sexta-feira, 18 de abril de 2014

Por Mares Nunca Dantes Navegados

Imagem extraída de https://www.facebook.com/corinthians

O brasileiro não gosta de se arriscar. Prefere o conforto de um passado já trilhado a desbravar mares nunca dantes navegados.

Tal mentalidade fica muito evidante no futebol. Lembro-me que após o fracasso do binômio Parreira-Zagallo em 2006, o torcedor brasileiro pediu o retorno de Felipão, campeão da Copa de 2002, mas os dirigentes da CBF nomearam Dunga como comandante da Canarinho. Em 2010, após a eliminação para a Holanda, novamente o povo clamava por Felipão, mas os cartolas optaram por Muricy Ramalho (que também foi citado por torcedores mas recusou o cargo) e depois Mano Menezes. Poucos, no entanto, falavam em colocar sangue novo no comando da Seleção. Dizem as más línguas que até mesmo o grande Josep Guardiola aceitaria comandar o Escrete Canarinho.

A recente fase ruim do Corinthians também motivou o torcedor a se apegar ao seu passado. Tite mal foi demitido ao final de 2013 e já há corinthianos pedindo o seu retorno. Muitos provavelmente são os mesmos que pediram o retorno de Mano Menezes no ano passado e aplaudiram sua vinda ao fim da temporada passada. Ao mesmo tempo, vejo torcedores implorando pelo regresso de seu ídolos do passado, motivados pela contratação do velho conhecido Eilas (foto). Seria prudente trazer de volta também Herrera, Dentinho, Cristian ou André Santos?

Gosto do futebol de Elias e até imaginei seu retorno à Seleção após suas boas exibições no Flamengo em 2013. Mas o volante passou por dois clubes medianos na Europa (Atlético de Madrid e Sporting Lisboa) e também pela Canarinho (com a bênção de Mano Menezes) e não deixou saudades em nenhum dos três times. Acredito que ele vai recuperar a alegria de jogar bola pelo Timão e voltará a ter boas atuações em campo, mas ao mesmo tempo questiono o que acontecerá em caso de um fracasso. Faz quatro anos que o meio-campista viveu sua melhor fase e agora ele já tem quase 30 anos. Será que o tempo não passa também para um ídolo? Será que não estamos nos apegando em demasia a um passado glorioso e projetando uma expectativa exagerada em um atleta que não teve o mesmo brilho fora do Brasil?

Não prego o desapego ao passado. Tanto que sempre digo que devemos respeito e gratidão aos antigos ídolos, principalmente quando me refiro aos atletas que foram campeões nas Copas de 58, 62 e 70. Nunca devemos dar as costas ao passado.

O brasileiro, no entanto, tem pressa, quer resultados a curto prazo, não tem paciência para insistir em suas apostas quando elas não correspondem às suas expectativas. Ao mesmo tempo, ninguém gosta de correr riscos, mesmo que calculados: preferem buscar a solução em algum passado glorioso e, a partir dele, projetar um novo sucesso. Acreditam piamente que o que fez sucesso em algum passado fará sucesso também no futuro.

Progredir também significa romper com tradições, ousar e seguir novos caminhos. Navegar por mares nunca dantes navegados.

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