se dedicavam para atuar no mesmo nível do Galinho.

Faltava, contudo, refinamento técnico às gerações anteriores de atletas japoneses que não conseguiam transformar toda aquela dedicação em resultados. Ademais, os nipônicos respeitavam em demasia os seus adversários, sobretudo aqueles que já foram campeões como Brasil, Argentina, Alemanha ou Itália.

O Japão, porém, sempre persistiu na formação de talentos apesar dos resultados iniciais ruins em competições. Ademais, os japoneses sempre abriram as suas portas para que craques em fim de carreira pudessem ajudar no desenvolvimento do futebol local, da mesma forma que fazem os países do Oriente Médio. Foi assim que nomes como Podolski, Iniesta e o próprio Zico desembarcaram na Terra do Sol Nascente e ajudaram a tornar a J-League um pouco mais interessante.



Imagem extraída de www.facebook.com/fifaworldcup



Os resultados demoraram a aparecer mas vieram. Jogadores japoneses passaram a ter mercado até mesmo na Europa. Tudo começou de maneira tímida no início dos anos 2000 com Shunsuke Nakamura e Hidetoshi Nakata como únicas referências. Depois vieram Shinji Kagawa, Keisuke Honda, Shinji Okazaki e outros que conquistaram títulos no Velho Continente. E, finalmente, chegamos à geração atual de atletas, quase todos atuando em bom nível nos gramados europeus.

Tal determinação também apareceu em campo no selecionado nacional. Mesmo diante das poderosas Espanha e Alemanha, os japoneses não esmoreceram e lutaram até o final. Mesmo diante de placares adversos, os Samurais Azuis subiram a ladeira e buscaram viradas épicas neste Mundial, em demonstrações inacreditáveis de força mental ainda que o gol da virada sobre a Furia tenha sido bastante duvidoso. Foram roteiros dramáticos, típico de animes. Quase como o Goku enfrentando o Majin Boo ou o Seiya superando um Aldebaran de Touro.

Alguns comunicadores chegaram a classificar as derrotas da Espanha e da Alemanha como "vergonhosas", mas isto só desmerece o trabalho de Hajime Moriyasu e de seus comandados que tiveram muitos méritos em campo. Os Samurais Azuis souberam se impor e buscaram o resultado diante das grandes adversidades.

O Japão provavelmente não vencerá a Copa do Mundo 2022 mas já demonstrou que dedicação e a busca por resultados a longo prazo podem levar equipes sem tradição no futebol a caminhos nunca dantes trilhados. As vitórias diante das gigantes Espanha e Alemanha foram fruto de anos persistindo no desenvolvimento do futebol japonês apesar dos fracassos iniciais.

A campanha do Japão na Copa 2022 não é um episódio de Supercampeões/Captain Tsubasa e, tampouco, terá um final feliz como nos animes, mas talvez possa ter um desfecho diferente durante os próximos ciclos. O desenvolvimento do futebol japonês exibido neste Mundial demonstra que há possibilidades futuras.



Imagem extraída de www.facebook.com/fifaworldcup




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