segunda-feira, 29 de julho de 2013

Sexo, Cigarros, Bebida e Internet

Imagem extraída de http://www.facebook.com/DFBTeam

A maioria dos torcedores e treinadores daqui do Brasil abomina atletas baladeiros. Jogador que frequenta noitadas é visto como "sem comprometimento com o time". Há, ainda, o temor que esse tipo de comportamento influencie de forma negativa os colegas do grupo. Não são raras histórias de atletas que foram punidos ou até mesmo ameaçados por apresentarem esse tipo de comportamento.

A importância fisiológica do sono ainda não está totalmente elucidada, mas sabe-se muito bem que nenhum atleta rende em campo se ele não tiver uma boa noite de sono. Drogas lícitas como o álcool e o tabaco também prejudicam o desempenho do jogador em muitos aspectos. Não podemos, portanto, tirar totalmente a razão dos torcedores e treinadores daqui.

Na contramão dessa mentalidade, há treinadores mais liberais, que permitem alguns "excessos" por parte dos atletas. E, por incrível que pareça, os times comandados por esses técnicos têm (ou tiveram) excelente rendimento em campo.

Joachim Löw, treinador da Alemanha, liberou o cigarro, o álcool e a internet aos seus comandados durante a Eurocopa 2012. O comandante da Mannschaft permitiu, ainda, a presença de mulheres nos locais onde os seus atletas ficariam concentrados. O time de Löw passou da primeira fase com 100% de aproveitamento, conseguiu chegar às semifinais (foi batido pela pragmática Itália) e, ainda por cima, apresentou um futebol magnífico em todos os aspectos. Os "professores" quadradões daqui do Brasil devem ter ficado de cabelos em pé com as histórias de Löw...

O mundo do futebol é muito competitivo. A pressão por resultados e a rivalidade intensa mantêm as partes envolvidas (jogador, comissão técnica e dirigentes) sob estresse constante. Löw, certamente, deve ter levado isso em conta quando permitiu tamanha liberdade a seus comandados, possibilitando que seus atletas relaxassem um pouco durante as concentrações. Quem acompanhou a Euro 2012 deve ter percebido o quanto a ideia de Jogi em nada prejudicou o desempenho do time. Provavelmente, até ajudou. Você deve ter lido no seu livro de auto-ajuda preferido que uma mente tranquila gera muito mais resultados que uma mente tensa.

Houve, ainda, quem se utilizasse das festas como incentivo para seus atletas. O Mestre Cruyff mantinha acordos com Romário em seus tempos de Barcelona: o Baixinho teria direito a dias de folga extras se o seu desempenho em campo fosse satisfatório. O Mestre declarou, ainda, que mantinha esse tipo de trato com outros atletas do elenco sem, contudo, revelar seus nomes.

Podemos tirar muitos aprendizados das atitudes de Jogi. Muitos treinadores daqui não parecem se lembrar de seus tempos de atletas -alguns deles sequer chutaram uma laranja na vida- e não aparentam falar a mesma língua de seus comandados. A pressão por resultados ou o medo de perder o emprego faz com que os "professores" deixem de investir na relação humana com os atletas, obrigando-os a abrir mão da família, dos amigos e da vida pessoal. Esquece-se de que os atletas também são seres humanos e que o futebol também é uma profissão e, portanto, é necessário que os profissionais tenham tempo de se recompor mentalmente e emocionalmente.

Os "professores" também se esquecem que os atletas são jovens e todos eles querem se divertir e curtir a transição da adolescência para a fase adulta. É necessário ensiná-los a ter responsabilidades profissionais mas, acima de tudo, compreender que eles querem apreciar a juventude.

Joachim Löw deve ter sido considerado "louco" por muitos aqui no Brasil. Eu o vejo como um gênio que teve ideias fora do lugar comum e elaborou soluções criativas para oferecer tranquilidade aos atletas e, com isso, melhorar o desempenho do time em campo.

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