segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Soldados e Atletas

Não gosto de comparar o esporte com a guerra. Esse tipo de analogia mais parece dar argumentos de que o esporte deve ser violento e que devemos odiar nossos adversários como se fossem nossos inimigos.

O esporte, de fato, já foi instrumento bélico e político. Na Guerra Fria, por exemplo, era uma maneira de capitalistas e socialistas mostrarem sua superioridade sobre o outro lado. Hoje é praticamente uma ferramenta para gerar lucro.

Um questão, contudo, a ser levantada tanto na guerra quanto no futebol é sobre quem vence uma disputa.

É muito comum os chefes se destacarem e levarem o crédito em uma vitória, mas sabe-se muito bem que quem vai a campo é quem faz o trabalho sujo. Quem vai a campo é quem põe em risco sua saúde e sua segurança para alcançar uma vitória. E o futebol, convenhamos, há muito risco de um atleta se lesionar com gravidade, ficar com sequelas ou mesmo de morrer, ainda mais levando-se em conta que o esporte está cada vez mais violento com a valorização dos "guerreiros".

Sim, os chefes são importantes, mas é condenável que eles recebam toda a fama que, a meu ver, deveria ser destinada a quem realmente se sacrificou em campo para trazer a vitória. Nunca é demais lembrar que um líder jamais vence uma guerra ou uma partida de futebol sozinho e sem a ajuda de seus subordinados. Da mesma forma, um grupo descontente pode muito bem voltar-se contra um chefe injusto. O que é um líder político sem um exército que o defenda ou sem um povo que o apoie? Da mesma forma, o que seria dos presidentes dos clubes e dos "professores" sem os atletas que, na hierarquia, estão sob suas ordens?

O poder é como uma pirâmide, onde os subordinados são representados pela base mais larga e pesada que sustenta o topo leve e estreito que, por sua vez, representa o líder. Se a base ruir, o topo vem abaixo violentamente. Da mesma forma, se os subordinados deixarem de apoiar o chefe, ele cairá.

Há os líderes que não entendem bulhufas do ofício que comandam mas insistem em interferir no assunto em questão como se fossem os donos da verdade. Estadistas que vêem a guerra como um jogo de xadrez e tratam os soldados como os peões no tabuleiro provavelmente jamais empunharam uma arma para entender como é a realidade em um quartel ou em um campo de batalha. De maneira análoga, já presenciei dirigentes que nunca chutaram uma laranja na vida mas mandam e desmandam no futebol como se o jogador fosse um produto que eles compraram em um supermercado.

Na guerra e no futebol acredita-se também que o vencedor sempre tem razão porque é o melhor. Não necessariamente. Já vi muitos vitoriosos em uma batalha defenderem causas injustas, da mesma forma que assisti a muitas partidas de futebol onde o vencedor utilizou-se de meios escusos (violência e provocação) além de ser beneficiado pela conivência da arbitragem.

Quem vence a guerra é o soldado, da mesma forma que quem vence uma partida é o atleta. O líder, portanto, deve ser sempre justo e reconhecer quem realmente deu o sangue e colocou a vida em risco para que a vitória fosse alcançada.

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