quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Cicatrizes de uma Tragédia

Imagem extraída do Facebook oficial de Xherdan Shaqiri- http://www.facebook.com/XS1991

Sim, a mesma imagem do meia Xherdan Shaqiri quando comentei a respeito da Seleção Suíça na segunda-feira. Hoje, contudo, resgatei a imagem com outra finalidade.

Assisti apenas ao segundo tempo do tedioso jogo entre Brasil e Suíça que terminou 1x0 para os donos da casa. O resultado pouco importou para mim, afinal o jogo foi muito violento, truncado e os dois times, apesar de terem atletas habilidosos -como Neymar e o próprio Shaqiri- mais bateram do que criaram. Nenhum deles merecia vencer.

O que me chamou a atenção, contudo, foi o nome de alguns jogadores que representaram a Seleção Suíça, como Dzemaili, Xhaka, Behrami, Gavranovic e Seferovic, todos eles originários de países do Leste Europeu, como Bósnia-Hezergovina e Kosovo. Quase todos os atletas em questão são imigrantes ou descendem de imigrantes daquela região, outrora conhecida como Iugoslávia.

O fim da União Soviética enfraqueceu o governo de muitos países criados sob influência da potência comunista, como a ex-Checoslováquia e a ex-Iugoslávia. Ao mesmo tempo, o fim da URSS fortaleceu movimentos nacionalistas nesses países que revindicaram a autonomia desses Estados levando a processos de separação, muitas vezes sangrentos. Foi o caso da Iugoslávia que originou Sérvia, Croácia, Bósnia-Hezergovina, Macedônia, Eslovênia, Montenegro e Kosovo.

As guerras que levaram à fragmentação da Iugoslávia forçaram muitas famílias a fugirem de seu países natais e buscarem abrigo em outras nações como a Alemanha (que recebeu muitos refugiados bósnios) e a Suíça (que recebeu cidadãos kosovares). Até hoje lembro-me dos noticiários a respeito de bombardeios e de fugitivos daquela região no começo dos anos 90.

Passado o período mais turbulento da separação, alguns dos imigrantes -ou seus filhos- optaram por ficar nos países que os acolheram e defender as cores de seus novos lares, como o meia Marko Marin, que tem origem bósnia mas hoje veste as cores da Mannschaft.

O caso dos kosovares e seus descendentes, contudo, é mais complicado uma vez que a independência do país ainda não é consenso entre todas as nações. Da mesma forma, o credenciamento de uma Seleção Kosovar ainda não foi possível pela UEFA ou pela FIFA. Dessa forma, os atletas de ascendência kosovar não tiveram alternativa senão defenderem as cores dos países que os acolheram ou, então, atuarem pela Albânia, local de onde muitos kosovares descendem, como foi o caso do zagueiro Lorik Cana que hoje capitaneia a Seleção Albanesa.

Shaqiri, Xhaka e Behrami são três atletas de origem kosovar que poderiam "abandonar" a Suíça e vestirem o uniforme de Kosovo. Shaqiri e Xhaka, inclusive, se mostraram favoráveis em defender as cores de seu país natal. Repararam na bandeira azul e amarela que Shaqiri exibe orgulhoso ao lado da flâmula suíça na ilustração? O meia do Bayern faz questão de exaltar as suas origens e aparenta ser o mais proativo na criação de uma Seleção Kosovar. Já existe a preocupação dos torcedores suíços em perderem seus craques.

Independente da decisão dos três atletas, os jogadores sabem que o sucesso que eles têm feito no futebol é uma grande vitória para a nação kosovar, um país marcado pelas tragédias de um violento processo de independência. A alegria e a competitividade proporcionadas pelo futebol foram uma maneira de cicatrizar as feridas da guerra, bem como demonstrar a força e o poder de superação de uma nação que está deixando a tristeza no passado e lutando pela glória no futuro.

Não deixe de conferir o post a respeito da questão kosovar no parceiro Batom e Futebol, de onde colhi algumas informações para a elaboração desta resenha.

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